Cobrindo os passos de Macy Grey

Jotabê Medeiros

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Por Redação
Atualização:

Ano passado ela veio ao Rio para tocar no festival BackToBlack. Deve voltar este ano com um show em que lança Covered, um disco de covers. Mas um disco de covers de Macy Gray, definitivamente, não é um disco vulgar. Ela enfrentou canções muito famosas de Metallica, Radiohead, Eurythmics, Arcade Fire e até Colbie Caillat, e sua voz incomum parece ter tingido tudo com as tintas do bas-fond e também da negritude.

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Negritude também foi o motivo que a levou ao tapete vermelho de Cannes esta semana. Ela está no elenco (e é a narradora) do filme Paperboy, de Lee Daniels, no qual contracena com Nicole Kidman, Zac Effron, Matthew McConaughey e John Cusack. O filme é uma adaptação do livro do escritor americano Pete Dexter, publicado em 1995.

Macy faz no filme o papel de Anita, ex-empregada de uma casa de família, que conta para o jornalista Ward James (McConaughey), do Miami Times, os episódios da história que vivenciou em 1969 - que envolvem um crime e uma condenação à morte de um sujeito recluso, Cusack. Filme maluco, que conta já com uma cena muito falada, na qual Nicole Kidman "urina" em Zac Effron para curá-lo de uma queimadura de água viva.

Mais de 15 milhões de discos vendidos, uma voz rouca metalizada, um comportamento de diva errático - eis o cartel de Macy Gray.

Ela já veio algumas vezes ao Brasil, a primeira para um TIM Festival, e fez shows irregulares, alguns excelentes, outros meio displicentes. Mas gosta dos trópicos. "Nós definitivamente iremos ao Brasil tocar essas músicas do disco de covers. Não tenho certeza se já fechamos um contrato, mas é certeza que eu vou", avisou a cantora, falando por telefone ao Estado, de sua casa em Los Angeles.

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Macy gravou sucessos típicos de rádio, como Bubbly, de Colbie Caillat, e coisas não tão fáceis para as multidões, como Creep, do Radiohead. "A ideia era pegar canções de rock e de soul que não fossem do meu estilo, e que cobrissem um período dos últimos 25 anos, e então eu escolhi as minhas favoritas. Foi isso", explicou, com seu jeito meio econômico.

Macy, é claro, conhece o trabalho de outras estrelas do pop que se esmeram em reconstituir um imaginário do pop e do rock, como Cat Power, mas diz que suas motivações são bem pessoais.

"Eu apenas escolhi letras que fossem parecidas com o que eu penso, que fossem genuínas e tivessem de alguma forma me tocado pessoalmente. O principal critério foi esse", contou. "Foi um grande desafio pegar essas músicas emprestadas e tratá-las como se fossem minhas, porque eu nunca tinha feito isso antes. Mas era algo que eu sempre, sempre quis fazer", enfatizou.

Sendo compositora, tendo se arriscado na última década para deixar um trabalho autoral, confessa que gravar algo de outras pessoas foi uma missão muito difícil. "É um desafio diferente, fazer como se fosse algo seu. É difícil, mas eu me diverti muito, logo quero fazer isso de novo".

A cantora escolheu gravar seu lote de covers no famoso estúdio de Frank Zappa. Mas revela que não foi em busca de um espaço sagrado, da "aura mítica" de um cara que foi grande compositor, grande músico, grande ativista. "É um estúdio incrível. É perfeito para gravar. E eles têm todo tipo de instrumento lá. A presença de Gail Zappa, viúva do cantor, fez com que a gente se sentisse muito confortável lá, ela é muito hospitaleira".

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 Foto: Estadão

O Brasil conheceu Macy Gray em 2001, quando ela estava no pico da onda com On How Life Is (que vendeu 7 milhões de cópias e valeu a Macy uma indicação para o Grammy como artista-revelação). Também cantou no Parque Villa-Lobos num show ao ar livre, com a companhia de ninguém menos do que Herbie Hancock.

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No início dos anos 2000, ela começou a abrir shows de Santana, gravou com Fatboy Slim e Jazzmatazz e invadiu o mundo fashion (recebeu o VH1 Vogue Fashion Award como a mais fashion das artistas da temporada). Cantou em cena de O Homem-Aranha em 2002, "Eu tenho uma certa queda pelo humor negro", afirmou Macy, que é mãe de três filho . Seus cílios postiços gigantes balançaram o Festival de Cannes esta semana.

Macy Gray - que nasceu Natalie McIntyre em Canton, Ohio - segue os passos de Prince e sua escola passou por George Clinton, D'Angelo, Fela Kuti, Chaka Khan, Sly Stone, Stevie Wonder, entre outros artistas referenciais. Está se reinventado agora com esse disco de covers, uma das boas surpresas da estação.

Sem preconceitos conta 'covers'

Um lote de 16 canções escolhidas a dedo ganharam a voz de Pato Donald melancólico de Macy Gray, e o resultado, Covered (Lab344) é surpreendente. Produzido por Macy e dois caras de estilos antagônicos, Hal Wilner e Zoux, o disco traz versões chapadas de Smoke 2 Joints (do Sublime), Nothing Else Matters (do Metallica), Here Comes the Rain Again (Eurythmics).

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Também apresenta assombrosas releituras de Wake Up, do Arcade Fire, e Maps, do Yeah Yeah Yeahs. Esqueça Karen O, Macy Gray leva Maps para o gueto.

Cantar coisas obscuras poderia ter sido mais fácil, mas a cantora resolveu se arriscar em coisas hiperconhecidas, expondo-se num território de paixões exacerbadas. Não busca trazer as coisas para o seu território, passa por diversos gêneros, do soul ao reggae, do pop ao rock. Mais do que ousadia, o disco é um tranco de diversão para quem está disposto a perder seu preconceito contra covers.

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