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A morte definitiva do rock nacional

Marcelo Moreira

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Por Redação
Atualização:

O rock nacional desapareceu e parece que ninguém vai encontrá-lo tão cedo. A escalação do Rock in Rio 4, que terminou há duas semanas, já dava indícios disso. Nenhuma banda nova digna de nota foi escalada, em um momento que os "representantes" do novo rock eram NX Zero e Gloria. No mais, só bandas veteranas: Titãs, Skank, Paralamas do Sucesso, Frejat (Barão Vermelho), Pitty, Marcelo Camelo (Los Hermanos)...

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Só que o cenário é muito, muito pior. A edição nacional da revista Billboard, gigante norte-americano da área de mídia de entretenimento, traz mensalmente as "paradas de sucesso" pelo Brasil, em pesquisa comprovada, com dados confiáveis da empresa Crowley/Music Media, que criou uma metodologia abrangente para aferir a execução de músicas em emissoras de rádio (Mais informações em www.crowlwy.com.br). Hoje, no Brasil, não vejo levantamento com mais credibilidade do que esse.

O cenário traçado na pesquisa publicada na edição 24, de outubro de 2011, é devastador. O rock nacional sumiu de qualquer emissora de rádio e não deixa vestígios, a não ser em horários dedicados a flashbacks e madrugada. O principal ranking da Billboard Brasil é o Brasil Hot 100 Airplay, que elenca as 100 músicas com maior execução entre 19 de agosto e 18 de setembro, reunindo tanto músicas nacionais como internacionais.

Só quatro artistas brasileiros de rock (se é que podemos chamar de rock) aparecem entre as 100 mais executadas no país no período: no 50º lugar, e melhor colocada, "Não é Normal", de NX Zero; 73º lugar, "Vou Cantar", do Restart; 92º lugar, "Em Choque", do Cine; e 100° lugar, "Me Acorde para a Vida", com CW7.

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 Foto: Estadão

São quatro bandas que estão longe de representar a boa qualidade que gênero sempre apresentou durante as três últimas décadas e com algum destaque.

São quatro artistas pouco ou nada representativos dentro do rock nacional, caindo mais para a vertente pop, e ainda com qualidade bastante duvidosa de seu trabalho - a exceção, talvez, seja o CW7, banda ainda relativamente pouco conhecida e que é de longe a melhor das quatro, distanciando-se um pouco do rótulo emo e que tem algum peso em suas músicas, apesar das letras frágeis e ainda pueris.

Se isso é o que representa o rock nacional nas paradas de sucesso da atualidade, é bom já encomendar o corpo, fazer o velório e mandar para o  crematório. Não há salvação, a não ser pelo underground. Nada de bandas incensadas pela imprensa cultural, como Vanguart, Cachorro Grande, Macaco Bong... e nada de artistas mais veteranos, mas que estão na ativa com força total, como os que tocaram no Rock in Rio. E ainda me disseram que esse cenário já ocorre há algum tempo. Então a coisa é bem mais grave: morreu e ninguém percebeu?

Tudo bem, a lista dos 100 da Billboard é uma imensa lata de lixo, nem mesmo o rock internacional tem destaque. Coldplay aparece em 44º lugar com "Every Teardrop is a Waterfall"; Red Hot Chili Peppers é o 96º, com "The Adventures of Rain Dance Maggie."

 

 Foto: Estadão

A predominância total é de artistas sertanejos (de goleada), de pagode e de forró. Na parte internacional, o pop mais porcaria que existe, com música eletrônica e porcarias como Lady Gaga, Rihanna, Pink, Avril Lavigne, Beyoncé e coisas do tipo.

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Os cinco primeiros lugares mostram o verdadeiro inferno, o fundo do poço total que é a música brasileira da atualidade e as emissoras de rádio, no geral: na ordem, "As Lembranças Vão na Mala", de Luan Santana, "Ai Se Eu Te Pego", com Michel Teló, "Não Precisa", com Paula Fernandes, "Pega Eu", com Fernando & Sorocaba, e "Não Seria Justo", com Exaltasamba.

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Nas listas regionais das 10 mais, não existe rock. Parece que o gênero nunca existiu ou foi extinto. A Billboard faz a pesquisa em 14 cidades - 11 capitais de Estados  mais Campinas, Vale do Paraíba e Ribeirão Preto. Em nenhuma das 14 listas o rock aparece, nem nacional nem internacional.

Qual a explicação? Onde o rock nacional errou? Em que momento morreu? Arrisco a dizer que se produziu um abismo a partir de 2005, com a falta de artistas promissores no rock e o predomínio cada vez mais avassalador do lixo pop que tanta alegria anda dando a um mercado de entretenimento/fonográfico agonizante e quase moribundo.

Ficou claro desde cedo que as bandas emo não tinham estofo, fôlego e qualidade para durar mais do que alguns meses, ou alguém se lembra hoje do CPM 22, do Fresno? E onde está hoje o tal do NX Zero, despencando nas paradas de sucesso e desaparecido das emissoras de rádio? Tempos duros e tenebrosos para o rock nacional de qualidade.

 

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