Atrás da fama - bastidores dos astros da música pop

Jotabê Medeiros - O Estado de S.Paulo

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Por Redação
Atualização:

 

Ele é Neil Strauss, um dos mais famosos jornalistas de rock do mundo. Escreve para a Rolling Stone e The New York Times. Cobriu o suicídio de Kurt Cobain e ganhou prêmios com um perfil de Eric Clapton. Escreveu um best-seller, The Game: Penetrating the Secret Society of Pickup Artists. Mas agora foi direto ao coração da tormenta: em seu novo livro, Everyone Loves You When You"re Dead - Journeys into Fame and Madness (HarperCollins), o autor faz um exame das circunstâncias em que entrevistou celebridades do pop e do rock, recuperando tudo aquilo que jamais pode escrever em veículos convencionais (incluindo obituários que escreveu e diálogos nonsense com editores e redatores). O livro será lançado no Brasil no ano que vem, pela Best-Seller, mas o original está disponível na Livraria Cultura.

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"Na idade de ouro do jornalismo cultural, as pessoas queriam saber sobre os rock stars: quem eram eles, o que eles pensavam, como viviam. Nesse tempo, o jornalista de cultura pop era o emissário que ia buscar essas informações. Mas agora o fã não precisa mais dessa intermediação. O rock star se expõe por meio do Twitter, do Facebook, dos blogs. É de fato um novo mundo, mas há um problema: agora, eles mostram apenas o que querem mostrar", analisa Strauss, falando ao Estado por telefone, de Los Angeles.

Foi assim que o autor resolveu contar os bastidores de 228 entrevistas que realizou (cantores, músicos, atores). O livro abre com uma antientrevista memorável, a recusa de Julian Casablancas, do grupo Strokes, em fornecer algumas aspas minimamente razoáveis para um artigo. "Vamos falar sobre música então", lhe diz Strauss. E ele responde apenas: "Pro inferno a música".

Ele passou sete dias com Lady Gaga, e a viu desabar e chorar em seus ombros. Comprou fraldas Pampers com Snoop Dogg. Madonna lhe falou sobre morfina, Deus e helicópteros. "Morte é quando você está desconectado de Deus", disse-lhe. E Strauss enfrentou momentos constrangedores, como quando foi atrás de um velho ídolo do R&B dos anos 50, Ernie K-Doe, no bar onde este tocava, e fez a entrevista antes da performance. Quando Ernie K-Doe começou a tocar, ele ligou o gravador para registrar alguma música que lhe servisse de embasamento. O músico enlouqueceu quando o viu fazendo aquilo, e parou o show para tomar-lhe a fita. Também chamou amigos no bar para tomar o equipamento do fotógrafo e chamou a polícia.

Strauss diz que não vê influência nem do "gonzo journalism" de Hunter Thompson nem do estilo agressivo de Lester Bangs em seu livro. "Tanto Thompson quando Bangs buscam descrever o momento social e histórico naquilo que fazem. O que eu faço é mais tentar entrar dentro da cabeça dos entrevistados, pensar por um momento da forma como pensam, entender o que os faz agir de certa forma e então traduzir isso para os leitores", avalia. Strauss praticamente abandonou o métier recentemente - dedica-se agora a escrever livros, e diz que já tem contrato para escrever mais quatro livros para a editora.

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O escritor também menciona as dificuldades de se editar uma boa matéria de rock e pop na velha mídia tradicional. Al Siegal, editor do New York Times, só permitiu que ele escrevesse a palavra "gangsta" (gíria usada largamente na América) após descobrir que havia um precedente no próprio jornal. Só que era de 1924. Um outro editor o proibiu de escrever a palavra "homofóbico" argumentando que só um homossexual poderia fazê-lo. "Não se trata de uma vingancinha, não é isso. É apenas a manifestação da minha liberdade atual. Tive de aturar isso durante muitos anos, e agora estou fazendo o que quero. É mais um ato de liberdade do que uma vingança. Mais humor do que raiva."

DEPOIMENTOS

Lúcio Ribeiro Crítico musical

Saí do Brasil direto para St. Louis para entrevistar Eminem e Limp Bizkit. O Fred Durst do Limp Bizkit nem apareceu. Mandou dizer que não estava se sentindo bem. Duas horas depois encontramos ele no mesmo restaurante onde fomos comer. Já o Eminem trouxe junto uma lista gigante do que não podíamos perguntar e uns cinco amigos, os "armários ambulantes" que constituíam a banda de rap D12, que o Eminem apadrinhava.

Fábio Massari Crítico e escritor

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Mr. Lou Reed. No Rio, à beira da piscina do hotel. Comecei com uma pergunta que parece ter agradado, resposta legal. Até que falei algo a respeito de alguma biografia e... a partir daí ele ficava me encarando, dificultou abertamente o lance. Eu tinha até levado um Berlin pra pedir um autógrafo mas desisti. Depois, estava no bar da piscina, e não é que me chega Mr. Reed todo simpático, trocando ideia e, ao ver o Berlin, baita dedicatória legal, coraçãozinho e tudo?

  ELES DISSERAM  

Madonna. "Quando caí do cavalo, eu armazenei pílulas: Demerol, Vicodin, Xanax, Valium. Eu ficava assustada em tomar aquilo."

Ike Turner. "Eu ganhava US$ 5 por semana na prisão, vendendo café, doces e cigarros. Consegui no fim economizar US$ 13 mil"

Bo Diddley. "Tenho estado por aí há 50 anos e nunca vi cheque de direitos autorais. Não há um só filho da mãe nos EUA que esteja sendo honesto"

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