Alexandre Ferraz Bazzan
14 de abril de 2020 | 22h59
Amigos, todos nós que estamos em quarentena ganhamos, contra a nossa vontade, tarefas que vão desde a sanidade mental até cozinhar e lavar a louça. Comigo não foi diferente. E se essas escolhas de discos eram uma ajuda para manter a cabeça boa, também era um trabalhinho a mais. O blog continua, mas essas postagens quase diárias acabam aqui. Acho que vocês já têm uma discografia legal para a trilha sonora dos próximos dias:
‘Acabou Chorare’ – Novos Baianos
‘The Tree of Forgiveness’ – John Prine
‘Exile in Guyville’ – Liz Phair
‘Exile on Main St.’ – The Rolling Stones
‘Even Serpents Shine’ – The Only Ones
‘Caetano Veloso’ (1971) – Caetano Veloso
‘Life in the dark’ – The Felice Brothers
‘Third/Sister Lovers’ – Big Star
‘Ocean Rain’ – Echo & the Bunnymen
‘Gilberto Gil’ (ou ‘Cérebro Eletrônico’) – Gilberto Gil
Antes de me despedir, eu deixo uma última dica: The Soft Bulletin, do Flaming Lips. É impressionante que este disco de 1999 seja o nono deles. Apesar dos cabelos brancos do vocalista Wayne Coyne, a impressão é que eles não são tão antigos (só que eles são e no começo era o irmão de Wayne, Mark Coyne, quem liderava os vocais. Ele saiu em 1983 e Wayne, que já tocava guitarra na banda, assumiu).
The Soft Bulletin é considerado um afastamento dos sons experimentais, mas isso é verdade apenas considerando os padrões do Flaming Lips – o álbum anterior, Zaireeka, era um disco quadruplo e os quatro deveriam ser tocados ao mesmo tempo ou em variações de dois ou três simultaneamente para formar os sons pensados pela banda. Quem tinha quatro cd players em 1997?
A verdade é que The Soft Bulletin tem uma sonoridade bonita, mais acessível (mais uma vez para os padrões do Flaming Lips), mas não faltam experimentações. Aqui eles usam todos os recursos possíveis – batidas eletrônicas e sintetizadores, além de todo o resto que uma banda de rock tem no cardápio.
As letras ainda mantêm um ar de psicodelia, mas é como se Wayne Coyne quisesse passar alguma tranquilidade para as pessoas em um mundo em convulsão. A letra de Race for the Prize, que abre o disco, parece uma mensagem enviada diretamente de 1999 para 2020:
Dois cientistas estão correndo
Para o bem de toda a humanidade
Ambos lado a lado
Tão determinados
Trancados em uma batalha quente
Pela cura que é o seu prêmio
Mas é tão perigoso
Mas eles estão determinados
Deles é ganhar
Se isso os mata
Eles são apenas humanos
Com esposas e filhos
Para cima para a vanguarda
Onde a pressão é muito alta
Sob o microscópio
Esperança contra esperança
Impressionante, né?
Eu fico por aqui, mas você pode continuar essa conversa no Twitter, me indicar os seus discos preferidos e pedir alguma dica para mim. Fiquem bem. Deixo vocês com esse trecho bonito de Waitin’ for a Superman:
Está ficando pesado?
Eu achei que já estivesse o mais pesado possível
Diga a todos que esperam pelo Super-Homem
Que eles deveriam tentar aguentar o melhor que puderem
Ele não os deixou cair
Esqueceu
Ou nada
Está apenas muito pesado para o Super-Homem levantar
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