O auge de Madeleine Peyroux

Emanuel Bomfim - Território Eldorado

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Por Redação
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Em Careless Love (2004), seu álbum mais celebrado, Madeleine Peyroux era só intérprete. A inevitável comparação com Billie Holiday emprestava uma aura de diva que ela pouco se mostrava disposta a assumir.

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Assim, fugiu do jazz mais ortodoxo, abraçou o folk e o principal: se descobriu compositora, de versos delicados e histórias quase sempre românticas. Neste período, lançou Half The Perfect World (2006) e Bare Bones (2009).

PARA DEGUSTAR:Ouça a faixa"Martha My Dear":

OuvirPlaylist O caminho autoral pouco afetou o nível de excelência e refinamento de sua música, apoiado numa banda acústica e de apurado senso jazzístico. Ainda assim, pesava sobre Peyroux o risco do "mais-do-mesmo", a perigosa acomodação sobre uma fórmula que funciona, mas que já não impressiona tanto assim.

Em seu novo e recém lançado álbum, Standing on the Rooftop, a artista americana parece disposta a "sujar" a própria reputação. Não pense que se converteu para o rock ou algo parecido, mas já dá para perceber um som menos soft, que agrega riffs de guitarra e o baixo funkeado de Meshell Ndegeocello. Na produção, saiu de cena o parceiro de longa data Larry Klein para dar vez ao experiente Craig Street, conhecido pelo trabalho com Cassandra Wilson e k.d. lang.

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No repertório, além das próprias canções, ela mostra mais uma vez que é infalível na escolha das regravações, com Bob Dylan (I Threw It All Away), Beatles (Martha Dear) e Robert Johnson (Love in Vain). O clima como um todo é soturno, mais propenso a divagações e arranjos pouco convencionais.

The Kind You Can't Afford, escrita com Bill Wyman do Rolling Stones, tem levada blues e vocal invocado. A faixa título Standing on the Rooftop, é impressionista, tensa. Poucas são ensolaradas, mas The Way of All Things é uma das que conseguem arrancar sorriso fácil.

Consagração nunca foi um problema para Madeleine Peyroux, mas Standing on the Rooftop parece representar o auge de sua carreira. Inventivo na estética e no conteúdo, a cantora parece ter encontrado o tom certo de uma produção instigante.

 

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