Apesar da conjuntura, as editoras chegaram animadas à Bienal: era a chance de fazer caixa. No entanto, também nos corredores, falava-se sobre o medo do que viria depois - muitos dos que estão ali, e que desembolsaram, no caso de um estande médio, cerca de R$ 600 mil, não tinham sequer o dinheiro garantido para a folha de pagamento do mês seguinte. Ou seja, medo de mais demissões.
Mas, como dizia Sérgio Machado, presidente do Grupo Record morto em 2016, se você deixa de participar da Bienal um ano o mercado vai dizer, ou saber, que você não está bem. E, assim, a maioria vai, investe o que pode e o que não pode em estandes bonitos - e eles estão mesmo -, dá descontos, tenta se livrar de seus encalhes. E tenta ganhar a atenção dos visitantes, hipnotizados pelas placas de livros a R$ 5, R$ 10, R$ 20 dos saldões que se espalham pelo Anhembi e, muitas vezes, nem nome têm.
A Saraiva não foi, a maioria das editoras, sobretudo aquelas de livros para crianças e jovens, ainda está lá. E neste momento em que o mercado repensa o modelo vigente, o da megastore, da consignação, dos grandes descontos para as principais redes, e vai a Brasília buscar proteção - a tão sonhada Lei do Preço Fixo, antiga batalha das pequenas livrarias que não têm a chance de competir por preço com as rivais gigantes -, outros players vão ganhando espaço. Submarino e Lojas Americanas, importantes e-commerces, estão vendendo livros na Bienal. Mercado Livre, que entrou no ramo em 2017, tem um estande institucional. Amazon vende seu Kindle com desconto.
Nesse cenário em reformulação, que coloca em xeque o negócio das médias e grandes livrarias e editoras, os pequenos vão levando, não sem dificuldade, e reafirmando sua relevância - seja participando de feiras e circuitos independentes, criando novos espaços para venda de livros ou, simplesmente, abrindo a porta dia após dia.
Análise publicada no Caderno 2 de 11 de agosto, em complemento à matéria Bienal aponta crescimento nas vendas, mas setor livreiro permanece em crise, de Guilherme Sobota