Em dezembro de 2010, um grupo brasileiro de blues com alguns bons anos de estrada - mas pouco conhecido por aqui - alcançou um patamar digno de nota. Acompanhando o gaitista e cantor Lynwood Slim, a Igor Prado Blues Band chegou onde nem seus próprios integrantes poderiam imaginar: o disco recém lançado com o músico norte-americano havia atingido o topo das paradas nos Estados Unidos.
Rankeado pela 'Living Blues', uma revista que é considerada a maior representante do gênero, Brazilian Kicks "perdia" a taça apenas para Living Proof, de ninguém menos que Buddy Guy.
Dois anos depois do repentino sucesso lá fora, a banda lança nesta semana o que pode ser considerado seu maior projeto até o momento: um combo CD + DVD com faixas que remetem ao blues da década de 1960, marcadas pelos ritmos do Rhythmn & Blues e da Soul Music.
A cereja de Igor Prado Band: Blues & Soul Sessions, no entanto, não é apenas a escolha do repertório, mas sim o time de medalhões convocados para a gig - entre eles o gaitista Curtis Salgado, o pianista Donny Nichilo e o saxofonista Sax Gordon Beadle.
Boa parte das parcerias surgiu justamente na estrada, como é o caso da cantora de soul Tia Carroll, com quem a Igor Prado Band fez uma pequena turnê pelo País. Segundo o guitarrista, as faixas em que há convidados foram gravadas em um estúdio antigo na capital paulista.
"Fizemos as sessões com todos na mesma sala, inclusive os cantores; é o que chamam de 'Old School Recording' nos Estados Unidos", contou em entrevista ao Estado. Além de algumas músicas de sua autoria, o tracklist tem também composições de Al Green, Lowell Fulson e Etta James.
"O bom de gravar tudo ao vivo é que não é possível fazer grandes edições, arrumar imperfeições, e isso torna o álbum uma coisa mais verdadeira, entrosada", defende Igor Prado.
Apesar de não ter uma formação engessada - "é difícil explicar, porque tocamos em diferentes projetos e diferentes formações", diz ele -, pode-se considerar que a Igor Prado Blues Band, desde 2006, é um trio do qual também fazem parte Yuri Prado (bateria) e Rodrigo Mantovani (contrabaixo). Mesmo assim, a falta de definição faz bastante sentido, uma vez que os shows costumam ser acompanhados por músicos convidados e variam de acordo com a proposta da vez.
Nascido em São Bernardo, Igor Prado - e seu irmão, Yuri - cresceram no ABC escutando o blues. "Comecei com um violão para destros, aí virava ele de cabeça para baixo para poder tocar", lembra.
Como era canhoto, durante os estudos no Conservatório de São Caetano do Sul, foi instruído a inverter as cordas, mas não se adaptou ao jeito convencional. "Depois de um ano apanhando para tocar do jeito 'certo', desisti e criei minha própria forma", explica o músico. Hoje em dia, assim como Otis Rush e Albert King (morto em 1992), ele usa as cordas mais agudas na parte de cima da guitarra.
Atualmente, além da função na banda e da produção de discos, o guitarrista de 30 anos tem se empenhado em trazer artistas estrangeiros para o Brasil. "Faço toda a parte contratual e burocrática, e é um trabalho maluco, mas ao mesmo tempo é muito bom para absorver coisas diferentes", diz Igor.
"Não somos americanos, não colhemos algodão no Mississippi e mesmo assim já tocamos o blues em quase tudo o que é canto", completa. Embora admita que o gênero não seja dos mais populares no Brasil, o bluesman do ABC reconhece que o número de festivais e lançamentos brasileiros tem aumentado consideravelmente.
Blues & Soul Sessions foi dirigido junto com Chico Blues, amigo da banda que coordena os lançamentos e a divulgação da Igor Prado Band. Desde a formação, o conjunto já passou por vários países da América Latina e da Europa, para onde deve voltar em 2013. "Fechei nossa próxima turnê, e teremos um show em Oslo, na Noruega", revelou o músico. "Existem muitos festivais por lá, e acreditem ou não, o Brasil se tornou um dos celeiros de novos artistas do blues de uns tempos pra cá".