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Literatura e mercado editorial

Um Livro Por Semana #10: Túmulo de papel ('Baratas')

'Baratas', de Scholastique Mukasonga, foi publicado em 2018 pela Nós; e ainda na Babel: Goncourt 2020, novas histórias da quarentena e a parceria entre FTD e Dentro da História

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Atualização:

Uma das grandes crueldades do nosso tempo é a impossibilidade de uma despedida aos nossos mortos. E isso me faz lembrar de uma passagem de A Mulher dos Pés Descalços, livro que Scholastique Mukasonga escreveu em homenagem à mãe. "Quando eu morrer, quando vocês perceberem que eu morri, cubram o meu corpo. Ninguém deve ver o corpo de uma mãe", costumava dizer Stefania às filhas. As que estavam com ela durante um dos maiores genocídios da história não puderam fazer isso nem enterrá-la. Morreram junto. Da família de Scholastique, de etnia tutsi, foram assassinadas 37 pessoas, incluindo ao menos duas dezenas de crianças. O genocídio de Ruanda deixou cerca de um milhão de mortos. Isso tudo aconteceu dia desses, em 1994.

Scholastique e um de seus irmãos não estavam mais lá. Eles tinham sido 'escolhidos' para sobreviver e para manter viva a história de uma família que existiu sob a sombra de uma morte que, era certo, chegaria violenta.

Homenagem aos mortos em Nyamata, em 2014, 20 anos depois do massacre ( Foto: Noor Khamis/Reuters)

Vivendo na França, Scholastique Mukasonga estreou na literatura em 2006 com Baratas. Autobiográfico, o livro foi publicado aqui em 2018, um ano depois que ela emocionou a plateia da Flip. Baratas, cujo título remete ao modo como os hutus chamavam os tutsis, faz um bom panorama da vida em Ruanda. Cronológica, a obra, que ela chamou de seu "túmulo de papel", retrata não só o terror que pairava sobre as pessoas (e os treinamentos feitos pela mãe para tentar garantir a sobrevivência dos filhos), mas a miséria, a humilhação, os deslocamentos a pé ou como gado em caminhões, a sede, a fome, o medo e a dor. Conta também sobre sua volta ao país natal e, apesar de supertriste, tem momentos de humor. "No gueto de Nyamata também conheci dias felizes durante minha infância. E eles devem ser preciosamente preservados", disse em entrevista à época do lançamento aqui.

 Foto: Estadão

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BARATAS Autora: Scholastique Mukasonga Trad.: Elisa Nazarian Editora: Nós (192 págs.; R$ 40; em breve em e-book)

+ BABEL

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Os últimos dias de Beckett A Nós adquiriu os direitos de 'Le Tiers Temps', romance de estreia de Maylis Besserie que ganhou o Goncourt este ano e que conta de forma ficcionalizada os últimos tempos de vida de Samuel Beckett, quando ele morou em um asilo em Paris.

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Um edifício branco na rua Rémmy-Dumoncel, o Tiers-Temp, que dá nome ao livro e poderia ser traduzido mais ou menos como Terceiro Tempo ou Terceira Idade, é o cenário em que o personagem de rosto sombrio e olhos penetrantes brinca com suas memórias, nas quais duas línguas se misturam, o inglês da Irlanda natal e o francês do exílio literário. No pátio do lar de idosos, diante de uma árvore solitária, acompanhamos as memórias e a vivência cotidiana de Beckett, numa narrativa que, aos poucos, o transforma, por assim dizer, num de seus próprios personagens enquanto caminha para o seu último grande silêncio.

No calor da hora Oficina Raquel lança em agosto livro de produções ficcionais e poéticas sobre a quarentena. Entre os 30 autores estão Silviano Santiago, José Roberto Torero, Maria Teresa Horta, Henrique Rodrigues, Leonardo Tonus e Anna Claudia Ramos. Alguns dos textos foram escritos em tom essencialmente poético enquanto outros apresentam uma dura reflexão acerca dos fatos que nos cercam. Há histórias de morte e solidão, e também de amor e esperança.

O leitor como protagonista A FTD apresenta na próxima semana três títulos e sua parceria com a startup Dentro da História: 'Agora Eu Sou' (Januária Cristina Alves), 'Que Confusão! Perdi Meu Bicho de Estimação' (Tino Freitas) e 'Uma Amizade Assustadora' (Maria Amália Camargo). Outros detalhes sobre o projeto aqui.

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