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O rap e metal não quiseram salvar o mundo do lixo atual que é o rhythm and blues

Marcelo Moreira

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Por Redação
Atualização:

Três moleques judeus novaiorquinos fanáticos pelo então incipiente hip hop urbano resolvem subverter a ordem musical de um mercado que começava a ficar saturado por bandas de hard rock entupidas de maquiagem e excessos de todos os tipos em suas músicas.

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"Fight for Your Right" e "No Sleep Til Brooklyn" sacudiram o mundo roqueiro naquele ano de 1986 e colocaram no mapa os nomes dos Beastie Boys. O álbum, "Licensed to Ill", é essencialmente de hip hop, mas trazia algumas boas ideias, como as guitarras pesadas e fortes das duas músicas citadas.

No mesmo ano, o trio de rap/hip hop Run DMC resgatava da lama o Aerosmith, que ensaiava uma volta desde o ano anterior com a sua formação original e clássica - os guitarristas Joe Perry e Brad Whitford voltaram após seis anos de ausência no álbum fraquinho "Done With Mirrors", de 1985.

A versão de "Walk this Way" do grupo de hip hop contou com a participação de Perry e do vocalista Steven Tyler e, surpreendentemente, ficou boa. Estourou e recolocou o Aerosmith nos trilhos, além de catapultar o Run DMC nas paradas.

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Os dois exemplos mostravam há 25 anos que era possível uma convivência prolífica entre os dois gêneros, que poderia resultar em trabalhos interessantes e colaborações inusitadas, por mais que isso irritasse os puristas de ambos lados.

Só as resistências mercadológicas e ideológicas foram mais fortes e minaram as possíveis colaborações. Houve uma tímida tentativa com o surgimento do Faith No More no final dos anos 80 no metal, uma trilha sonora bem bacana de um filme fraco ("Judgement Night", ou "Uma Jogada do Destino, em português, de 1994), juntando astros do rap e do metal e nada mais de muito estimulante.

O resultado é que duas décadas e meia depois temos uma parada de sucessos em que frequentemente aparecem no topo uma versão porca e pobre de música pop, que se convencionou chamar de rhythm and blues - e aí cabem todos os lixos possíveis de um certo rap/hip hop descartável e de baixíssima qualidade, como Beyoncé, Rihanna, Cee-Lo e coisas do gênero.

Será que não teríamos algo mais decente e mais audível se as experiências que juntassem rap e metal fossem adiante? De quem foi a culpa para que tais iniciativas fossem abortadas?

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Não dá para cravar que Beastie Boys e Run DMC anteviram um futuro de qualidade um pouco melhor em 1986, mas o fato é que as duas bandas abandonaram as iniciativas de juntar rock e hip hop.

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O Faith No More, por sua vez, viu seu talento e sua inspiração escorrerem pelo ralo a partir de "Angel Dust", álbum de 1992. E Ice-T, um dos nomes de peso do rap nos anos 90, criou o ótimo Body Count, projeto de heavy metal tradicional com toques de hip hop que teve bons momentos com seus dois primeiros CDs. Pena que em seguida o raper tomou gosto pelo cinema e tenha decidido se tornar ator profissional, fazendo da música um hobby.

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Nunca foi fã de rap ou hip hop. Sempre os considerei mais uma manifestação cultural de enorme valor, mas musicalmente, ao menos para mim, era irrelevante, seja porque a música era pobre e repetitiva , seja porque as letras, no começo, apostaram muito mais na "guetificação" e na "glorificação" crime.

Beastie Boys, Run DMC e Ice-T me fizeram observar a questão por outro ângulo, ainda não o suficiente para me levar a comprar um CD de rap ou hip hop - acho que jamais comprarei.

Mas é inegável que o gênero tem qualidades que poderiam bem ser fundidas ao rock e ao metal - e vice-versa - para mostrar que a colaboração era possível e até desejada.

Com certeza seria a melhor maneira de ter evitado, quem sabe no nascimento, o surgimento do que hoje se chama rhythm and blues - o nome designa outra coisa, remetendo diretamente à soul music e ao som negro dos nos 60 e 70 da melhor qualidade. Foi apropriado indevidamente por um "gênero" que "cria" uma "música" insuportável, de baixíssima qualidade, que empesteia o mundo.

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