Nenhuma cantora brasileira consegue chegar aos pés de Adele

Marcelo Moreira

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Por Redação
Atualização:

Festas de final de ano regadas a músicas natalinas e hits do momento - os piores que existem. Não dá para fugir desta sina. Rock no som? Só se for no iPod ou no MP4, com fones de ouvido e em local isolado.

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Para cada música de Jeff Beck ou Eric Clapton que eu consegui ouvir, era oito ou nove de porcarias sertanejas e uma ou outra dessas milhares cantoras que infestam a atual MPB - algumas razoáveis, outras desnecessárias e algumas totalmente descartáveis.

Tive o infortúnio de ouvir CDs inteiros de Maria Gadú ("Mais Uma Página", o mais recente) e Marisa Monte ("O Que Você Quer Saber de Verdade"), além de alguma coisa esparsa de Ana Cañas, Marina de La Riva, Karina Buhr, Juliana Kehl, Céu e outras mais - só uma dose maciça do thrash metal do Exodus para me desintoxicar depois...

Já no ano novo, ficou a constatação: nenhuma cantora brasileira da atualidade chega aos pés da qualidade musical e da versatilidade de uma artista como a inglesa Adele - em termos de repertório, então, aí é covardia.

Enquanto a legião de brasileiras fica na mesmice, repisando clichês esclerosados e chafurdando na falta de ousadia, a inglesa dá um banho de interpretação e de inteligência na escolha do repertório - que nem é assim lá essas coisas, mas é milhões de vezes superior a qualquer coisa que as meninas brasileiras tenham feito nos últimos dez anos. No máximo o primeiro CD de Marisa Monte, gravado lá nos anos 80, consiga ombrear "21", o mais recente de estúdio de Adele.

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E o pior é que a nova estrela da música britânica passa longe de ser o que de melhor a música do Reino Unido está produzindo. Está estourando em todas as paradas, mas é claramente uma artista superestimadas, que ainda precisa percorrer quilômetros e quilômetros para ganhar a respeitabilidade que uma Amy Winehouse, por exemplo, conquistou em tempo tão curto.

O lançamento mais recente de Adele, o CD/DVD "Live at Royal Albert Hall", mostra que a moça tem uma voz muito boa, esforça-se bastante para interpretar com emoção suas canções e mostra versatilidade que inexiste em terras brasileiras e norte-americanas entre as cantoras da atualidade.

Ela passeia com desenvoltura pelo jazz, pelo folk e pelo blues, e até que consegue se virar em algumas cações mais rápidas, quase rocks, embora derrape na sua especialidade, a mais pura música pop açucarada. O pacote até que não incomoda, e tem alguns momentos interessantes quando o jazz e o blues predominam.

Pois é dessa cantora inglesa, que atualmente é bem inferior a artistas como Imelda May, Beth Hart ou Imogen Heap, que as brasileiras tomam uma surra feia. A comparação de Adele com qualquer uma citada no início do texto chega a ser constrangedora.

A inglesa se mostra à vontade em vários estilos e é muito superior em interpretação - sem falar na espontaneidade. Beth Hart, Imelda May, Doro Pesch? Se as brasileiras as ouvissem, teriam obrigatoriamente de mudar de profissão.

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Portanto, fazem sentido todas as críticas feitas até agora ao novo álbum de Marisa Monte, onde a pancada mais leve versava sobre a estagnação criativa e a falta de ousadia. Eu iria bem mais longe, mas faço o possível para evitar a MPB, que 99% das vezes me irrita profundamente.

O fato é que ouvir Adele por uma tarde não chega a ser torturante. Não chega a ser um fardo. Ouvir qualquer cantora brasileira que tem se destacado nos últimos dez anos é penoso, é um castigo que não desejo a nenhuma pessoa de bom gosto - muito menos a roqueiros de bom gosto.

Quem diria que um dia uma cantora apenas ok, como Adele, colocaria no bolso toda uma legião de brasileiras com pouca voz e talento escasso na composição - fato inversamente proporcional à pretensão artística delas?

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