Literatura e mercado editorial

Venda de livro em livrarias despenca no Brasil em 2018, aponta Fipe


Estimado em R$ 5,1 bilhões, o mercado editorial volta a apresentar números negativos na nova edição da pesquisa Produção e Venda do Setor Editorial e encolhimento de 4,5%

Antes dos números, o contexto.

O ano de 2018 foi de grandes provações para o mercado editorial brasileiro. A recessão experimentada a partir de 2014, quando o desempenho nulo do ano anterior deu lugar à uma sequência de quedas nos anos seguintes, foi acentuada no ano mais caótico já vivido pelo setor, que não só assistiu, como participou, dos capítulos mais tristes da história das redes de livraria Saraiva e Cultura: dívidas, calotes, fechamento de lojas, pedido de recuperação judicial.

A incerteza com relação ao presente e futuro das duas empresas foi o tema do ano. E os efeitos da crise delas foram sentidos, em maior ou menor escala, por todas as editoras brasileiras, que pagaram a produção de seus livros e não receberam pelo que foi vendido, que demitiram e passaram a publicar menos - apostando, claro, nos títulos com mais potencial de venda.

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Livraria Cultura está em recuperação judicial ( Foto: Hévio Romero/Estadão)

Os números da Pesquisa Produção e Venda do Setor Editorial Brasileiro, revelados nesta segunda, 29, comprovam o cenário desolador. Em 2018, o mercado editorial apresentou queda nominal de 0,9%, o que significa um decréscimo real de 4,5% (considerando a inflação do período). O levantamento, feito pela Fipe por encomenda da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional de Editores de Livros (Snel), divide o desempenho das editoras entre 'mercado' (venda em livrarias, distribuidores, escolas, igrejas, bancas, etc.) e 'governo' (programas de compras para estudantes e bibliotecas escolares).

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A conjuntura tornou o 'mercado' o grande vilão de 2018, com queda real de 10,1%. E os dados que seguem dizem respeito a ele. Religião foi o subsetor com desempenho menos pior - único com crescimento nominal, embora no fim das contas isso signifique um decréscimo real de 2,6%. O setor de didáticos registrou queda real de 9,1%; o de obras gerais caiu 6,8% e o CTP (Científico, Técnico e Profissional), 20,3% - se analisado o período de 2014 a 2018, esse setor encolheu 44,9%.

As livrarias têm sido o principal canal de comercialização de livros no Brasil. As lojas físicas ainda têm uma participação relevante, mas perderam muito espaço em 2018 - decréscimo de 20,84% no faturamento das editoras e de 20,62% nos exemplares vendidos. Outros canais aproveitaram a brecha e registraram franco crescimento. Em faturamento, destaque para distribuidores (27,29%), marketplaces (26%) e livrarias exclusivamente virtuais (25,2%). Em número de exemplares comercializados, os canais que registraram maior crescimento, mesmo que alguns tenham uma pequena participação do mercado, foram bibliotecas privadas (72%), livrarias exclusivamente digitais (32,8%), marketplaces (31,2%), distribuidores (17,4%) e empresas (13,1%).

Diante das incertezas do que estava por vir, as editoras publicaram menos em 2018. O número de exemplares produzidos sofreu queda de 11%. Isso quer dizer que foram produzidos 43,3 milhões de exemplares a menos em 2018 do que em 2017.

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As editoras priorizaram a reimpressão em pequenas tiragens, e não o lançamento de novos títulos. No ano passado, elas lançaram 14.639 novos títulos (-8,96%), que resultaram em 70.544.691 exemplares (-9,88%), e reimprimiram 32.189 títulos (-1,86%), num total de 297.369.952 exemplares (-11,31%). Dos novos livros, 5.626 (-14,2%) foram traduzidos e 9.013 (-5,4%) foram escritos por brasileiros.

Nenhuma área temática se saiu bem em 2018, no que diz respeito ao número de exemplares produzidos. As quedas menos acentuadas foram nos livros religiosos (-3,88%), educação física e esportes (-3,89%) e didáticos (-9,32%). Considerando apenas os temas mais gerais, os piores desempenhos foram em literatura juvenil (-32,12%), artes (-30,42%), ciências humanas e sociais (-26,59%), literatura adulta (-18,11%), autoajuda (-15%), infantil (-15,33%) e biografias (11,99%).

O preço médio do livro aumentou em todos os subsetores: didáticos (R$ 34,65; 5,59%), obras gerais (R$ 11,60; 7,07%), religiosos (R$ 9,49; 3,64%), CTP (R$ 46,53%; 3,89). Isso não significa que o comprador pagou esses valores, mas que as editoras ganharam isso em média.

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Os resultados só não foram piores por causa da venda para o governo (em todas as esferas). As compras são sazonais, e isso justifica as oscilações observadas ano a ano. Houve um crescimento de 17,81% no faturamento em comparação com 2017, e o valor de R$ 1,43 bi, resultado de todas as vendas, foi o maior desde 2013 (R$ 1,47 bi). Com relação ao número de exemplares vendidos também houve aumento de 12% - de 132 milhões em 2017 para 149 milhões em 2018. Em 2019, o governo federal comprou livros para os programas PNLD (Programa Nacional do Livro Didático) e PNLD Idade Certa, num total de R$ 1,33 bilhão.

"Tivemos um primeiro trimestre muito forte. Como vínhamos de quatro anos de queda, com um 2017 mais razoável, achei que 2018 seria um ano de recuperação. Foi frustrante. Muito duro para as editoras - em queda de receita e em valores que ficaram pendurados nas livrarias. Agora, vamos cuidar da reconstrução", diz Marcos da Veiga Pereira, presidente do Snel. O 'valor pendurado' a que se refere diz respeito às dívidas da Saraiva e Cultura com as editoras: R$ 360 milhões.

Vitor Tavares, presidente da CBL, acredita que o mau desempenho das livrarias não deve se repetir na próxima pesquisa. E ele destaca, ainda, a necessidade de formar leitores e de "incentivar o governo a manter os programas de compras de livros."

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(Atualizada às 20h25)

Antes dos números, o contexto.

O ano de 2018 foi de grandes provações para o mercado editorial brasileiro. A recessão experimentada a partir de 2014, quando o desempenho nulo do ano anterior deu lugar à uma sequência de quedas nos anos seguintes, foi acentuada no ano mais caótico já vivido pelo setor, que não só assistiu, como participou, dos capítulos mais tristes da história das redes de livraria Saraiva e Cultura: dívidas, calotes, fechamento de lojas, pedido de recuperação judicial.

A incerteza com relação ao presente e futuro das duas empresas foi o tema do ano. E os efeitos da crise delas foram sentidos, em maior ou menor escala, por todas as editoras brasileiras, que pagaram a produção de seus livros e não receberam pelo que foi vendido, que demitiram e passaram a publicar menos - apostando, claro, nos títulos com mais potencial de venda.

Livraria Cultura está em recuperação judicial ( Foto: Hévio Romero/Estadão)

Os números da Pesquisa Produção e Venda do Setor Editorial Brasileiro, revelados nesta segunda, 29, comprovam o cenário desolador. Em 2018, o mercado editorial apresentou queda nominal de 0,9%, o que significa um decréscimo real de 4,5% (considerando a inflação do período). O levantamento, feito pela Fipe por encomenda da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional de Editores de Livros (Snel), divide o desempenho das editoras entre 'mercado' (venda em livrarias, distribuidores, escolas, igrejas, bancas, etc.) e 'governo' (programas de compras para estudantes e bibliotecas escolares).

A conjuntura tornou o 'mercado' o grande vilão de 2018, com queda real de 10,1%. E os dados que seguem dizem respeito a ele. Religião foi o subsetor com desempenho menos pior - único com crescimento nominal, embora no fim das contas isso signifique um decréscimo real de 2,6%. O setor de didáticos registrou queda real de 9,1%; o de obras gerais caiu 6,8% e o CTP (Científico, Técnico e Profissional), 20,3% - se analisado o período de 2014 a 2018, esse setor encolheu 44,9%.

As livrarias têm sido o principal canal de comercialização de livros no Brasil. As lojas físicas ainda têm uma participação relevante, mas perderam muito espaço em 2018 - decréscimo de 20,84% no faturamento das editoras e de 20,62% nos exemplares vendidos. Outros canais aproveitaram a brecha e registraram franco crescimento. Em faturamento, destaque para distribuidores (27,29%), marketplaces (26%) e livrarias exclusivamente virtuais (25,2%). Em número de exemplares comercializados, os canais que registraram maior crescimento, mesmo que alguns tenham uma pequena participação do mercado, foram bibliotecas privadas (72%), livrarias exclusivamente digitais (32,8%), marketplaces (31,2%), distribuidores (17,4%) e empresas (13,1%).

Diante das incertezas do que estava por vir, as editoras publicaram menos em 2018. O número de exemplares produzidos sofreu queda de 11%. Isso quer dizer que foram produzidos 43,3 milhões de exemplares a menos em 2018 do que em 2017.

As editoras priorizaram a reimpressão em pequenas tiragens, e não o lançamento de novos títulos. No ano passado, elas lançaram 14.639 novos títulos (-8,96%), que resultaram em 70.544.691 exemplares (-9,88%), e reimprimiram 32.189 títulos (-1,86%), num total de 297.369.952 exemplares (-11,31%). Dos novos livros, 5.626 (-14,2%) foram traduzidos e 9.013 (-5,4%) foram escritos por brasileiros.

Nenhuma área temática se saiu bem em 2018, no que diz respeito ao número de exemplares produzidos. As quedas menos acentuadas foram nos livros religiosos (-3,88%), educação física e esportes (-3,89%) e didáticos (-9,32%). Considerando apenas os temas mais gerais, os piores desempenhos foram em literatura juvenil (-32,12%), artes (-30,42%), ciências humanas e sociais (-26,59%), literatura adulta (-18,11%), autoajuda (-15%), infantil (-15,33%) e biografias (11,99%).

O preço médio do livro aumentou em todos os subsetores: didáticos (R$ 34,65; 5,59%), obras gerais (R$ 11,60; 7,07%), religiosos (R$ 9,49; 3,64%), CTP (R$ 46,53%; 3,89). Isso não significa que o comprador pagou esses valores, mas que as editoras ganharam isso em média.

Os resultados só não foram piores por causa da venda para o governo (em todas as esferas). As compras são sazonais, e isso justifica as oscilações observadas ano a ano. Houve um crescimento de 17,81% no faturamento em comparação com 2017, e o valor de R$ 1,43 bi, resultado de todas as vendas, foi o maior desde 2013 (R$ 1,47 bi). Com relação ao número de exemplares vendidos também houve aumento de 12% - de 132 milhões em 2017 para 149 milhões em 2018. Em 2019, o governo federal comprou livros para os programas PNLD (Programa Nacional do Livro Didático) e PNLD Idade Certa, num total de R$ 1,33 bilhão.

"Tivemos um primeiro trimestre muito forte. Como vínhamos de quatro anos de queda, com um 2017 mais razoável, achei que 2018 seria um ano de recuperação. Foi frustrante. Muito duro para as editoras - em queda de receita e em valores que ficaram pendurados nas livrarias. Agora, vamos cuidar da reconstrução", diz Marcos da Veiga Pereira, presidente do Snel. O 'valor pendurado' a que se refere diz respeito às dívidas da Saraiva e Cultura com as editoras: R$ 360 milhões.

Vitor Tavares, presidente da CBL, acredita que o mau desempenho das livrarias não deve se repetir na próxima pesquisa. E ele destaca, ainda, a necessidade de formar leitores e de "incentivar o governo a manter os programas de compras de livros."

(Atualizada às 20h25)

Antes dos números, o contexto.

O ano de 2018 foi de grandes provações para o mercado editorial brasileiro. A recessão experimentada a partir de 2014, quando o desempenho nulo do ano anterior deu lugar à uma sequência de quedas nos anos seguintes, foi acentuada no ano mais caótico já vivido pelo setor, que não só assistiu, como participou, dos capítulos mais tristes da história das redes de livraria Saraiva e Cultura: dívidas, calotes, fechamento de lojas, pedido de recuperação judicial.

A incerteza com relação ao presente e futuro das duas empresas foi o tema do ano. E os efeitos da crise delas foram sentidos, em maior ou menor escala, por todas as editoras brasileiras, que pagaram a produção de seus livros e não receberam pelo que foi vendido, que demitiram e passaram a publicar menos - apostando, claro, nos títulos com mais potencial de venda.

Livraria Cultura está em recuperação judicial ( Foto: Hévio Romero/Estadão)

Os números da Pesquisa Produção e Venda do Setor Editorial Brasileiro, revelados nesta segunda, 29, comprovam o cenário desolador. Em 2018, o mercado editorial apresentou queda nominal de 0,9%, o que significa um decréscimo real de 4,5% (considerando a inflação do período). O levantamento, feito pela Fipe por encomenda da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional de Editores de Livros (Snel), divide o desempenho das editoras entre 'mercado' (venda em livrarias, distribuidores, escolas, igrejas, bancas, etc.) e 'governo' (programas de compras para estudantes e bibliotecas escolares).

A conjuntura tornou o 'mercado' o grande vilão de 2018, com queda real de 10,1%. E os dados que seguem dizem respeito a ele. Religião foi o subsetor com desempenho menos pior - único com crescimento nominal, embora no fim das contas isso signifique um decréscimo real de 2,6%. O setor de didáticos registrou queda real de 9,1%; o de obras gerais caiu 6,8% e o CTP (Científico, Técnico e Profissional), 20,3% - se analisado o período de 2014 a 2018, esse setor encolheu 44,9%.

As livrarias têm sido o principal canal de comercialização de livros no Brasil. As lojas físicas ainda têm uma participação relevante, mas perderam muito espaço em 2018 - decréscimo de 20,84% no faturamento das editoras e de 20,62% nos exemplares vendidos. Outros canais aproveitaram a brecha e registraram franco crescimento. Em faturamento, destaque para distribuidores (27,29%), marketplaces (26%) e livrarias exclusivamente virtuais (25,2%). Em número de exemplares comercializados, os canais que registraram maior crescimento, mesmo que alguns tenham uma pequena participação do mercado, foram bibliotecas privadas (72%), livrarias exclusivamente digitais (32,8%), marketplaces (31,2%), distribuidores (17,4%) e empresas (13,1%).

Diante das incertezas do que estava por vir, as editoras publicaram menos em 2018. O número de exemplares produzidos sofreu queda de 11%. Isso quer dizer que foram produzidos 43,3 milhões de exemplares a menos em 2018 do que em 2017.

As editoras priorizaram a reimpressão em pequenas tiragens, e não o lançamento de novos títulos. No ano passado, elas lançaram 14.639 novos títulos (-8,96%), que resultaram em 70.544.691 exemplares (-9,88%), e reimprimiram 32.189 títulos (-1,86%), num total de 297.369.952 exemplares (-11,31%). Dos novos livros, 5.626 (-14,2%) foram traduzidos e 9.013 (-5,4%) foram escritos por brasileiros.

Nenhuma área temática se saiu bem em 2018, no que diz respeito ao número de exemplares produzidos. As quedas menos acentuadas foram nos livros religiosos (-3,88%), educação física e esportes (-3,89%) e didáticos (-9,32%). Considerando apenas os temas mais gerais, os piores desempenhos foram em literatura juvenil (-32,12%), artes (-30,42%), ciências humanas e sociais (-26,59%), literatura adulta (-18,11%), autoajuda (-15%), infantil (-15,33%) e biografias (11,99%).

O preço médio do livro aumentou em todos os subsetores: didáticos (R$ 34,65; 5,59%), obras gerais (R$ 11,60; 7,07%), religiosos (R$ 9,49; 3,64%), CTP (R$ 46,53%; 3,89). Isso não significa que o comprador pagou esses valores, mas que as editoras ganharam isso em média.

Os resultados só não foram piores por causa da venda para o governo (em todas as esferas). As compras são sazonais, e isso justifica as oscilações observadas ano a ano. Houve um crescimento de 17,81% no faturamento em comparação com 2017, e o valor de R$ 1,43 bi, resultado de todas as vendas, foi o maior desde 2013 (R$ 1,47 bi). Com relação ao número de exemplares vendidos também houve aumento de 12% - de 132 milhões em 2017 para 149 milhões em 2018. Em 2019, o governo federal comprou livros para os programas PNLD (Programa Nacional do Livro Didático) e PNLD Idade Certa, num total de R$ 1,33 bilhão.

"Tivemos um primeiro trimestre muito forte. Como vínhamos de quatro anos de queda, com um 2017 mais razoável, achei que 2018 seria um ano de recuperação. Foi frustrante. Muito duro para as editoras - em queda de receita e em valores que ficaram pendurados nas livrarias. Agora, vamos cuidar da reconstrução", diz Marcos da Veiga Pereira, presidente do Snel. O 'valor pendurado' a que se refere diz respeito às dívidas da Saraiva e Cultura com as editoras: R$ 360 milhões.

Vitor Tavares, presidente da CBL, acredita que o mau desempenho das livrarias não deve se repetir na próxima pesquisa. E ele destaca, ainda, a necessidade de formar leitores e de "incentivar o governo a manter os programas de compras de livros."

(Atualizada às 20h25)

Antes dos números, o contexto.

O ano de 2018 foi de grandes provações para o mercado editorial brasileiro. A recessão experimentada a partir de 2014, quando o desempenho nulo do ano anterior deu lugar à uma sequência de quedas nos anos seguintes, foi acentuada no ano mais caótico já vivido pelo setor, que não só assistiu, como participou, dos capítulos mais tristes da história das redes de livraria Saraiva e Cultura: dívidas, calotes, fechamento de lojas, pedido de recuperação judicial.

A incerteza com relação ao presente e futuro das duas empresas foi o tema do ano. E os efeitos da crise delas foram sentidos, em maior ou menor escala, por todas as editoras brasileiras, que pagaram a produção de seus livros e não receberam pelo que foi vendido, que demitiram e passaram a publicar menos - apostando, claro, nos títulos com mais potencial de venda.

Livraria Cultura está em recuperação judicial ( Foto: Hévio Romero/Estadão)

Os números da Pesquisa Produção e Venda do Setor Editorial Brasileiro, revelados nesta segunda, 29, comprovam o cenário desolador. Em 2018, o mercado editorial apresentou queda nominal de 0,9%, o que significa um decréscimo real de 4,5% (considerando a inflação do período). O levantamento, feito pela Fipe por encomenda da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional de Editores de Livros (Snel), divide o desempenho das editoras entre 'mercado' (venda em livrarias, distribuidores, escolas, igrejas, bancas, etc.) e 'governo' (programas de compras para estudantes e bibliotecas escolares).

A conjuntura tornou o 'mercado' o grande vilão de 2018, com queda real de 10,1%. E os dados que seguem dizem respeito a ele. Religião foi o subsetor com desempenho menos pior - único com crescimento nominal, embora no fim das contas isso signifique um decréscimo real de 2,6%. O setor de didáticos registrou queda real de 9,1%; o de obras gerais caiu 6,8% e o CTP (Científico, Técnico e Profissional), 20,3% - se analisado o período de 2014 a 2018, esse setor encolheu 44,9%.

As livrarias têm sido o principal canal de comercialização de livros no Brasil. As lojas físicas ainda têm uma participação relevante, mas perderam muito espaço em 2018 - decréscimo de 20,84% no faturamento das editoras e de 20,62% nos exemplares vendidos. Outros canais aproveitaram a brecha e registraram franco crescimento. Em faturamento, destaque para distribuidores (27,29%), marketplaces (26%) e livrarias exclusivamente virtuais (25,2%). Em número de exemplares comercializados, os canais que registraram maior crescimento, mesmo que alguns tenham uma pequena participação do mercado, foram bibliotecas privadas (72%), livrarias exclusivamente digitais (32,8%), marketplaces (31,2%), distribuidores (17,4%) e empresas (13,1%).

Diante das incertezas do que estava por vir, as editoras publicaram menos em 2018. O número de exemplares produzidos sofreu queda de 11%. Isso quer dizer que foram produzidos 43,3 milhões de exemplares a menos em 2018 do que em 2017.

As editoras priorizaram a reimpressão em pequenas tiragens, e não o lançamento de novos títulos. No ano passado, elas lançaram 14.639 novos títulos (-8,96%), que resultaram em 70.544.691 exemplares (-9,88%), e reimprimiram 32.189 títulos (-1,86%), num total de 297.369.952 exemplares (-11,31%). Dos novos livros, 5.626 (-14,2%) foram traduzidos e 9.013 (-5,4%) foram escritos por brasileiros.

Nenhuma área temática se saiu bem em 2018, no que diz respeito ao número de exemplares produzidos. As quedas menos acentuadas foram nos livros religiosos (-3,88%), educação física e esportes (-3,89%) e didáticos (-9,32%). Considerando apenas os temas mais gerais, os piores desempenhos foram em literatura juvenil (-32,12%), artes (-30,42%), ciências humanas e sociais (-26,59%), literatura adulta (-18,11%), autoajuda (-15%), infantil (-15,33%) e biografias (11,99%).

O preço médio do livro aumentou em todos os subsetores: didáticos (R$ 34,65; 5,59%), obras gerais (R$ 11,60; 7,07%), religiosos (R$ 9,49; 3,64%), CTP (R$ 46,53%; 3,89). Isso não significa que o comprador pagou esses valores, mas que as editoras ganharam isso em média.

Os resultados só não foram piores por causa da venda para o governo (em todas as esferas). As compras são sazonais, e isso justifica as oscilações observadas ano a ano. Houve um crescimento de 17,81% no faturamento em comparação com 2017, e o valor de R$ 1,43 bi, resultado de todas as vendas, foi o maior desde 2013 (R$ 1,47 bi). Com relação ao número de exemplares vendidos também houve aumento de 12% - de 132 milhões em 2017 para 149 milhões em 2018. Em 2019, o governo federal comprou livros para os programas PNLD (Programa Nacional do Livro Didático) e PNLD Idade Certa, num total de R$ 1,33 bilhão.

"Tivemos um primeiro trimestre muito forte. Como vínhamos de quatro anos de queda, com um 2017 mais razoável, achei que 2018 seria um ano de recuperação. Foi frustrante. Muito duro para as editoras - em queda de receita e em valores que ficaram pendurados nas livrarias. Agora, vamos cuidar da reconstrução", diz Marcos da Veiga Pereira, presidente do Snel. O 'valor pendurado' a que se refere diz respeito às dívidas da Saraiva e Cultura com as editoras: R$ 360 milhões.

Vitor Tavares, presidente da CBL, acredita que o mau desempenho das livrarias não deve se repetir na próxima pesquisa. E ele destaca, ainda, a necessidade de formar leitores e de "incentivar o governo a manter os programas de compras de livros."

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