Maria Fernanda Rodrigues
26 de junho de 2021 | 03h00
Quando Adeus, Gana começa, o “homem da história”, como diz uma das filhas, está morto. Ele já tinha partido 16 anos antes – um movimento repentino, nunca compreendido ou elaborado pelos que ficaram nos Estados Unidos. Calado. E esse não dito, sobre isso e todo o resto (histórias, impressões, sentimentos), os marcaria profundamente.
A notícia encontra cada um em um canto, distantes. Feridos demais para ajudar o outro, eles seguiram como deu, e agora se veem juntos novamente, os quatro filhos abandonados, rumo a Acra. Fazendo o caminho inverso ao que os pais fizeram separadamente – ele, um garoto pobre e inteligente que se tornaria um exímio cirurgião; ela, uma órfã da guerra civil da Nigéria que abriu mão do sonho profissional por ele.
Esse reencontro, também com mãe, entremeado por momentos-chave que os levaram até ali e a tentativa de curar-se e curar essa família são, basicamente, o enredo do belo romance de estreia de Taiye Selasi, que a Tusquets lança nos próximos dias.
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Autor do premiado Irmãos de Alma, David Diop lança A Porta Para Uma Viagem Sem Retorno, também pela Nós, no 2º semestre. O título é uma referência à ilha de Gorée, no Senegal, ponto de partida de milhões de africanos para serem escravizados. Em 1750, um jovem botânico chega para estudar a flora local, mas, ao ouvir sobre uma jovem destinada à escravidão que teria conseguido escapar, sua viagem e o seu destino mudam para a busca obstinada desta mulher. O romance é inspirado na figura do naturalista francês Michel Adanson (1727-1806).
Dois homens atravessam a fronteira com uma estátua. No sentido oposto, um filho em busca da mãe morta. Um homem que devora fotos. Uma mulher incomodada com estrangeiros. São todos personagens de Bucareste Budapeste: Budapeste Bucareste, de Gonçalo M. Tavares, que sai em agosto pela Oficina Raquel.
Quem ouvir o romance de Loyola Brandão em audiolivro (Tocalivros) vai encontrá-lo entre os narradores.
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