A psicodelia do funk de George Clinton

Pedro Antunes

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Por Redação
Atualização:

Nos anos 60, veio James Brown. Na década seguinte, veio George Clinton. A partir deles, o funk e o soul nunca mais foram os mesmos. O que hoje conhecemos como música black surgiu desses dois músicos. Brown, um verdadeiro showman, morreu em 2006. Então, é de se entender a relevância da apresentação de Clinton, na madrugada de sábado, no festival Black na Cena.

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Era uma lenda viva, ali, em plena Arena Anhembi. Mas, completando 70 anos na sexta, no dia 22, o músico está combalido. No fim de maio, ele ficou quatro dias internado por causa de uma infecção na perna. Era possível perceber que ainda não estava 100% fisicamente. Sua voz, mais rouca que o normal, quase não aparecia em meio a tantos vocais de apoio.

Clinton fecharia o primeiro dia de atrações do festival Black na Cena. Sua apresentação estava marcada para as 2h30. Um horário exageradamente tarde, diga-se de passagem. E o clima? Bom, exageradamente frio, chegando aos 12º, pouco antes do músico subir ao palco. No começo da noite, por volta das 20h, os termômetros marcavam 15º.

A apresentação, histórica por si só, já começou com um outro peso: Flavor Flav e Chuck D, do grupo de rap engajado Public Enemy, anunciaram o professor.

 "A nave mãe está aterrissando", disse Chuck D. O criador das bandas históricas Parliament e Funkadelic surgiu no meio de 15 músicos, mais alguns dançarinos. Era muita gente. Clinton, vestindo um chapéu de capitão, fazia as vezes de comandante daquela trupe pelos mares agitados e dançantes do que tem de melhor da soul music americana dos anos 70.

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 Foto: Estadão

Uma pena que o frio e a garoa fina insistiam em tentar esfriar até o mais empolgado dos fãs do artista. George Clinton também não estava nada bem. Fazia o papel, mesmo, de maestro dentro daquela algazarra coletiva que se tornou o palco. Ele organizava e também desorganizava. Mudando cada arranjo à sua vontade. Os músicos obedeciam o capitão. Quem não o obedeceria?

Fumaça

O rapper Flavor Flav, vestido com um boné e moletom vermelho, além do tradicional relógio de ouro pendurado no pescoço, não saiu do palco depois de anunciar Clinton. Ficou lá, ora cantava, ora ficava sentado, acompanhando o show. Tudo começou com Flash Light, do Parliament, do disco Funckentelechy Vs. The Placebo Syndrome, de 1977. Um clássico.

Logo na sequência, Clinton chamou SatIVa Clinton, sua neta, para a erótica Something Stank. Enquanto moça cantava, o vovô pedia um cigarro de maconha para o público da área vip. Demorou alguns minutos até que alguém arremessou uma ponta para o músico. Ele pegou, acendeu e fumou. Era pouco. Logo alguém, aparentemente da equipe de produção, trouxe um cigarro maior. Sob aplausos do público, ele acendeu e novo.

O momento mais emocionante da apresentação, no entanto, não foi nenhuma música em especial. Lá pelo fim do show, Flavor Flav - sim, ele ainda estava lá - puxou um coro de "parabéns para você". Clinton pediu para que fosse feito em português. Não deu muito certo. Um coro, meio em português, meio em inglês, foi feito em homenagem aos 70 anos do músico. Um bolo foi entregue a ele que, sem muita opção, comeu com a mão, mesmo.

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O show terminou às 4h05, quando algumas pessoas já se dirigiam para a saída. E encerrou o primeiro dia de shows - que contou também com Farufyno, Tony Tornado, Baile do Simonal (com Max de Castro e Simoninha), Sandra de Sá e Seu Jorge, desde as 20h. Um encerramento digno a importância de Clinton.

 

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