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Kevin Johansen, o milongueiro do rock

Emanuel Bomfim e Paulina Chamorro

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Por Redação
Atualização:

No mundo globalizado, nacionalidade é mero formalismo. Kevin Johansen, pelos acasos da vida, se formou como um desses cidadãos com muitas pátrias e línguas. Filho de mãe argentina e pai americano, nasceu na gélida Fairbanks, no Alasca, mas passou a infância na ensolarada São Francisco.

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Veio para Buenos Aires na adolescência e passou a juventude em Nova York, onde definiu seu estilo de cantar e tocar - um folk rock temperado pela latinidade, da cumbia flamenca, da milonga e até da bossa brasileira.

Chegou a morar em Montevidéu, mas decidiu se firmar na Argentina, onde formou família e lançou quatro bons discos, além de constituir parcerias com artistas de toda a América, em especial do Brasil. É amigo de Moska, por quem conheceu Jorge Drexler, outro desses "andarilhos" destinados a projetar a música de fala hispânica pelo planeta.

Dias 24 e 25, no Sesc Pompeia, o autor cosmopolita desembarca aqui com sua banda The Nada para um show de apelo audiovisual. Enquanto toca, o cartunista Liniers projeta desenhos e ilustrações num telão. "É um espetáculo dinâmico. Teve reação muito positiva na Espanha, Inglaterra e na América Latina", diz o cantor de voz encorpada ao Estado.

A improvável aproximação com a linguagem dos quadrinhos não foi ideia sua. "Eu e Liniers temos uma afinidade estética, mas nunca pensamos em fazer algo. Foi uma pessoa em comum que sugeriu o projeto há alguns anos e acabou dando certo", conta o artista, fã confesso de Caetano Veloso, com quem já pode estar lado a lado. "Fui convidado por Paulinho (Moska) para tocar no Rio e em São Paulo e numa noite, ele estava presente e convidou a gente para comer umas pizzas! Para mim, era como ir a Nova York e se encontrar com Bob Dylan."

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Espécie de cicerone dos artistas latino-americanos por aqui, Moska vê na obra do argentino uma "alma brasileira". "Ele é muito parecido com a gente: bem-humorado e hábil com as palavras quando escreve suas lindas e divertidas canções", descreve o cantor, que já realizou em solo nacional diversos festivais para fortalecer esse encontro entre 'cantautores' sul-americanos e brasileiros.

"O Brasil é um país que naturalmente convive com a própria diferença cultural. Por que não fazer isso também com os países latinos? Acho que isso é dever nosso. Pelo poder de abrangência do nosso abraço."

Assim como o amigo brasileiro, Kevin também é um agitador cultural. Promove em Buenos Aires o festival Vecinal, com intuito de levar bandas e artistas que estão em alta nos países da América Latina. Na semana passada, se apresentou com o chileno Chico Trujillo. Para ele, os jovens de hoje estão mais preparados para absorver uma música que pode ser dançante e reflexiva ao mesmo tempo. "Na minha época, a gente pensava: 'Se a música é para dançar, não é profunda'", define.

Moska acredita que isso sempre fez parte da canção popular brasileira. "Aprendi mais lendo letras de música do que nas salas de aula. O brasileiro sempre se divertiu pensando. Reclamando enquanto dança, sorrindo e criticando."

Carismático no palco, Kevin não é o protótipo do artista latino de raiz. Traz consigo uma veia roqueira implacável, adquirida nos palcos do lendário clube nova-iorquino CBGB. "Tive sorte de Hilly Kristal me ouvir cantar e curtir minhas músicas. Ele foi meu mentor, abriu as portas do CBGB para eu tocar e gravar. Sempre digo que foi minha escola musical. Vi passar por lá nomes como Patti Smith, Living Colour e muitos artistas alternativos."

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