O que vale a pena no SWU 2011

Roberto Nascimento

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Por Redação
Atualização:

O SWU encerra, neste fim de semana, o segundo ciclo da era dos mega festivais brasileiros. Em termos de quantidade, o saldo é positivo. O Brasil está mais presente no circuito internacional de shows. Fãs de todos os cantos do País contam sossegados com um cota de nomes atraentes para assistir. Mas a rentabilidade destes eventos é inversamente proporcional à ousadia cultural de suas programações.

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O que vemos, repetidamente, é um abismo entre o pop de FM e a naftalina do rock consagrado, os dois nichos mais seguros quando se trata de vendas de ingressos.

Em outras palavras, é garantida a presença de uma diva da Billboard, assim como a de sua banda favorita (cujo líder ainda não se matou com um tiro de espingarda) dos anos 90 (vide Hole, Stone Temple Pilots, Faith No More e Alice in Chains, todas no cardápio do SWU). Mas o vácuo entre estes extremos, o espaço para as novidades, para os nomes hypados, para os veteranos que ainda produzem música notável, é mal preenchido.

Em 2010, o SWU teve excelentes shows de consagrados, como Rage Against the Machine, Queens of the Stone Age, Yo La Tengo e Pixies. Mas em 2011 isto foi trocado pela nostalgia do grunge, um museus do rock de relevância questionável. É logicamente necessário trazer blockbusters como Black Eyed Peas e Shakira a festivais deste porte. Mas, no front moderno, uma curadoria mais perspicaz não é um desejo utópico.

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 Foto: Estadão

The Kills acaba de fazer um excelente show em São Paulo; assim como Warpaint e Cut Copy: nomes que atraem um público reduzido, mas que dariam uma legitimidade contemporânea bem maior aos parques de diversão de Eduardo Fischer e Roberto Medina - por mais cheios de promessas eco sustentáveis e sonhos coloridos de rock and roll que estes sejam.

Quem sofre com a situação é o público de 20 a 40 interessado em novidades. um nicho que certamente não preenche uma arena de 50 mil pessoas, mas que compareceria em maiores números fosse a curadoria mais pertinente. Para estes, o preço de um ingresso para um show único no Circo Voador ou no Baixo Augusta é muitas vezes salgado, mas quando surge a oportunidade de ver várias bandas em um dia só de festival, por quase o mesmo preço, o marasmo da programação desanima.

Enquanto isso, o SWU lota o line up d e sub produtos pouco conhecidos, como Michael Franti, Ghostland Observatory, Bag Raiders. Is Tropical (entre outros) e lastimáveis cópias nacionais de rock americano, como Apolonio, Cruz e Sabonetes.

Mesmo assim, quem vai a Paulínia em busca de frescor artístico tem alguns motivos para não vender o ingresso a um cambista - a começar hoje, pelo show de Kanye West, o ególatra mais brilhante da pop music.

É fato que o rapper e produtor é metido a besta, que ninguém aguenta suas declarações narcisistas ("Se Deus tivesse um iPod, ele ouviria minha música"), que seu twitter é uma carta de amor ao materialismo. Mas a genialidade de seus hits, de Jesus Walks, Gold Digger e Love Lockdown à recente All of the Lights, é incontestável. Trata-se de um dos pilares do hip hop e do pop dos anos 2000.

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Kanye chega ao Brasil um ano depois de lançar seu controverso My Beautiful Dark Twisted Fantasy, disco que recebeu notas altas de todos os lados da crítica internacional. É, no mínimo, um show a ser conferido.

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No mesmo dia, apresentam-se outras figuras do hip hop, como o Snoop Dogg e Damian Marley, caçula de Bob que tem se apresentado com o lendário rapper Nas. O hype fica por conta do coletivo Odd Future Wolfgang Kill Them All. Liderado pelo polêmico Tyler, the Creator, o bando de punks ganhou atenção no ano passado com uma penca de álbuns de todos os integrantes.

Na vertente mais clássica, os blueseiros Derek Trucks e Susan Tedeschi têm feito shows arrebatadores. E os papas do rock sulista, Lynyrd Skynyrd tocam no Brasil pela primeira vez. Black Rebel Motorcycle Club arrepia.

Os mestres a serem vistos são Lee Ranaldo, Kim Gordon e Thurston Moore, do Sonic Youth, que chega ao Brasil sob a expectativa de fazerem um de seus últimos shows (se não o último). Gordon e Moore acabam de se separar e não é claro o quanto uma das bandas experimentais mais consistentemente influentes e vanguardistas de todos os tempos vai durar.

No mais, os veteranos trovadores indie do Modest Mouse merecem respeito. O bom electro pop do Crystal Castles anima o último dia do festival. !!! (chk, chk, chk) pode embalar com seu disco punk no domingo. Mas a banda desconhecida mais promissora chama-se Black Angels. O grupo faz psicodelia escura e dopada, o tipo de som que, se feito bem, cai como uma luva na programação de um mega festival.

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