Between a Rock and a Hard Place -- a explosiva mistura dos Stones

Paulo Severo da Costa

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Por Redação
Atualização:

Pólvora e uma boa caixas de fósforos fizeram desse mundo um lugar melhor para se viver. O rock n'roll é a prova de que Nietzsche realmente estava certo: não nascemos da calmaria, nascemos do atrito. A faísca que acendeu os Beatles e The Animals foi o resultado de lutas de classe mal resolvidas, de um pós-guerra desolador, de gente "branca" roubando a música de gente "negra", de filhos viciados que não se entendem com pais e fogem de casa.

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Tony Iommi já declarou que seu som foi inspirado no ritmo insuportável do maquinário pesado em Birmingham e o Guns N'Roses compôs sua obra prima em uma garagem imunda. O rock n'roll é chá de boldo, a antítese do bucólico, a casca de ferida do mundo nos últimos sessenta anos.

 Esse nobre ancião, entretanto, venceu as provas do tempo. Declarado morto por repetidas vezes, se comporta como um zumbi, se alimentando da necessidade de adrenalina, em mundo que se movimenta a oitocentos por hora mas, simultaneamente, entorpece seus ocupantes.

Nessa crescente, chega a ser surreal uma banda completar cinquenta anos, com três de seus membros originais, tendo passado pela psicodelia, pelo punk, pela disco, pela new wave - por tudo - e estar ainda de pé. Impressiona não só pelo desgaste natural das juntas, não só pelo consumo colossal de heroína ou pelo quebra pau entre seus membros: impressiona por se manterem no topo, ainda que toda sorte de intempéries conspirassem para seu naufrágio.

Os Rolling Stones corroboram a mítica do rock n'roll, ampliam seu folclore e adubam o território das bizarrices desde os anos sessenta. Sua capacidade de reinvenção, ainda que trôpega em alguns momentos, trazem a emblemática do ressurgimento pelas cinzas por longas cinco décadas.

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 Do nefasto ao profano, da doçura ao badalar dos sinos do inferno, parecem andar sobre a lama, pairar sobre o marketing de linha de produção de bandas atuais, cair à sombra das sarjetas ou embebedarem-se em hidromassagens e jatos particulares em grande estilo. Ultrapassaram a aids, aos blazers com ombreiras, às curvas sinuosas de milhões de quilômetros de um árida estrada. 

 Foto: Estadão

Mick Jagger e Keith Richards são os escudeiros de um estilo de vida que dizimou metade dos nomes relevantes na música no últimos quarenta anos, representam esboços de uma raça alienígena que ainda desconhecemos por completo.

O guitarrista que já declarou - "Jagger é rock, eu sou roll" - reflete atrás dos vincos de heroína estampados em sua face, o currículo invejável do homem comum: não é um intelectual, não é a representação da vontade de potência de seu parceiro: antes é fruto de uma incógnita capacidade de sobrevivência, o sujo retrato de alguém que não cria a menor expectativa do que virá depois- apenas respira e espera. 

Jagger é o nobre do avesso, o conde à maneira própria, um suserano inquieto e auto-controlador, o político. Em uma dessas estranhas declarações de amor ao parceiro ele disse: "Você não é o único, com uma mistura de emoções, você não é o único navio à deriva sobre este oceano". Como todo casal em bodas de ouro, viveram a lua de mel, as ameaças de divórcio, a reconciliação.

 Do alto de sua negligência total à decadência paira o lorde, discreto e surdo mudo na medida - Charlie Watts é o contrassenso, o lobo solitário atrás de seu kit. Seu tempero inglês traz o sabor insosso necessário ao arrefecimento das polêmicas, sua postura fleumática é o ponto de estabilidade ao estado pré- insanidade. Watts é o homem em estado natural de Rousseau. 

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Vivos? Sim. Como? Não dá para saber. São baratas em uma ataque nuclear.

 

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