Leandro Nunes
13 de outubro de 2019 | 16h39
Depois de um dia com experiências cênicas que se apoiam na força da palavra e na contundência do discursos com centro da cena, a montagem da Cia Camarim, de Sorocaba, rompeu com esta ordem.
Inspirada em O Tambor, texto de Zeami Motokyo – gênio do teatro tradicional japonês -, a companhia aposta em conceber uma sensível percepção do tempo.
Esqueça uma construção delineada de personagens ou uma narrativa clara, ou mesmo palavras.
A encenação persegue fundir movimento e imagem com o uso do tempo como matéria prima.
Logo na primeira cena, uma locomotiva de sonho parece se esticar para além das coxias, como se tivesse desembarcado de um mundo outro.
Luz e som integram parte importante para que esta percepção funcione. Mesmo a música carece de exploração, uma vez que a sonoridade pode ampliar as possibilidades dessa cena-quadro.
No elenco, as imagens se multiplicam. Máscaras que flutuam no ar, tules e uma princesa fantasma. Ao se apoir na dilatação do tempo, o trio Maria Helena Barbosa, Júlio Scandolo e Hamilton Sbrana desafia a ordem das palavras como primeira percepção de mundo.
Antes, libertar o palco da necessidade do falar como comunicação e construção de poesia surge como contraponto de toda a Mostra.
Nesse campo, há desafios em sempre primar pela dilatação do tempo. Seja pela técnica ou pela formação da imagem e do movimento, nem sempre a cena permanece vibrando com o elenco em cena.
Há de se experimentar caminhos de suspensão com o objetivo de expor intenções e trazer à superfície motivos mais internos.
De fato, inverter, devolver, a subjetividade do elenco em direção ao palco pode fornecer material estético e poético pronto para se fundir com o que já existe no trabalho.
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