Biutiful é o primeiro filme 'solo' do mexicano Alejandro Iñárritu após o fim da parceria com o roteirista Guillermo Arriaga, que resultou nos badalados Amores Brutos, 21 Gramas e Babel. No novo trabalho, o diretor retoma o teor dramático dos filmes anteriores, mas, finalmente, abre mão da fragmentação narrativa e da pluralidade de núcleos. Centrado na figura de Uxbal (Javier Bardem, premiado em Cannes por sua atuação), o longa se passa numa Barcelona irreconhecível, de ruelas imundas e apartamentos mofados. É o universo dos imigrantes e do trabalho informal - eufemismo, neste caso, para a escravidão contemporânea.
Uxbal sobrevive como intermediador de trabalhadores chineses e senegaleses, seus patrões e a polícia corrupta. Quando se vê com câncer, tenta assegurar o futuro dos filhos, única dimensão imaculada de sua vida, e se redimir de seus crimes - dos quais, como uma espécie de herói trágico, é mais vítima. O filme concorreu ao Globo de Ouro e está entre os nove 'pré-selecionados' na categoria de melhor longa estrangeiro no Oscar. (Os indicados saem na 3ª.) Sua sordidez extremada, porém, pode assustar os jurados da Academia, que costumam preferir opções mais 'digeríveis'. Carol Arantes