Beatles cada vez mais atuais, 50 anos depois

Bolívar Torres (REPORTAGEM) e Carol Cavaleiro (INFOGRÁFICO)

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Por Redação
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No dia 4 de setembro de 1962, um quarteto de jovens desconhecidos entrava no estúdio para sua primeira gravação oficial. Um mês depois, chegava às lojas o primeiro compacto dos Beatles de John Lennon, Paul McCartney, Ringo Star e George Harrison, com Love Me Do e P.S: I Love You. O produtor George Martin e os executivos da gravadora não levavam muita fé. Nunca imaginariam que estavam assistindo a estreia do maior fenômeno da história da música popular.

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Passaram-se 50 anos. Nesse período, os Fab Four rodaram o mundo, venderam 177 milhões de discos nos Estados Unidos, ajudaram a mudar costumes e até mesmo a derrubar governos totalitários. Os países pelos quais passaram nunca foram os mesmos, seja na Ásia, na África, na América Latina e até na União Soviética.

Em nações abertas ao Ocidente, como o Japão do pós-guerra, a beatlemania floresceu facilmente. Depois que o quarteto fez uma série de shows por lá em 1966, mudou completamente a maneira como os grupos musicais se juntavam e tocavam seus instrumentos.

Bandas como The Spiders, The Tigers e The Jaguars faziam o possível para absorver uma nova sonoridade e um novo estilo de vida. O único problema era na hora de pronunciar "rock'n'roll", que em japonês sempre saía "lock'n'loll". A solução foi mudar o termo para Group Sounds.

Na Índia, o fenômeno foi adotado por Bollywood. Filmes como Janwar, com o emblemático Shammi Kapoor (o "Elvis indiano"), mostram como o país não escapou da febre por guitarras. As mudanças afetaram não apenas o vestuário - como os trejeitos e a linguagem corporal de Kapoor o demonstram.

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Depois de Kapoor, toda uma geração de celebridades passou a cultuar e emular o estilo dos Beatles e do rock. Como resposta às influências estrangeiras, o filme Purab Aur Paschim, de 1970, criticou os indianos que se afastaram de suas origens - incluindo os que foram seduzidos pela cultura hippie - ao retratar um indiano na Inglaterra que redescobre a riqueza cultural de seu país.

A penetração dos Beatles não foi natural em todos os países. Em alguns lugares, gostar do quarteto inglês era considerado oficialmente uma contravenção.

 Foto: Estadão

Na União Soviética, por exemplo, era proibido possuir discos dos Beatles. Estranhamente, o mesmo não acontecia com os Rolling Stones e outras bandas. Para o Kremlin, ninguém personificava mais a ameaça capitalista do que o Fab Four e seu relaxamento nos costumes. Existia até uma palavra para fazer alusão a tudo que envolvesse a banda: "beatlyi". É difícil encontrar covers soviéticos das músicas dos Beatles. Primeiro porque o contato com a fonte era limitado.

Segundo, porque os soviéticos que ousavam amar os Beatles os veneravam de tal forma que consideravam uma heresia subir no palco para imitá-los. Eram precisos enormes esforços para se ter acesso à música. As proibições eram desviadas com gravações ilegais em radiografias reaproveitadas da lixeira dos hospitais e revendidas por três rublos.

Não por acaso, muitos consideram as canções dos Beatles como o primeiro buraco na cortina de ferro. O documentário How The Beatles rocked the Kremlin, da BBC, mostra como o quarteto fez a juventude soviética se voltar contra o regime que queria proibi-lo.

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Em 2008, Israel pediu desculpas a Paul McCartney por ter banido a música dos Beatles nos anos 60 por considerar um perigo à moral dos jovens. Depois de John Lennon dizer que o grupo era mais importante do que Jesus, os discos da banda também foram proibidos na África do Sul, com o pretexto de que os comentários de Lennon havia ferido o regime do Apartheid.

O veto durou cinco anos. Em mais uma recente onda de censura no Irã, os Beatles foram proibidos por Mahmoud Ahmadinejad junto com livros como O Código da Vinci e outras obras "assistentes do mal". A revolução beatle, 50 anos depois, ainda está em curso.

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