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Mister Soul: uma caixa maravilhosa para Sam Cooke

Lauro Lisboa Garcia

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Por Redação
Atualização:

Sam Cooke (1931-1964) deixou um dos legados musicais mais importantes e influentes, como cantor e compositor, apesar da carreira abreviada pela morte precoce - assassinado por uma mulher num motel aos 33 anos. No entanto, parte significativa de sua discografia permanecia inédita em CD: justamente os álbuns que gravou na fase de maior sucesso, no início dos anos 1960, pela RCA, e que viraram raridades.

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 Os discos desse período finalmente saem em formato digital, com as capas originais, à venda somente no clube virtual Popmarket, criado pela Sony Music.

Dos oito títulos reunidos no box The RCA Albums Collection, cinco saem pela primeira vez em CD: Cooke's Tour (1960), Swing Low e My Kind of Blues (ambos de 1961), Twistin' the Night Away (1962) e Mr. Soul (1963). A caixa inclui também Hits of the 50's (1960), antes lançado em CD só na Europa.

Inexplicavelmente, outro inédito nesse formato, Shake (1965), ficou fora da caixa. Poderia estar no lugar de Night Beat (1964) ou do póstumo One Night Stand! Live at the Harlem Square Club, 1963 - registro antológico de um de seus últimos shows que só veio a público em 1985 -, já que ambos são permanentemente mantidos em catálogo, bem como Sam Cooke at the Copa e Ain't That Good News, os dois também de 1964.

Apelidado Mr. Soul a partir do lançamento do álbum de 1963, Cooke também é conhecido como "o homem que inventou o soul". Obviamente não foi o único, mas o mais romântico e um dos pioneiros, ao lado do não menos genial Ray Charles e outras grandes vozes negras enraizadas na gospel music.

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De timbre envolvente e grande extensão vocal, Cooke, em sua condição de crooner elegante à moda de Nat King Cole, era o contraponto aveludado à aspereza do rhythm'n' blues de Charles.

 Foto: Estadão

 Ambos têm papel fundamental na formação de outros ícones da soul music, como Marvin Gaye, Al Green, Aretha Franklin, Stevie Wonder e tudo o que surgiu a partir deles e além. O roqueiro Rod Stewart é um dos que mais constantemente reafirmam a influência de Cooke. Mais recentemente foi Amy Winehouse quem o buscou e o iluminou para sua geração, cantando Cupid.

Tema histórico. Uma de suas últimas composições, das mais pungentes e emblemáticas, A Change Is Gonna Come tornou-se hino de momentos históricos para a causa negra americana e mundial.

Foi a canção tocada no enterro do ativista Malcolm X (depois usada no filme de Spike Lee sobre ele) e a que deu suporte à candidatura de Barack Obama à presidência dos Estados Unidos, em 2008.

Ao vencer a eleição, Obama citou versos da canção para simbolizar o significado de uma mudança por tanto tempo esperada. Bettye LaVette e Jon Bon Jovi a interpretaram na memorável cerimônia de posse.

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Motivada por Blowin' in the Wind, de Bob Dylan, reinterpretada em discos e shows inúmeras vezes por uma infinidade de cantores e bandas, A Change Is Gonna Come foi gravada pelo autor em 1963 e lançada no ano seguinte, logo depois de sua morte, no álbum Shake. É uma de suas canções mais bem-sucedidas, ao lado de You Send Me, Cupid, Wonderful World, Chain Gang, Twistin' the Night Away, Nothing Can Change This Love e Bring It on Home.

  Foto: Estadão

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A maioria está presente no disco ao vivo lançado postumamente, mas os demais CDs do box da RCA trazem outras curiosidades que ligam Cooke a suas referências musicais: blues, jazz, gospel e rhythm'n'blues.

Em Cooke's Tour ele ultrapassa os limites, cantando um repertório meio esquisito de "volta ao mundo" típico da época (aqui até Maysa fez isso), com referências caribenhas, europeias, orientais e até ao Brasil (The Coffee Song). A beleza de sua interpretação supera a irregularidade do repertório e dos arranjos cheios de clichês.

De volta às raízes. Lançado no mesmo 1960, Hits of the 50's é retrô, ultracool e um dos mais românticos da coleção. Ao estilo suave e sensual de Nat King Cole e Julie London, grandes ídolos da época, Cooke, que já tinha feito um tributo a Billie Holiday em 1959, interpreta clássicos como Mona Lisa, Unchained Melody, Too Young e The Great Pretender.

Antes da carreira solo, Cooke gravou discos de gospel com o grupo vocal The Soul Stirrers. O belo Swing Low fez ligação com essas raízes espirituais e também com o folk, em canções ancestrais como Swing Low, Sweet Chariot, Pray e They Call the Wind Maria. Além disso, trouxe as novidades autorais Chain Gang, If I Had You e You Belong to Me.

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My Kind of Blues é outro passo para trás, mais uma vez com tratamento luxuoso em arranjos orquestrais de jazz e blues e interpretações prazerosas para raridades de Duke Ellington, Rodgers & Hart, George & Ira Gershwin, Irving Berlin e outros do mesmo quilate. É um dos tesouros escondidos de sua discografia.

A onda do twist move Twistin' the Night Away, o mais dançante de seus álbuns, com canções com a faixa-título, Sugar Dumping, Somebody Have Mercy, Soothe Me e That's It - I Quit- I'm Movin' on.

De volta ao romantismo dos anos 1950, Mr. Soul é um disco em que Cooke vai mais fundo nas baladas, recriando lindamente hits como Willow Weep for Me, All the Way, Cry Me a River, For Sentimental Reasons e These Foolish Things, e ainda lançando outro clássico autoral: Nothing Can Change This Love. Foi assim que ele mudou muita coisa para a grande cultura pop afro-americana.

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