Maria Fernanda Rodrigues
06 de fevereiro de 2021 | 03h00
Ahron é o nome do simpático protagonista de David Grossman em O Livro da Gramática Interior (Companhia das Letras, 536 págs.; R$ 72,90; R$ 39,90 o e-book). Um garoto que está entrando, como o autor diz, no túnel da adolescência, e vai sofrer – como todo mundo sofre nessa fase conturbada e definidora da vida.
Ele tem 12 anos quando sua história começa a ser contada. É alegre, gosta de mágica e de ajudar em casa. Até que começa a crescer e se fecha. Cresce na idade, mas não no tamanho – tanto que sua mãe, sempre um tanto cruel, não perde a chance de comentar isso e o faz usar um sapato com salto em seu bar mitzvah.
Ahron é o filho mais novo de uma família de refugiados judaico-polonesa que vive num claustrofóbico (e essa palavra também descreve sua família) apartamento em Jerusalém. A história se passa em 1967, às vésperas da Guerra dos Seis Dias, e a tensão, daquele tempo e de sempre, é representada pela mochila de reservista do pai, sempre no canto da casa à espera, e na figura da filha mais velha, que troca a escola pelo exército a despeito da vontade dos pais.
Um livro muito sensível sobre solidão e as dores do crescimento, sobre um menino que busca um lugar e um pouco de atenção e respeito. E, nas palavras do autor, um livro sobre um artista enquanto menino, ou sobre como alguém se torna um artista apenas para ter um lugar só para si – de privacidade e intimidade. Ahron inventa esse lugar, que, no seu caso, é a linguagem. Ele cria para si um hospital para palavras doentes. As palavras usadas por outros, poluídas, são purificadas numa cerimônia íntima.
Quatro textos de Saidiya Hartman estão no prelo. Bazar do Tempo e Crocodilo lançam a antologia de ensaios Pensamento Negro Radical, em maio, e Perder a Mãe – Uma Jornada Pela Rota Atlântica de Escravos, em agosto. A Fósforo publica, também em maio, seu ensaio O Fim da Supremacia Branca, Um Romance Americano, sobre a atualidade de O Cometa, conto de W. E. B. Du Bois que abre o mesmo volume. E em março de 2022, sai Vidas Rebeldes, Belos Experimentos, sobre jovens negras no início do século 20.
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