Pussy Riot: veredito dita o rumo dos próximos seis anos

Bolívar Torres - Especial para o Estado de S. Paulo

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Por Redação
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Como os artistas podem derrotar Putin? Ao ser questionado, o veterano compositor Vasily Shumov, 52 anos, é taxativo: "Não participar de nenhum evento do governo, como shows e exibições em rádio e TV. Recusar qualquer contato ou projetos com o regime. E, o mais importante: não aceitar dinheiro ou favores de Putin e sua junta."

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Resistir ao inesgotável e onipresente chefe de Estado virou o objetivo de vida de uma série de artistas russos contemporâneos. Muitos adotaram a música como forma de protesto, fazendo com que o ativismo tome conta das ruas e dos selos independentes.

Pioneiro do New Wave na Rússia nos anos 80, quando fundou a banda Center, Shumov acaba de lançar I Fell Good Vol. 1, um álbum conceitual que ataca os conformados com o atual regime. Segundo o compositor, a situação sob Putin é ainda mais perversa do que a época da extinta União Soviética.

"Pelo menos na URSS ninguém tinha ilusões ou expectativas em relação ao sistema político", diz o compositor. "Agora, as pessoas vendem sua alma por dinheiro e uma vida confortável, fazendo de conta que não veem a violência contra os ativistas de oposição."

Com medo de perder espaço na rede de TV estatal e também suas principais fontes de renda, como shows particulares para os novos multibilionários, os principais nomes do mainstream russo preferem não criar atritos com o Kremlin. A maioria sequer se manifestou sobre o caso Pussy Riot.

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"Embora não existam termos específicos habituais das ditaduras, apareceu um novo tipo de censura política durante a era Putin", conta Kirill Medvedev, da banda Arkady Cots Band. "Falo do Departamento de Polícia para a Prevenção de Atividades Extremistas, que conta com um orçamento enorme, e que se tornou a polícia ideológica deste período."

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O caminho para a contestação está relativamente aberto, como comprova o sucesso da banda DDT, uma das mais populares da Rússia, que protestou contra a eleição de Dimitri Medvedev em 2008. Ou ainda do jovem rapper Noize MC, que canta letras provocativas contra a corrupção.

Segundo Julien Nocetti, pesquisador do Instituto Francês de Relações Internacionais, a censura na Rússia atual permanece sutil. Mas, mesmo que não haja uma proibição direta, o governo faz de tudo para que os artistas mais contestadores permaneçam longe dos meios de comunicação de massa.

"Como todo regime autoritário durador, o governo de Putin morde e assopra", explica Nocetti. O especialista lembra que, durante o julgamento do Pussy Riot, Putin declarou que as meninas erraram, mas "não deveriam ser julgadas com muita severidade". "É um cálculo político típico dele, se mostrar duro e, ao mesmo tempo, colocar panos quentes. Mas o caso Pussy Riot veio para definir quais são os limites para a contestação. Seu veredito dita o rumo do governo Putin nos próximos seis anos."

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