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Fiasco do Metal Open Air pode dificultar e encarecer futuros shows e festivais

Marcelo Moreira

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Por Redação
Atualização:

Por mais injusto que seja a generalização no caso do Metal Open Air, não dá para negar o fato: as consequências do mico maranhense serão sentidas por algum tempo no mercado de shows internacionais médios e pequenos no Brasil. Profissionais do meio ouvidos pelo Combate Rock não têm dúvidas de que as exigências dos artistas e agentes internacionais vão aumentar, assim como os valores de cachês e o nível das garantias. E, é claro, isso vai se refletir na elevação dos preços dos ingressos.

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Em novembro passado, em texto aqui mesmo neste espaço, o Combate Rock alertava para os riscos de um evento de tal porte com tantas dúvidas a serem sanadas seis meses antes da realização do festival.

O Metal Open Air foi confirmado em novembro de 2011 após uma polêmica com o nome WAcken Open Air Brazil. No pomposo anúncio, entretanto, nenhuma das 40 bandas inicialmente previstas havia sido anunciada. Nem mesmo o local onde ocorreria, em São Luís (MA), estava garantido (a confirmação só veio dois meses depois, no Parque Independência).

A imprensa especializada não escondia a torcida pelo sucesso do empreendimento, bem como a apreensão: daria para organizar tudo com competência em apensas seis meses? O maior festival de heavy metal do mundo, o alemão Wacken, costuma anunciar as atrações de cada edição e a infraestrutura com 15 meses de antecedência.

Depois veio a informação de que São Luís, cidade com infraestrutura inadequada peara eventos de tal porte, além de não pertencer ao circuito tradicional de shows internacionais no Brasil, tinha sido escolhida graças ao "apoio oficial" do governo do Estado do Maranhão - ou seja, o festival seria garantido, em sua maior parte, por aporte de dinheiro público que, misteriosamente sumiu a um mês do festival...

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A quantidade de interrogações era imensa, mas elas foram sendo eclipsadas pelos anúncios a conta-gotas das atrações internacionais, extasiando fãs e jornalistas: Megadeth, Anthrax, Blind Guardian, Grave Digger, Glenn Hughes, Rock'n Roll All Stars com Gene Simmons, Charlie Sheen como mestre de cerimônias...

Quando a banda brasileira Shadowside anunciou sua desistência dez dias antes do festival, o sinal amarelo de alerta acendeu. Já não era mais possível esconder que o evento tinha problemas graves de infraestrutura e de permissão para ser realizado.

Órgãos estaduais de fiscalização e Corpo de Bombeiros constataram problemas diversos no local do show e demoraram para liberar o evento, ao mesmo tempo que os organizadores tentavam correr para resolver as questões financeiras, como o pagamento dos cachês e o envio dos contratos.

Inexperientes e incompetentes para realizar o evento de tal magnitude, os organizadores deixaram tudo para a última hora. A "represa" estourou e o que se viu foi um vexame histórico, com mais das metade das 46 bandas desistindo - e quem ousou subir ao palco sofreu com condições precárias.

Fornecedores e empresas terceirizadas de montagem de palco, alimentação e serviços não foram pagas e foram retirando seus funcionários antes mesmo do início dos shows, enquanto que o público encontrou condições sanitárias e de infraestrutura quase inexistentes. Enquanto isso, as duas empresas trocavam acusações e davam explicações inconvincentes sobre o caos.

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O fim melancólico e inacreditável antes mesmo de começar o terceiro dia de shows era mais do que previsível - era até desejável, diante de tantos problemas e tanto amadorismo.

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Faltou coragem para cancelar ou adiar o evento um ou dois meses antes, quando ficou claro que não haveria dinheiro para pagar fornecedores e artistas, bem como oferecer uma estrutura decente ao público.

O comportamento ético às vésperas do evento também foi deplorável, com a demora para se pronunciar diante de tantas desistências de bandas e de tantas reclamações do público e do Procon-MA. Pior, os produtores tentaram ignorar o que ocorria, com declarações desencontradas sobre os problemas. As tentativas de amenizar o caos pioraram muito o clima para a continuidade do festival.

Não há dúvidas sobre as responsabilidades pelo fiasco e pelos danos ao consumidor e prestadores de serviços - incluindo as bandas - de Negri Concerts e da Lamparina Produções. Se houve crime, falcatruas e má-fé, só a Justiça poderá determinar. Mas não dá para não contatar: o serviço foi para lá de ruim, assim como o comportamento ético e profissional da produção.

Clique nos links abaixo e leia outras opiniões bastante pertinentes sobre o fiasco:

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