Black Sabbath comanda culto ao heavy metal para 70 mil em show histórico em SP

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Por Redação
Atualização:

Flávio Leonel - do blog Roque Reverso

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Se o heavy metal tivesse uma data comemorativa na cidade de São Paulo, o dia 11 de outubro seria um forte candidato para marcar anualmente o gênero mais pesado do rock. Tudo porque, em 2013, no Campo de Marte, a capital paulista foi palco de um verdadeiro culto às origens do metal comandado pela banda que plantou a semente de tudo: o Black Sabbath.

Para um público de 70 mil felizardos, o lendário grupo britânico ofereceu uma histórica apresentação que, dificilmente, será esquecida para quem participou de tudo aquilo.

Com a até então inédita vinda de Ozzy Osbourne numa turnê com a banda para o País, o Black Sabbath reuniu várias gerações de fãs no Campo de Marte. Ao lado do chamado "Príncipe das Trevas", o mago dos riffs Tony Iommi na guitarra e o grande baixista Geezer Butler completaram a tríade criativa que influenciou um número incalculável de bandas seguidoras e diversas vertentes dentro do próprio heavy metal.

Para termos a ideia da importância deste evento, os ingressos para o show de São Paulo estavam esgotados havia 3 meses. Durante a semana, com a proximidade da apresentação, não se falava em outra coisa entre os fãs de heavy metal. Na chegada ao local, era possível sentir a ansiedade do público presente e perceber o quanto aquele momento era importante.

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Estrutura e organização

A chegada ao local, por sinal, mais uma vez, merece comentários à parte. De modo idêntico ao mal organizado show do Iron Maiden na Arena Anhembi, a infeliz ideia de realizar o evento do Black Sabbath em plena sexta-feira, trouxe, é claro, vários transtornos ao público paulistano. Só para citar um exemplo, este jornalista que vos escreve demorou cerca de 1 hora para chegar ao Campo de Marte, de carro, mesmo tendo saído da sede da Agência Estado, no bairro do Limão, às 17h50. O que dizer, por exemplo, do fã que se descolou de uma zona sul ou zona leste?

Sim, é claro que havia o metrô como solução, mas, ainda assim, o sujeito que se dirigiu ao local do evento precisou sair mais cedo do trabalho para conseguir ver o não menos imperdível show de abertura, que era do Megadeth, e que estava marcado para as 19h45. O Roque Reverso ouviu diversos relatos de pessoas que só conseguiram passar pelas catracas do Campo de Marte quase no fim da apresentação da banda de thrash metal.

Espaço novo para shows, o Campo de Marte passou a imagem de que é possível fazer um grande evento naquele local. Mas, especificamente em relação ao show do Black Sabbath, as críticas pipocaram. A começar pela localização do palco, que parecia ter sido enxertado no primeiro espaço disponível visto e no final de um terreno íngreme. Para aquela quantidade de pessoas, será que o mais recomendável não era um terreno plano?

A ideia de colocar o palco mais baixo no que pareceu uma ladeira é boa quando todo o terreno segue esse padrão, como se fosse um Via Funchal bem maior, que, quando existia, fornecia uma ótima visão em todos os cantos da pista. O problema é que o topo do terreno no Campo de Marte era exatamente na divisa da Pista Vip com a Comum, exatamente onde este jornalista conseguiu ficar. O resultado é que, quem estava lá atrás (e estamos falando de um show com 70 mil pessoas), teve dificuldades até para ver os telões de cada canto do palco.

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O som, que foi vergonhoso no show do Iron Maiden, estava muito melhor nos eventos do Megadeth e no do Black Sabbath. Mas houve relatos de pessoas que, dependendo do local onde estavam, notaram o vento gerando um sobe-e-desce no volume durante as apresentações. Enquanto tentava "conquistar território" no show do Megadeth, este jornalista chegou a ver isso acontecendo, especialmente no começo da apresentação da banda norte-americana.

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Tirando esses detalhes, fundamentais quando o preço mínimo dos ingressos inteiros é de R$ 300,00, tudo aconteceu na maior tranquilidade para a noite histórica do Black Sabbath na capital paulista.

O show

Dez minutos antes do que era previsto oficialmente pela Time For Fun, o Black Sabbath subiu ao palco por volta das 21h05. Com uma explosão de êxtase imediata da plateia, a primeira música executada da noite foi nada menos que "War Pigs", do segundo álbum do grupo, "Paranoid", de 1970. Vale destacar que a participação da plateia foi extraordinária, gerando um imenso coro que arrepiava os mais frio dos headbangers.

Ozzy andava no palco de um lado para o outro, regia a plateia e mostrava que sua voz continua entre as mais poderosas do heavy metal. Tony Iommi empunhava a guitarra e tirava o som grave e rasgado que consolidou o estilo. Geezer Butler atacava o baixo ferozmente e trazia um peso adicional inacreditável ao que era proporcionado pelo parceiro de décadas. E, para completar, Tommy Clufetos, baterista da turnê, espancava a bateria com gosto e mostrava grande técnica no instrumento.

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Ao final da música, Ozzy fez o público cantar o famoso "olê, olê, olê" de estádios de futebol e a banda imediatamente emendou "Into the Void", do disco "Master of Reality", de 1971. O som de ótima qualidade, aliado à performance arrasadora dos músicos, fazia com que o peso da canção ficasse muito mais forte.

Tony Iommi dava, para variar, uma verdadeira aula de como tocar um riff de heavy metal com classe e comovia. Era impossível não lembrar que ali estava um sujeito que luta contra um câncer e que poderia estar em casa descansando e se recuperando. Mas ele demonstrava que estava vivendo demais aquele momento, para sorte do público.

O momento era de resgatar as coisas antigas. E foi do disco "Black Sabbath Vol. 4?, de 1972, que o grupo tirou as duas músicas seguintes: "Under the Sun" e "Snowblind". Era impressionante o peso que era gerado por aquela mistura Iommi-Butler-Clufetos e isso deixava o público vidrado e boquiaberto.

De um lado, Tony Iommi tocava a guitarra como se estivesse fazendo a coisa mais simples do mundo. Clufetos marretava a bateria como se aquele ato fosse salvar o mundo. Geezer Butler, em contrapartida, dedilhava com força as cordas do baixo, como se elas fossem de papel ou coisa ainda mais frágil.

A turnê do Black Sabbath está ligada à divulgação do excelente álbum "13?, lançado em junho deste ano. Depois dos quatro petardos dos Anos 70 tocados inicialmente, foi a vez de a banda executar a boa "Age of Reason", do novo trabalho. Alguns fãs que ainda não estavam familiarizados com o disco até pensaram que se tratava de mais um sucesso de começo de carreira do grupo.

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O ponto máximo

Foi então que, depois desta pausa nos clássicos, o Sabbath executou aquele que sintetiza a alma da banda: "Black Sabbath", a primeira música do primeiro álbum, lançado em 1970 com nome idêntico. O momento em questão, para muitos, foi o maior de todo o show, pois o que se viu no Campo de Marte foi uma contemplação de algo histórico.

Enquanto Tony Iommi tirava os acordes e Ozzy cantava, a impressão era de que o planeta havia momentaneamente parado de rodar para que a origem do heavy metal fosse apreciada por todos.

Foi nessa parte do show que há tempos não se via tanto marmanjo com os olhos marejados ou chorando sem vergonha alguma, compreendendo que, talvez, estava presenciando algo fantástico pela primeira vez e que também nunca mais veria aquele momento.

Mais peso

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Se o show terminasse ali, seria capaz de o público sair sem reclamar, mas o grupo trouxe mais duas do"Black Sabbath Vol. 4?: "Behind the Wall of Sleep" e "N.I.B.", que, mais uma vez, mostraram o quanto Geezer Butler precisa ser reverenciado como um "monstro" do baixo.

Na sequência, foi a vez de o Black Sabbath trazer aquela que, para este jornalista, é a melhor música do novo álbum "13?. Com estrutura e cadência musical que lembra bastante a música "Black Sabbath", "End of the  Beginning" foi executada. Tal qual o cenário visto na maioria das demais músicas tocadas no Campo de Marte, era admirável o poder da guitarra de Tony Iommi. Enquanto várias bandas se matam, com dois destes instrumentos, para trazer algo de peso, o mago do riffs brincava e gerava um som recheado de vibração num volume bastante alto.

De volta ao disco "Paranoid", o grupo executou duas do grande álbum: "Fairies Wear Boots" e "Rat Salad". Ozzy se divertia demais com o público. Puxava coros, mandava a plateia erguer os braços e era seguido sem resistência. A segunda canção, instrumental, serviu para o vocalista dar uma breve descansada e, mais para o final, o mesmo ser feito por Iommi e Butler. Com um solo estupendo de bateria,Tommy Clufetos fez os 70 mil presentes esquecerem da ausência do Bill Ward, num show particular com técnica e peso.

Após o descanso do incrível trio, o público foi presenteado com o megaclássico "Iron Man", também do "Paranoid". Com um coro ensurdecedor que acompanhava os acordes de Tony Iommi, mais um grande momento da apresentação foi registrado na mente dos fãs. As vozes de 70 mil pareciam bater no palco e voltar com se fossem uma onda sonora. "São Paulo Rocks!", gritou Ozzy, curvando-se à sempre vibrante plateia paulistana.

Na sequência, a banda trouxe "God Is  Dead?", do novo disco, e "Dirty Women", do álbum "Technical Ecstasy", de 1976. Elas foram bem recebidas pelo público, mas, de todo o set list, ambas poderiam ter sido trocadas por algum outro clássico não tocado, como "Symptom of the Universe". Em "Dirty Women", destaque para os vídeos de garotas nuas que fizeram sucesso no telão central do palco.

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Para fechar o set list, um megaclássico do heavy metal: "Children of the Grave". Já sinalizando o encerramento da apresentação, Ozzy pediu à plateia uma dose extra de fôlego e foi correspondido. Tirando forças mesmo com o cansaço de duas horas de show, o público vibrou demais com o tradicional riff e várias rodas chegaram a ser abertas na pista.

Após uma breve pausa para o descanso e vários gritos para o retorno do grupo, os músicos voltaram ao palco e Tony Iommi deixou todos os presentes na vontade quando executou os acordes de "Sabbath Bloody Sabbath". Ficou só na ameaça, já que a banda logo iniciou outro superclássico: nada menos que "Paranoid", que fechou definitivamente o show e levou o Campo de Marte inteiro ao delírio extremo, com todos pulando, cantando e realizando mais um sonho.

Fim da apresentação e a constatação de que todos haviam visto um show épico, capaz de peitar e até superar outras grandes apresentações que a cidade de São Paulo viu ao longo de sua história, como as do AC/DC em 1996 e dos Rolling Stones em 1995. Quem viu, jamais esquecerá o que o Black Sabbath realizou no Campo de Marte e contará para filhos e netos o quanto foi importante a experiência inacreditável de ter acompanhado os inventores do heavy metal.

Resta a torcida para a saúde de Tony Iommi melhorar e para que os demais membros tenham condições de continuar a carreira novamente juntos, levando esse som tão importante do rock para o mundo inteiro e, se bobear, voltando novamente ao Brasil.

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