Led Zeppelin: quando os gigantes pisavam na Terra

Rafael Fernandes -site Geek Musical

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Por Redação
Atualização:

1) É feito por um fã: Isso é um ponto positivo e negativo. O lado bom é que dá para notar o grande interesse e admiração do autor pela banda. Melhor alguém que mergulhe fundo no mundo do grupo a um detrator que tente desancar seu legado. O lado ruim está mais abaixo.

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2) É uma boa introdução à história banda: É baseado em várias referências bibliográficas (listadas nas páginas finais) e em entrevistas que o autor fez com membros, funcionários e conhecidos do Led. Portanto, o livro é eficaz ao fazer um panorama da carreira do grupo. Estão lá sua formação, ascensão, queda e dissolução; discos, shows e bastidores. Também mostra a importância de Peter Grant, seu lendário e polêmico empresário.

3) Não se furta de falar dos excessos dos anos 70: Por ser feito por um fã, havia o risco de muitas passagens serem amenizadas. Mas, não: Mick Wall escancara o comportamento errante, excessivo e arrogante que os membros do grupo e seus assessores faziam questão de evidenciar durante seu auge. O autor não esconde: nos anos 70, os membros do Led Zeppelin eram bastante desagradáveis.

4) É claro e direto ao falar dos plágios dos quais o Led Zeppelin é acusado: Aqui, em alguns momentos o autor tenta minimizar tais acusações, contextualizando o uso das músicas. Mas, justiça seja feita, ele lista uma por uma as canções do grupo que foram acusadas de roubar ideias alheias, incluindo citação das músicas que "inspiraram" tais criações.

Agora, os problemas:

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1) É excessivamente pessoal: Por ser um fã (ver acima), Mick Wall opta por um caminho arriscado: de tornar a abordagem pessoal demais, inclusive usando apelidos para se referir aos músicos. Em vários momentos coloca suas opiniões misturadas com os fatos. Tudo isso pode comprometer a credibilidade do livro, ainda que haja honestidade. E, por esse motivo, fica a impressão de que é um livro de Mick Wall sobre a banda, e não um livro sobre o Led Zeppelin.

2) Usa linguagem até certo ponto grosseira: Por ser tão pessoal, o autor comete outro equívoco: muitas vezes abusa da linguagem coloquial, com diversos momentos deselegantes. Foi uma escolha sua e tem a ver com a proposta do livro. Mas também pode gerar dúvidas em relação à seriedade do projeto.

3) Muito focado em Jimmy Page: A começar pela capa com foto apenas do guitarrista. Sim, foi ele quem montou a banda e era seu líder. Mas um livro com o título destacando "Led Zeppelin", fica estranho com uma capa apenas com Jimmy Page. É um indicativo de que o livro parte de uma tese pré estabelecida. Além disso, há muita ênfase nas ideias e opiniões de Page em detrimento aos outros membros. O guitarrista pode ter sido o mentor, mas a banda não seria esse fenômeno sem Robert Plant, John Bonham e John Paul Jones.

4) Excesso de atenção ao ocultismo e a Aleister Crowley: Uma decorrência do excesso de foco em Page é a demasiada atenção a seu interesse no ocultismo, em especial às teorias de Aleister Crowley. É inegável que esse lado de Page deve ser mencionado. Mas o livro exagera, com várias citações ao tema, incluindo um infame capítulo inteiro sobre o assunto. Até parece que o autor é um entusiasta dessas ideias, tentando seduzir o leitor em favor das teorias do ocultismo. Não faz sentido e ainda quebra a linha cronológica dos capítulos - um balde de água fria no leitor.

5) O maior problema do livro: opção desastrosa por flashbacks fictícios: Em todos os capítulos há "flashbacks fictícios". Sim, isso mesmo: o autor pega alguns fatos sobre um dos personagens e supõe o que tal personagem estaria pensando e sentindo naquele momento. De novo: depõe contra a legitimidade do livro. São apenas fantasias da mente do escritor, mas se misturam a um texto com tom factual. Confunde a leitura e induz o leitor a caminhos e conclusões não necessariamente reais. Além disso, outra consequência grave: corta o fluxo natural do livro - em especial no final. Em diversos momentos o assunto engrena, nos empolgamos com as histórias e vem um devaneio desse cortar o ritmo da leitura.

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6) Histórico duvidoso do autor: Mick Wall, apesar de ter longa carreira como jornalista de rock, ganhou destaque com uma infame biografia não autorizada sobre Axl Rose. O problema de tal lançamento é que ele partiu de uma tese anti-Axl e procurou os fatos - muitas vezes rumores - que comprovassem a tese. Fica sempre a pulga atrás da orelha: Mick Wall sempre faz isso ou foi só com Axl Rose?

No balanço, o livro acaba sendo apenas médio: apesar de ter bons momentos, os pontos negativos influem demais na qualidade da narrativa. Se fosse mais focado na história e menos nos anseios do autor, se tornaria uma boa introdução à história do Led Zeppelin. Com essas escolhas, acaba sendo uma publicação dispersa. E certamente é um livro muito básico para quem já conhece a história do grupo. Portanto, vale a ressalva: caso opte por ler o livro, tenha em mente que a visão de Mick Wall sobre o Led Zeppelin vem antes do compromisso com os fatos.

 

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