Paul McCartney adere à era dos tributos

Bento Araújo - ESPECIAL PARA O ESTADO DE S. PAULO

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Por Redação
Atualização:

no ramo da música a palavra tributo vem ganhando conotação cada vez mais robusta. Bandas que antigamente homenageavam seus artistas favoritos hoje se sentem ofendidas ao serem chamadas meramente de banda cover.Em 2011 não se faz mais cover, se faz tributo.

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Mas será um mero tributo o que Paul McCartney anda tramando para o seu próximo disco com lançamento previsto para fevereiro? Com o respaldo do renomado produtor Tommy LiPuma e de Diana Krall e sua banda de apoio, Paul preparou uma curiosa jornada, a de revisitar composições de uma era pré-rock, temas executados pelo seu pai ao piano, que ele ouvia ainda quando era criança.

Em seu site, McCartney confessou que foi uma típica questão de "agora ou nunca" e que já vinha pensando nesse formato há 20 anos. Talvez nem tanto. Não teria essa ideia lhe ocorrido em 1999, quando lançou o ótimo Run Devil Run, álbum de releituras para clássicos, obscuros ou não, dos anos dourados do rock 'n' roll? Depois da morte de Linda, Paul sentiu necessidade de revisitar suas raízes musicais naquela altura.

Agora ele volta ainda mais no tempo, afinal de contas, é hora das canções que inspiraram muitos clássicos dos Beatles receberem o devido reconhecimento. Em seu site, McCartney escreveu: "Quando comecei a compor eu percebi o quanto essas canções eram bem estruturadas. Aprendi muito com elas e sempre achei muito cool artistas como Fred Astaire, assim como compositores como Harold Arlen e Cole Porter. Eu achava que essas músicas eram mágicas."

O novo álbum de McCartney, ainda sem nome, traz um fato inédito na carreira do músico. Pela primeira vez ele gravou apenas os vocais, abrindo mão de qualquer instrumento. Situação perfeita para o ardoroso fã do instrumentista bradar que isso colaborou para uma de suas melhores performances vocais.

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Claro que a melhor surpresa fica por conta dos dois novos temas de autoria de Paul, My Valentine e Only Our Hearts, trazendo respectivamente canjas de Eric Clapton e Stevie Wonder. My Valentine pintou no site de McCartney esta semana e traz o músico em tom soft/barítono, talvez em total referência a Nat King Cole.

Aliás, foi com a receita gerada pelos discos de Cole que foi construído, em 1956, o famoso Capitol Records Tower, QG da gravadora e primeiro prédio circular de escritórios do mundo; com arquitetura semelhante a de uma pilha de discos amontoados num prato de uma vitrola. É nesse famoso prédio, em Hollywood, que Macca gravou boa parte de seu novo trabalho, já que é ali que se encontram as legendárias salas de gravação da Capitol.

O delicado violão de Eric Clapton é outro destaque em My Valentine. Ele, um dos únicos músicos que gravou com os Beatles em estúdio (o outro foi o pianista Billy Preston), pode ter sido peça fundamental na direção do novo disco de McCartney. Clapton lançou no ano passado um álbum nos mesmos moldes, mesclando sons próprios com covers de caras como Irving Berlin, por exemplo.

 Foto: Estadão

A fórmula usada por Paul é manjada, mas vem surtindo muitos resultados ultimamente. Além de Clapton, outros medalhões do rock fizeram algo parecido recentemente. Robert Plant e Gregg Allman lançaram discos revisitando standards e obscuridades da era pré-rock, tudo sobre a tutela do produtor T-Bone Burnett.

Macca se defende, dizendo que foi importante manter distância de escolhas óbvias, assim, muitos dos standards são desconhecidos para algumas pessoas. "Espero que essas pessoas estejam prontas para uma surpresa agradável," conclui o baixista no seu site.

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Paul McCartney jura fugir do óbvio, mas ao mesmo tempo não deixa de fazer algo bem comum hoje em dia, um disco baseado em covers, ops, em tributos.

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