Felipe Branco Cruz
Quem quiser ver as mais de 800 obras, criadas por 159 artistas e expostas na 29ª edição da Bienal de Artes de São Paulo precisará reservar, pelo menos, um dia inteiro. Algumas dessas obras já ganharam o carimbo de "imperdíveis". É o caso de Inimigos, de Gil Vicente, que mostra o artista assassinando figuras públicas - como Lula e Fernando Henrique Cardoso -, dos urubus da instalação Bandeira Banca , de Nuno Ramos e da 350 Points Towards Infinity, da italiana Tatiana Trouvé, em que pêndulos presos ao teto cruzam-se e ficam parados no ar, graças à ação de um campo magnético.
Mas a Bienal também tem pequenas joias raras, que somente aqueles que a visitarem com calma poderão observar. Com as dicas do curador do evento, Agnaldo Farias, garimpamos sete desses achados. São obras que se destacam pela forma simples e por serem absurdamente provocantes ao espectador. É o caso, por exemplo, de
Beggars, do turco Kutulug Ataman. Trata-se de uma projeção em alta definição de seis vídeos de mendigos. As cenas são tão reais que chegam a incomodar. Como os pedintes foram filmados olhando diretamente para as lentes da câmera, de qualquer ângulo que o espectador olhe, ele terá a nítida impressão de que o mendigo o está encarando. Outra sugestão é a obra do cubano Carlos Garaicoa, Las Joyas de La Corona. Utilizando prata fundida como matéria-prima, ele reproduziu oito miniaturas de edifícios que significam o poder estatal, como a Base de Guantánamo, a KGB e o Pentágono. Confira, a seguir, essas e outras pérolas artísticas que garimpamos na Bienal. Tudo para que você curta a mostra com um olhar mais apurado.
A seleção
Obra: Beggars
Artista: Kutlug Ataman (Turquia)
Descrição: Seis projeções em alta definição de mendigos.
Por que vale: Trata-se de uma instalação perturbadora, pois faz o espectador olhar para pessoas consideradas 'invisíveis' nas ruas.
Obra: Not I
Artista: Samuel Beckett (Irlanda)
Descrição: Versão em vídeo da peça homônima.
Por que vale: Foca numa boca.
Percebe-se que a boca fala, mas não se compreende o que diz. A boca vira apenas um órgão de emissão.
Obra: Buraco Negro
Artista: Cinthia Marcelle (Brasil)
Descrição: Dois personagem fora de foco dialogam pelas sombras.
Por que vale: Vídeo-instalação em que as cores branco e preto se destacam. É preciso acompanhar o vídeo para entender a história.
Obra: Las Joyas de la Corona
Artista: Carlos Garaicoa (Cuba)
Descrição: Miniaturas em prata fundida de prédios de governos.
Por que vale: Lugares feitos para mostrar poder, como Estádio do Chile, palco de torturas na ditadura daquele país. Cada obra é uma joia, assim como o governo vê esses prédios.
Obra: O Jardim, Faço Nele a Volta ao Infinito - Parte 01
Artista: Albano Afonso (Brasil)
Descrição: Jogo de luzes e espelhos, projeções e sombras.
Por que vale: O espectador interfere na obra, tendo várias percepções de um mesmo tema.
Obra: O que é arte?
Artista: Paulo Bruscky (Brasil)
Descrição: Série de fotografias do autor pelas ruas do Recife.
Por que vale: O autor escolheu fazer arte utilizando anúncios de jornais ou saindo às ruas fantasiado de homem-sanduíche.
Obra: Las Aventuras de Guille y Belinda
Artista: Alessandra Sanguinetti (Argentina)
Descrição: Ensaio fotográfico.
Por que vale: Belíssimas fotos de duas crianças recriando seus mais estranhos sonhos.