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Bad Religion: o punk não morreu, mas mudou

Pedro Antunes

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Por Redação
Atualização:

Já são 31 anos de estrada. De 1980 até hoje, a banda de punk rock californiana Bad Religion viu a ascensão e queda de inúmeros gêneros musicais. Permaneceram fiéis aos seus ideais e às suas sonoridade. Letras politizadas e guitarras explosivas, aliadas de sempre nos 15 discos da carreira. É em turnê com o seu último lançamento, The Dissent of Man, do ano passado, que eles chegam a São Paulo, em apresentação no Via Funchal, na zona sul, hoje às 22h.

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O sexteto é um dos únicos grupos que não perdeu o respeito dos fãs, mesmo absorvendo certas influências pop e sem a virilidade sonora de outrora - vide a balada açucarada I Won't Say Anything, que fecha o último disco. Sinal dos tempos. Até punks mais ferrenhos estão abertos a novas possibilidades.

Quem diria que o vocalista Greg Graffin, que costuma cantar a plenos pulmões canções contra sistemas políticos e religiosos, por exemplo, se tornaria um professor universitário? Primeiro na UCLA (Universidade da Califórnia, em Los Angeles) e, desde agosto, no cargo de professor de zoologia, da Cornell University, de Nova York.

Os punks, que a princípio constituíam um movimento apolítico, e que, por isso, muitas vezes foi confundido como anarquista, agora estão mais abertos ao engajamento político. O Bad Religion, por exemplo, apoiou a eleição presidencial de Barack Obama durante a sua campanha, em 2008.

Tudo não seria uma incoerência? Contradições que só o tempo explica? Afinal, o punk está morto e foi sepultado? "As pessoas não se tornam menos punk", responde o baixista do grupo Jay Bentley, por telefone. "Acho que nos tornamos mais espertos. A educação é a base de toda a evolução. Ninguém disse que o punk deveria manter o status quo de viver na sujeira. Isso não faz sentido. Com o anarquismo, o exército tomaria o poder e você, punk, provavelmente seria morto."

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O baixista diz não se importar, também, com o fato de que seu frontman, o líder a banda, é também um pacato professor universitário. "Ser um professor é mostrar que a pessoa ganhou conhecimento. Cria ideias novas e, numa discussão, consegue convencer com o seu ponto de vista. Punk é atitude", argumentou.

É preciso ter peito, segundo ele, para tomar um posicionamento político, por exemplo. "Eu apoiei a campanha do Obama, sim, mas continuo odiando todos os políticos. Eu acho que ele sabe como fazer um bom discurso. Ele provavelmente tenta fazer seu trabalho direito. Mas ainda acho que os políticos matariam uma criança por um dólar", diz ele.

Para Bentley, as atitudes fora do palco e do estúdio pouco importam. Qualquer um dos seis membros do grupo só não pode perder o vigor musical. E isso, garante o baixista, se mantém como há três décadas. "Quando começamos, tocando nas garagens, nosso sonho era gravar um disco. Agora temos 15! E já estamos programando um próximo", diz.

O novo trabalho ainda não tem nome e ganhará a devida atenção no fim do ano, quando acabar a turnê pela América do Sul. "Estar no estúdio, no processo de gravação, é incrível. É reunir os amigos e criar algo do zero", diz, animado com a possibilidade de voltar ao clima de gravação.

Fazendo uma conta simples, a média de um disco a cada dois anos é assombrosa. Há, nessa matemática, um erro, já que a banda decidiu dar um tempo nos anos 80, e ficou cinco anos inativa, entre o progressivo Into the Unknown (1983) e Suffer (1988), um retorno ao punk rock legítimo.

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A quantidade de discos, obviamente, cria um quebra-cabeças para montar os shows. "A cada novo álbum, tudo fica mais difícil. Não queremos decepcionar ninguém. A internet ajuda as pessoas a conhecer o material antigo."

No palco, desde 2003 o grupo mantém a mesma formação: Greg Graffin no vocal; Brett Gurewitz, Greg Hetson e Brian Baker nas guitarras; Bentley no baixo; Brooks Wackerman na bateria. Quase todos perto dos 50 anos - Wackerman é exceção, com 34. Bentley garante que, no palco, estão mais punks do que nunca. Mesmo que fora dele sejam simpáticos pais de família ou professores universitários.

 

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