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Qual é a música do Brasil?

Henrique Papatella - músico da banda Scarcéus

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Por Redação
Atualização:

Do ano de 2005 (talvez um pouco antes) até hoje, com as gravadoras falidas e os canais midiáticos do mercado musical sem as mamatas dos tempos das 'vacas gordas', surgem avassaladoramente os grandes escritórios e empresários do SEGMENTO POPULAR para 'adotar' esse dito mercado da música no Brasil!

 

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O Brasil, inegavelmente, evoluiu social e economicamente na última década, o que fez com que a histórica diferença entre ricos e pobres fosse atenuada. O que é louvável! De maneira resumida, se excluirmos 10% da população brasileira 'rica' (que vive uma realidade quase paralela, com outros anseios e oportunidades...) e 10% da população brasileira 'pobre' (cujo foco, infelizmente, se resume em sobreviver...) temos um público de 160 milhões de pessoas se 'esbarrando' por aí... Consumindo mais ou menos as mesmas coisas, indo a lugares que se equiparam, com expectativas semelhantes... Essa massificação tornou o Brasil mais homogêneo, mas fez com que o nível médio cultural geral diminuísse justamente numa época em que estilos até então ignorados pela classe média se tornassem a última MODA. Essa oportunidade não passou em branco para empresários e artistas 'populares' que, com uma estratégia agressiva e competente, conquistaram o coração e a mente da maioria absoluta da população brasileira.

 

Quem hoje for aos shows de primeira linha da música sertaneja, do axé, do pagode, do forró, assistirá a eventos de produção de nível internacional! Antigamente a qualidade 'estrutural' era premissa dos eventos de rock! Atualmente não. Gostem ou não, o segmento popular é hoje quem dá as cartas nesse business.

 

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Não adianta empunhar a guitarra com rancor e berrar ao microfone em shows de quermesse para meia dúzia de pessoas que 'o rock´n roll é que é inteligente' e quem sobrou é idiota. MENTIRA! Quem frequenta essas 'festas populares' atualmente são engenheiros, médicos, juízes, dentistas, formadores de opinião, os próprios artistas... As pessoas, de modo geral, querem se divertir, entreter-se! Hoje em dia, essas respeitáveis pessoas (não estou sendo irônico), após 'tomarem algumas', dançam o tal do 'arrocha' (um subgênero do forró misturado ao 'tecnobrega') sem o menor constrangimento. De certa forma, o Brasil se assumiu popular.

 

O Brasil, por sua pluralidade racial e cultural, merece SIM ser mais democrático musicalmente, pois nosso povo está propenso a gostar de qualquer coisa. Não apenas no sentido negativo de 'qualquer coisa', mas no fato de não ter preconceito em conhecer novas propostas musicais e artísticas. Mas isso tem que chegar ao público, senão... Quem se arrisca a dizer qual seria O SOM genuinamente brasileiro? Ou alguém acha que o país que gerou 'A Jovem Guarda' do Roberto Carlos, Raul Seixas, Os Mutantes, Renato Russo e sua 'Legião Urbana', Cazuza, Sepultura, Nação Zumbi, O Rappa e tantos outros grandes talentos dessa vertente musical, não pode ser considerado também o país do POP, do rock...

 

Nenhum estilo musical é superior ideológica e artisticamente a outro! O que existem são preferências! Mas preferências podem ser incitadas... Através da educação, da cultura, da diversidade, da MÍDIA...

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Talvez seja um exagero cobrar uma postura cultural mais inteligente de uma população que sempre viveu à margem num país que nunca se importou muito com os seus... Mesmo não querendo, a gente acaba falando de política. O 'gosto' da massa, por vezes sábio, às vezes duvidoso, é a vingança contra quem sempre lhe virou às costas.

 

O mercado musical muda de tempos em tempos, mas não devemos esperar mudanças drásticas. Estamos quase à espera de um milagre...

 

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