A História da KFK Webradio - A Rádio Que Tocou Idéias... - parte 3

Luiz Carlos Barata Cichetto - poeta e escritor

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Por Redação
Atualização:

Ouço vozes, o tempo inteiro. E elas me ditam palavras e me dizem o que fazer... Então escrevo e preciso falar. Escrevo muito e falo demais. Preciso escrever e falar para que essas vozes me deixem em paz. É assim que me afasto de uma loucura bem maior, é assim que me afasto da angústia e do suicídio. São essas vozes que ouço que me fazem sonhar. E me fazem viver. E foi assim, ouvindo essas vozes que decidi que seria o momento de criar meu próprio projeto de rádio, ao menos na internet, já que as ferramentas eu tinha dominado e os custos eram bem acessíveis. E assim nasceu, ainda naquele final de ano de 2010, um de meus maiores projetos. E um dos meus maiores fracassos. 

 

 

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Antes de estabelecer os conceitos da KFK Webradio, e até mesmo antes de ter esse nome, eu havia escrito um texto falando sobre que era preciso alguém definir o que era a tal "radioweb". Aquilo não era rádio, mas algo que, usando algumas bases do que se convencionou como rádio, usava nova linguagem, novas plataformas e meios.E de fato era uma coisa diferente, uma outra mídia. E da mesma forma que assistir um filme na televisão não é cinema, rádio na Internet não é, definitivamente rádio. Mas mesmo assim, pois era o mais parecido com meu projeto de rádio, e por ser a única forma que eu poderia fazer, sem depender de concessões e apoios financeiros inatingíveis, resolvi criar uma "webradio". E como eu sempre ouvi vozes, achei de usar essas vozes na construção de algo que ia exatamente na mão inversa daquilo que se fazia. As rádios web são na imensa maioria, vitrolões tecnológicos e mesmo tendo alguns programas personalizados, seguem o sistema de tocador de musica. A maioria não tinha e ainda não tem personalidade, ou a tem demais, sendo apenas veículos pessoais de seus "proprietários". Em tempo: o conceito de dono de uma rádio não se aplica a uma rádio web, pois não existe nada, nem estúdios, nem profissionais nem equipamentos. A propriedade quando muito se aplica ao computador onde o "dono" cria suas "playslists" ou ao domínio na Internet. E isso é bom e mal ao mesmo tempo, pois se por um lado, extingue de certa forma o conceito empresa do rádio, cria por outro um organismo acéfalo sem qualquer estrutura organizacional e sem o menor critério. 

 

Pois então, ao estabelecer os critérios de criação e funcionamento da rádio, busquei primeiro opiniões e participação de pessoas, crente que com essas pessoas, cabeças pensantes e braços de trabalho, chegaríamos a um amalgama de desejos e sentimentos únicos. Comecei a errar aí.Algumas pessoas se comprometeram a participar, mas logo nos primeiros trabalhos pularam fora. A participação também envolvia custo financeiro e que, dividido estaria acessível a todos, por ser bem baixo. De novo errei e ainda tive que escutar que ninguém põe dinheiro no sonho alheio. A conversa de "sonho que se sonha só..." é apenas um blá-bla-blá inútil que na pratica não existe. Ou existe desde que o sonhador "principal" o torne realidade e depois os outros sonhadores passivos dividam o sucesso (ainda o termo "sucesso" como realização). Em outras palavras, o sucesso é assumido, desde que não dê trabalho nenhum. Não existe mais o compromisso com o coletivo e "comunidade" é apenas um nome pomposo para favela...

 

Durante quatro meses preparei o terreno, defini o estilo musical predominante, embora um tanto aberto, com poucas exceções e primando pela qualidade musical. Criei o nome, vinhetas, com a locução profissional, criei e produzi dezenas de programas. Mas o principal estavam nas intervenções, espécie de intervalos entre blocos de musicas e programas onde eram apresentados leituras de poesia, declarações de outros artistas e pensadores, história do rádio, áudio integral de filmes e desenhos animados e até hinos de clubes de futebol. E assim nasceram intervenções como: Almanaque KFK (aberturas de séries e desenhos animados) ; Cópia Infiel, Katarze, KFK FC, Poesia é Merda!, PQP - Puta Que Pariu!, Quer Um Queijo?, Renitências, Sessão Desenho, com áudios de episódios de desenhos animados, Sombras Sonoras, Sub-Versões, Tem Cigarro Aí? E outros. Quanto aos programas estavam, além do Rádio Barata que em determinado momento foi apresentado diariamente, Cinema Cego, que era o áudio integral de um longa metragem, Concertos Para a Juventude, Prisma, uma programação de um dia inteiro apenas dedicada a uma única banda, no caso o Pink Floyd, Rádio Liquida, Heróis do Brasil, Fusão Cinésica Essencial e outros. Alguns programas foram criados e entregues a produção e apresentação de outras pessoas, como foi o caso do Faixa 7, que apresentava sempre as faixas de numero sete de determinados artistas ou bandas. Além disso, foi aberto espaço a todos aqueles que se dispusessem a produzir e apresentar programas, com liberdade total de produção, chegando a existir 18 programas produzidos e apresentados por outras pessoas. E nesse ponto todos ouvíamos vozes. Vozes como a de Ricardo Alpendre, cantor e locutor profissional que gravara a maior parte das vinhetas, Anna Gonçalez, Agostinho Carvalho, Renato Pittas, Gisela Jardim, Marcelo Rocha, Raul e Ian Cichetto, Marcelo Diniz, Amyr Cantusio Junior, André Sachs, Antonio Canella, Renato Paiva, Caverna, Paulo Stekel, Bell Giraçol e Delma Mattos. Vozes... Vozes.

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