"Tem um buraco no braço do papai para onde todo o dinheiro vai. Acho que Jesus morreu por nada".
Essa é parte da letra de Sam Stone, um dos clássicos de John Prine. Enquanto muitos exaltavam os soldados que lutavam no Vietnã, ele decidiu mostrar a realidade de quem voltava da guerra. Um veterano que começa a roubar para sustentar o vício em heroína, a única coisa que consegue anestesiar as angústias criadas durante o conflito do outro lado do mundo. É uma verdade dura dita por quem fazia parte de uma comunidade extremamente conservadora - o country.
John Prine sobreviveu a um câncer severo no pescoço que refundou sua carreira com uma voz totalmente diferente, mas, aos 73 anos, não resistiu a complicações causadas pela infecção do coronavírus.
É difícil explicar como um ex-carteiro pode ter influenciado gente do calibre de Bob Dylan, um prêmio Nobel de Literatura, e Johnny Cash. A música é assim, muitas vezes as canções mais urgentes saem dos lugares menos esperados.
As redes sociais começam a ser inundadas por mensagens de gente que amava o cantor: John Cusack, Michael Moore, Stephen King. Aqui um vídeo (antigo) de Bill Murray sobre como a antologia Great Days, indicada por Hunter Thompson,ajudou ele a superar uma fossa profunda.
O último disco dele, The Tree of Forgiveness, traz uma voz marcante, muito rouca, de quem sobreviveu a um câncer grave. Ele teve que reconquistar a confiança e aprender a cantar novamente. As letras são cheias de sabedoria de alguém que já viu tudo. Em uma entrevistadepois do lançamento do álbum, ele contou que precisou sair de casa e se hospedar em um hotel para mudar a rotina e ter a disciplina para compor. É uma pena que ele tenha feito check-in no andar de cime durante essa pandemia, ele ainda tinha algumas coisas para ensinar ao mundo.
https://open.spotify.com/album/13UwfQZqne7ZQIkUZsAPLg