O foguete do Black Keys

Pedro Antunes

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

Em julho, o duo The Black Keys fez uma participação no The Colbert Report, do canal Comedy Central. E o comediante Stephen Colbert mal conseguia se conter. "No ano passado, vocês eram o barbudo (Dan Auerbach, vocalista e guitarrista) e o cara de óculos (o baterista Patrick Carney) que tocam rock'n'roll. Agora vocês são o The Black Keys! Três prêmios Grammy. Tudo o que vocês fazem agora é demais. É como se vocês estivessem numa espaçonave rumo à Lua."

PUBLICIDADE

Ainda era exagero. Era preciso o sétimo álbum de Auerbach Carney, El Camino, sucessor do estrondoso Brothers. Veio 6 de dezembro e o disco foi direto para o segundo lugar na Billboard americana. Em duas semanas, 300 mil cópias vendidas.

Depois, no anúncio do line up do Coachella, megafestival realizado na Califórnia, eles figuram lá no alto, como a atração para fechar a primeira noite. Por fim, eles são capa da edição de janeiro da Rolling Stone, como uma "máquina supercarregada de batidas". Para se ter a dimensão do tamanho da banda, hoje, eles escolheram o Arctic Monkeys para os shows de abertura na turnê norte-americana.

El Camino, o nome do disco, representa tudo o que passou o Black Keys, mas veio sem querer. Em entrevista ao Estado, Auerbach contou que o nome foi escolhido a esmo, quando ele e Carney cruzaram com um Chevrolet El Camino pela estrada. "Depois, vimos que tinha algum sentido. Algo que representa a nossa trajetória."

O caminho foi duro e sinuoso, na base de shows e de discos inventivos. Mais um mérito para a dupla, pois por mais que cada álbum traga uma nova sonoridade, uma nova experimentação, a voz de Auerbach, rouca e doce, sua guitarra com riffs de blues em meio a acordes de punk, e as porradas na bateria de Carney estão sempre ali.

Publicidade

 Foto: Estadão

O rock'n'roll puro, mas embebido por outras sonoridades que cruzam o caminho da dupla. Auerbach conta que a cada álbum, as músicas vão nascendo de forma espontânea. "Tudo é muito variável, na verdade. Reflete o que estamos comendo, em que carro estamos andando, o que estamos escutando", diz.

El Camino foi gravado em 41 dias, mas as estadas no estúdio foram interrompidas pelas turnês. "Ficávamos quatro ou cinco dias gravando, e depois tínhamos que ir fazer show. Foi algo bastante cansativo", lembra o vocalista.

Apesar de ser grande apreciador da sonoridade dos vinis ("por melhor que seja a masterização de um CD, nunca vai soar como um bom vinil, não é?"), Auerbach não dispensa seu iPod durante as viagens: "Então, para El Camino, ouvi muito rock dos anos 60, andei em carro dos anos 80, acho que isso resume bem como estamos tocando agora: é um rock'n'roll clássico, sem viagens psicodélicas ou estranhas. É só guitarra e bateria".

Nem mesmo a produção de Brian "Danger Mouse" Burton, dado a experimentações e batidinhas pop, alterou a pegada roqueira do disco. "As gravações foram demais. Acho que nós três aprendemos muito desde quanto trabalhamos juntos (no disco 'Attack & Release', de 2008, e no hit premiado 'Tighten Up'). Quando se pensa nele, vem a imagem de um rato de estúdio, cheio de truques. Mas decidimos que não teria nada disso, só iríamos tocar", explica Auerbach.

Apesar da euforia com o lançamento de El Camino, a dupla não quis que o álbum ficasse disponível para audição em streaming em outros sites. "Isso é um roubo, sabia? As gravadoras recebem, mas nós, músicos, não", disse, brevemente, antes de atacar o dono do Megaupload, Kim Schmitz, preso semana passada. "Pensa em quantos discos deixaram de ser vendidos por causa dele. Ele ficou rico. É justo?"

Publicidade

Por fim, Auerbach conta que anseia por vir ao Brasil. "Estava tudo acertado para tocarmos no primeiro semestre, mas tivemos problemas de agenda. Mas nos vemos no segundo, sem falta." Enfim, o The Black Keys chegou ao topo do mundo. E Colbert não poderia estar mais certo.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.