20 anos de grunge: o rock não merecia descer tão baixo

Marcelo Moreira

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Por Redação
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Não perca por esperar: 2011 será o ano da avalanche de reportagens documentários lembrando e homenageando os 20 anos de surgimento do grunge, aquele pseudomovimento musical repleto de músicos ruins e canções idem que apareceu em 1991 fruto de mais uma das supostas crises da indústria fonográfica.

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O sucesso da música "Smells Like Teen Spirit" (do álbum Nevermind) surpreendeu toda a indústria da música. O álbum, segundo da carreira do Nirvana, foi um hit que atingiu o primeiro lugar em todo o mundo. O Pearl Jam, outra banda que começava então a conseguir popularidade, havia lançado seu álbum de estréia, Ten, um mês antes que o segundo álbum do Nirvana, em Agosto de 1991, mas suas vendas só decolaram após o sucesso da banda de Kurt Cobain.

O Combate Rock se antecipa a todo mundo e trata de colocar o grunge no seu devido lugar no ano em que se completam 20 anos de seu surgimento: um bando de moleques que não sabiam tocar querendo imitar tanto a música como a atitude punk, mas sem êxito, além de "criar" uma suposta estética (em todos os sentidos) despojada, mas que na verdade revelou apenas total falta de criatividade.

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O pior é que o embuste colou, pois jornalistas norte-americanos tontos sem cultura acharam que havia alguma novidade naqueles garotos semianalfabetos e sem a menor noção do que era música em Seattle.

Inventaram uma cena que não existia, insistiram no embuste e acabaram convencendo um bando de coitados - primeiro nos Estados Unidos, depois no mundo inteiro - que existia um "movimento" musical em Seattle, com moleques "despojados, independentes, mas criando algo novo e revolucionário".

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Uma grande bobagem, mas que acabou se tornando um imenso golpe de marketing - parabéns aos gênios das gravadoras da época, que conseguiram cooptar a molecada com "atitude" e "independência" com uma facilidade incrível.

 Foto: Estadão

Conseguiram recriar um ambiente punk em plenos anos 90, mesmo com o punk morto e enterrado devido aos seus próprios vícios, defeitos e excessos. Coitados dos punks, pois afirmar que o grunge, seja como "movimento" ou como "estética", era baseado no punk rock é uma ofensa gigante.

O movimento punk pode não ter sido tão relevante musicalmente quanto se imagina (e não foi mesmo), mas como fenômeno cultural foi um marco na cultura ocidental, goste-se disso ou não. Impregnou o mundo de um sentimento de anarquia, revolta e desilusão como nenhum outro movimento jovem conseguiu. Goste-se ou não, aquilo foi uma revolução.

São apenas duas as conexões entre o punk e o grunge: a pouca duração e a imensa quantidade de músicos ruins, que não sabiam tocar. No mais, o grunge como "movimento" musical ou de comportamento foi um embuste. Rapidamente cooptados pelo sistema, os músicos não passaram de marionetes nas mãos do mercado fonográfico.

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Pode dar certo por um tempo - e deu, por uns três ou quatro anos. Afinal, se tem gente que gosta de lixos como música pop, o rhythm and blues atual norte-americano, axé, sertanejo e MPB cabeçuda, por que não haveria indigentes culturais que cairiam no golpe do grunge?

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O fato é que o grunge durou bem menos que o punk. Kurt Cobain, guitarrista e vocalista do Nirvana, péssimo guitarrista e mau compositor, posou de garotinho atormentado e incompreendido e preferiu se matar a encarar sua indigência musical e a decadência do movimento.

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A única coisa que prestava foi justamente a única que banda que sobreviveu e que ainda existe, o Pearl Jam, hoje livre do rótulo maldito de grunge - para sorte da banda.

O melhor artista, o mais promissor, Chris Cornell, vocalista do pastiche de Black Sabbath chamado Soundgarden, se perdeu pelo caminho mais fácil - e também mais perigoso - da música pop. A única coisa que fez de bom foi o Audioslave - que o próprio Cornell se encarregou de implodir.

É até vergonhoso comparar o "legado" do grunge com o do punk. The Clash, The Jam, Buzzcocks, Sham 69, Stiff Little Fingers e pelo menos mais uma dúzia de bandas punks entraram na história do rock pela porta da frente.

No grunge, só Pearl Jam teve essa honra. Nirvana? É o produto emblemático musical daquela era nefasta do rock: musicalmente rudimentar, raquítico e claudicante, acabou cooptado pelas gravadoras e virou o símbolo (perfeito) do suposto "movimento".

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 Foto: Estadão

O atormentadinho Cobain, com sua pobre e atomentadinha vidinha de pop star, ganhou mais notoriedade do que sua música e sua banda - prova inequívoca da indigência de conteúdo do suposto movimento grunge. Não dá para levar a sério, tanto que pouca gente ainda cai nesta esparrela.

O grunge ao menos deu uma lição no rock: varreu para o lixo o artificialismo do hard rock farofa que dominou a música na segunda metade dos anos 80, vírus nocivo que contaminou muita gente boa, como Judas Priest, Saxon e Whitesnake, entre outros. Só mesmo um mercado fonográfico putrefato por esse tipo de artificialismo poderia permitir a ascensão do grunge.

Há gente dentro da equipe de Combate Rock que não concorda com este posicionamento, e espero ansiosamente que este texto seja rebatido à altura. Mas o veredicto está dado: o fim do grunge - e sua ida para o limbo da memória - só fez bem ao rock e à cultura em geral. Parabéns pelos 20 anos. Parabéns?

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