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Literatura e mercado editorial

Waly Salomão em SP: Lançamento de 'Poesia Total' terá Bruna Beber, Marcelino Freire e outros

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Atualização:

Poesia Total, volume que reúne todos os livros de Waly Salomão e algumas de suas canções, será lançado em São Paulo no sábado, dia 31. Estão programadas leituras de poemas e foram convidados Bruna Beber, Marcelino Freire, Fabiana Cozza e Elias Andreatto, entre outros. Será às 17h, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional (Av. Paulista, 2.073).

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Fiz uma matéria para o Caderno 2 de sábado passado (leia aqui) - o livro foi lançado no Rio na segunda-feira. Conversei com Omar, filho de Waly e poeta como o pai, com Antonio Cicero, amigo de longa data, e com dois poetas na nova geração que foram influenciados pelo, como disse a Mariana Ianelli na resenha que ela escreveu para o Estadão, happening-ambulante: Ramon Mello e Bruna Beber.

Uma amostra do que tem no livro:

POESIA

Barroco Mundo e ego: palcos geminados. Quero crer que creio E finjo que creio Que o mundo e ego Ambos São teatros Díspares E antípodas. Absolutos que se refratam/difratam... Espelhos estilhaçados que não se colam. Entanto são Ecos de ecos que se interpenetram Partículas de ecos ocos, partículas, partículas de ecos plenos que se conectam Aí cosmos são cagados, cuspidos e escarrados pelo opíparo caos E o uso do adjetivo está correto Pois que o caos é um banquete. Fantasmas de óperas. Ratos de coxias. Atos truncados. Há uma lasca de palco em cada gota de sangue em cada punhado de terra de todo e qualquer poema.

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Sargaços (para Maria Bethânia) Criar é não se adequar à vida como ela é, Nem tampouco se grudar às lembranças pretéritas Que não sobrenadam mais. Nem ancorar à beira-cais estagnado, Nem malhar a batida bigorna à beira-mágoa.

Nascer não é antes, não é ficar a ver navios, Nascer é depois, é nadar após se afundar e se afogar. Braçadas e mais braçadas até perder o fôlego (Sargaços ofegam o peito opresso), Bombear gás do tanque de reserva localizado em algum ponto Do corpo E não parar de nadar, Nem que se morra na praia antes de alcançar o mar.

Plasmar bancos de areias, recifes de corais, ilhas, arquipélagos, baías, espumas e salitres, ondas e maresias.

Mar de sargaços

Nadar, nadar, nadar e inventar a viagem, o mapa, o astrolábio de sete faces, O zumbido dos ventos em redemoinho, o leme, as velas, as cordas, Os ferros, o júbilo e o luto. Encasquetar-se na captura da canção que inventa Orfeu Ou daquela outra que conduz ao mar absoluto.

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Só e outros poemas Soledades Solitude, récif, étoile.

Através dos anéis escancarados pelos velhos horizontes Parir, desvelar, desocultar novos horizontes. Mamar o leite primevo, o colostro, da Via Láctea. E, mormente, remar contra a maré numa canoa furada Somente para martelar um padrão estóico-tresloucado De desaceitar o naufrágio. Criar é se desacostumar do fado fixo E ser arbitrário.

Sendo os remos imateriais

(Remos figurados no ar pelos círculos das palavras.)

Música

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De Volta Para o Futuro Em matéria de previsão eu deixo furo Futuro, eu juro, é dimensão Não consigo ver Nem sequer rever Isto porque, no lusco-fusco Ora pitomba, Minha bola de cristal fica fosca Mando bola no escuro Acerto o tiro na boca da mosca Ouras tantas giro a Terra toda às tontas Dobro o cabo das tormentas, rebatizo Boa Esperança E vou pegando pelo rabo a lebre de vidro, Do acaso por acaso Em matéria de previsão só deixo furo Futuro, eu juro, é dimensão Vejo bem no claro E tão mal no escuro Minha vida afinal navega tal e qual Caravela de Cabral Um marinheiro mete a cara na janela e grita Sinal de terra, terra à vista Tanto faz, Brasil ou Índia Ocidental, Oriental Ó sina, começa sempre a dança Recomeça, sempre recomeça a dança da sinuca Sempre recomeça a dança a mesma dança da sinuca vital

Assaltaram a Gramática Assaltaram a gramática Assassinaram a lógica meteram poesia na bagunça do dia a dia Sequestraram a fonética Violentaram a métrica Meteram poesia onde devia e não devia Lá vem o poeta com sua coroa de louro, Agrião, pimentão, boldo O poeta é a pimenta do planeta (Malagueta!)

Vapor barato Oh, sim, eu estou tão cansado Mas não pra dizer Que eu não acredito mais em você Com minhas calças vermelhas Meu casaco de general Cheio de anéis Vou descendo por todas as ruas E vou tomar aquele velho navio Eu não preciso de muito dinheiro Graças a Deus E não me importa, honey

Minha honey baby Baby, honey baby Oh, minha honey baby Baby, honey baby

Oh, sim, eu estou tão cansado Mas não pra dizer Que eu tô indo embora Talvez eu volte Um dia eu volto Mas eu quero esquecê-la, eu preciso Oh, minha grande Ah, minha pequena Oh, minha grande obsessão

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Oh, minha honey baby Baby, honey baby Oh, minha honey baby Honey baby, honey baby

A música na voz de Jards Macalé, parceiro de Waly:

//www.youtube.com/embed/iMjgSptp1Zw

Mel Ó abelha rainha faz de mim Um instrumento de teu prazer Sim, e de tua glória Pois se é noite de completa escuridão Provo do favo de teu mel Cavo a direita claridade do céu E agarro o sol com a mão É meio-dia, é meia-noite, é toda hora Lambe olhos, torce cabelos, feiticeira vamo-nos embora É meio-dia, é meia-noite, faz zumzum na testa Na janela, na fresta da telha Pela escada, pela porta, pela estrada toda a fora Anima de vida o seio da floresta O amor empresta a praia deserta zumbe na orelha, concha do mar Ó abelha, boca de mel, carmin, carnuda, vermelha Ó abelha rainha faz de mim um instrumento do seu prazer

Ouça Caetano Veloso cantando Mel:

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//www.youtube.com/embed/pOHcsB_Fwxo

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