Paralamas do Sucesso retomam as armas

Lauro Lisboa Garcia

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Por Redação
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Há 25 anos Os Paralamas do Sucesso lançavam seu terceiro álbum, considerado uma "revolução" estética no rock brasileiro da época. Em seis sessões no Sesc Belenzinho, a partir de hoje, o trio formado por Herbert Vianna (guitarra e voz), Bi Ribeiro (baixo) e João Barone (bateria) reapresenta suas "armas" poderosas, tocando na íntegra o disco Selvagem? (1986).

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O produtor Liminha traz sua guitarra para as mesmas canções em que tocou no LP. Completando o conjunto, vem João Fera (teclados), que não participou das gravações, mas integrou-se ao grupo a partir da turnê de Selvagem?.

Desde que os shows foram anunciados, os fãs começaram a se agitar nas redes sociais em torno do evento e os ingressos para todas as noites se esgotaram em poucos minutos. A repercussão foi tamanha que a banda planeja levar o show para outras cidades. "A gente quer fazer um som bem parecido com o da gravação, com um pouco de percussão", diz Bi Ribeiro.

Animados com a retomada desse disco, Herbert, Bi e Barone receberam a reportagem do Estado na tarde de terça-feira, enquanto se preparavam para um ensaio com Liminha e Fera no estúdio de Barone no bairro do Jardim Botânico carioca.

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O produtor Pedro Ribeiro, o irmão de Bi, que aparece na inusitada capa de Selvagem?, também estava lá, como mais um integrante da trupe há anos. Até o cachorro Zion (que também atende por Feijão) teve sua cota de simpática participação no encontro.

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Não deixa de ter seu significado, já que o cão é preto e tem esse nome bíblico judeu ligado ao movimento rastafári, portanto ao reggae e a Bob Marley. A "revolução" sonora dos Paralamas foi justamente essa: trazer a negritude do tripé África-Jamaica-Bahia num disco de reggae e dub.

Eles vinham de um estrondoso sucesso de vendas do álbum O Passo do Lui e do consagrador show no Rock in Rio em 1985. Por isso, estranharam que o público tivesse dado um sumiço dos primeiros shows da turnê de Selvagem?. Afinal, a despeito do estranhamento inicial, o LP vendeu 100 mil exemplares na semana de lançamento.

Porém, daí para ganhar o disco de platina (por 750 mil cópias) não foram mais do que três meses - e o memorável show para 20 mil pessoas no bairro de Peri Peri, em Salvador, frequentado por gente da comunidade de Alagados, favela citada na célebre canção que abre o disco e que virou hino na Bahia na época.

Das nove canções, sete viraram hits - Alagados, Melô do Marinheiro, Teerã, Selvagem, A Novidade, O Homem, o remake de Você, de Tim Maia. Só There's a Party e A Dama e o Vagabundo foram menos tocadas e duas delas (Marinheiro e Teerã) ganharam versões dub.

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"Como o disco só tem 11 faixas, vamos fazer Selvagem? na íntegra e depois dar uma parada, trocar os instrumentos e fazer um complemento do show, com músicas da turnê atual", diz Bi. "Estamos pensando em inverter a ordem das faixas do disco, para encerrar com Alagados." Mas eles ainda iam decidir. "Inclusive, vamos falar um pouco como foi fazer cada música, fazer uma espécie de dissecação do disco. Esse é o grande barato desse show", diz Barone.

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"Espero que a gente consiga pegar aquele plano de vibração que fez com que a gente conseguisse expressar em trio aquelas ideias", diz Herbert. "Porque depois desse momento quando a gente começou a incorporar outros elementos na nossa música, isso tudo cria uma zona de conforto, de confiança. E quando você se vê desnudado disso, digamos, abre janelas que eventualmente, no meu caso, pode causar desconforto de falta de sustentação em termos harmônicos, mas, enfim, espero que a gente consiga aplicar aquela mordida original."

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Rock x MPB

Além das novidades sonoras, outra característica marcante do álbum são as letras de teor social e político na maioria. Até uma "bobagem", como diz Barone, como Melô do Marinheiro, toca de leve na questão da desigualdade social, abordada com lirismo contundente na letra de Gilberto Gil para A Novidade.

Havia uma rivalidade não explícita entre roqueiros e o pessoal da MPB e os Paralamas quebraram essa barreira. "Quando a gente veio com esse disco, não chegou a morder o público de MPB, mas fomos vistos como 'traidores do movimento' por trazer a música brasileira para dentro do rock", diz Bi.

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 Foto: Estadão

Não fosse algo inédito. Como lembra Barone, Raul Seixas, Alceu Valença, Mutantes e Novos Baianos já tinham feito investidas semelhantes, que Los Hermanos retomariam nos anos 2000. "Tudo o que colhemos hoje do Selvagem? são resíduos do que a gente fez na época. Se tinha algo que queríamos fazer com um certo arroubo, era exatamente mexer com esse 'sagrado', porque a nossa gravadora devia estar esperando Óculos 2, Meu Erro 2, e Herbert teve essa visão de ir contra isso", diz Barone.

Para Bi foi simplesmente continuar o que eles já vinham fazendo: "Sempre partir para uma coisa diferente, evoluindo." Duas canções de O Passo do Lui (1984) são consideradas por Barone como células que evoluíram para eles fazerem Selvagem?: Assaltaram a Gramática ("que é um exercício de reggae, que já apontava essa mistura que a gente fez no Selvagem?") e Menino e Menina, "em que Herbert já brinca com essa sonoridade afro na guitarra". Os álbuns de estúdio seguintes, Bora-Bora (1988) e Big Bang (1989), são consequências disso tudo.

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