'Nada mais certo que retirá-los' - ROSA RAMOS, ADVOGADA DA COMISSÃO DE MEIO AMBIENTE DA OAB-SP
Marcela Spinosa
CONTRA
"Se o atestado dos especialistas em fauna silvestre do Ibama comprovou que o local não era adequado para os urubus, nada mais correto do que retirá-los de lá. É sempre de bom senso revisar as decisões. Ainda que o Ibama tivesse autorizado, as pessoas também são passíveis de erro."
"É hipocrisia se preocupar tanto com a saúde de animais que têm respaldo veterinário, enquanto se passa diariamente por mendigos na rua sem fazer nada. Não existe a preocupação com o bicho homem. O motivo foi censura com falsa argumentação ambientalista. Tem gente aplaudindo e mantendo canário na gaiola. "
A FAVOR
Viviane Biondo
Parte do público que visitou ontem a 29ª edição da Bienal de São Paulo ficou decepcionada com a saída dos três urubus da instalação Bandeira Branca , do artista Nuno Ramos. Para eles, a obra ficou sem vida. As aves foram removidas anteontem de lá por determinação da Justiça. Amanhã, a Fundação Bienal deve decidir com o artista se o que restou da obra permanecerá na mostra.
O ator Affonso Lobo, de 35 anos, classificou a decisão da Justiça e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama), que cancelou a licença dada de exposição dos animais, como "mutilação" à obra. Ele viu a instalação com e sem as aves. "Os urubus eram o contraponto às peças sólidas e escuras da instalação. Simbolizavam a vida na obra. Agora não dá para entender a mensagem do artista. "
Os urubus ficavam confinados em uma área delimitada por rede de proteção cujo interior tem três peças geométricas e três postes de areia negra com caixas de som.
A engenheira Ângela Fonseca, de 49, não gostou da ideia do artista em colocar os animais na peça, mas ficou curiosa com a obra e foi ontem a Bienal vê-la de perto. "Falta algo. Não dá para entender o que o artista quer passar. " Já o pai dela, o pintor Armado Peres, de 80, comemorou a volta dos animais para o Parque dos Falcões, em Sergipe, de onde vieram e vivem em cativeiro. "Urubu deve comer bicho morto e não ficar aqui. "
Os urubus chegaram em Sergipe ontem às 6 horas. "Lamento o fato de eles terem voltado antes da data prevista", disse o veterinário Willian dos Anjos Pereira, do Parque dos Falcões. "O que provocou o retorno é que foi muito chato. Foram questões políticas influenciando uma outra área. "
O curador da Bienal, Agnaldo Farias, concorda. "Foi péssima a saída dos urubus. O Ibama desautorizou o próprio Ibama, que havia concedido a licença e depois a cancelou". Ele, porém, não considera a decisão da Justiça como censura. "É incompreensão a um trabalho de arte. "
Já a crítica de arte Angélica de Moraes considera censura a retirada dos animais. "Tem gente que aplaudiu a decisão enquanto mantém um canário na gaiola, sem espaço para voar. "
A historiadora da arte, crítica e curadora da Fundação Nemirovsky, na Pinacoteca do Estado, Maria Alice Milliet, disse que a instalação de Nuno cumpriu a missão. "A obra de arte tem o papel de levantar questões e colocá-las em debate. Principalmente na Bienal, que sempre teve o espírito de trazer o que há de mais avançado no campo da arte. " Para Rosa Ramos, vice-presidente da Comissão de Meio Ambiente da Ordem dos Advogados de São Paulo (OAB-SP), a instalação era inadequada. "Por mais que o Ibama tenha dado autorização, as pessoas também são passíveis de erros. "