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Música clássica decodificada

Um Villa-Lobos inédito para muitos

Por Alvaro Siviero
Atualização:

De vez em quando nos deparamos com realidades que, seja pela sua novidade ou riqueza, nos prendem a atenção. Foi o que ocorreu comigo ao me deparar com a obra coral de Villa-Lobos, raramente interpretada ou divulgada. Selecionado pelo maestro Júlio Moretzsohn, o repertório do CD Villa-Lobos - Calíope - Vozes do Brasil, interpretada pelo grupo Calíope, é registro que veio para ficar. Contendo obras coral a capella (somente canto, sem instrumentação) de caráter profano e compostas a partir de motivos indígenas e afro-brasileiros, a iniciativa é muito bem vinda, ainda mais sendo 2012 o ano das comemorações do 125° aniversário de nascimento de um dos maiores - talvez o maior - músico que o Brasil deu ao mundo. Enquanto homenagens difundem ainda mais sua obra, um lançamento deste teor artístico destaca e joga luz ao vasto e rico repertório deste exímio compositor brasileiro.

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Gravado no Estúdio Sinfônico da Rádio MEC (RJ) em 2011 e tendo chegado às lojas no último mês de outubro, o disco reúne peças escritas de 1926 (Na Bahia tem) a 1952 (Lendas Ameríndias em Nhengatú), período em que Villa-Lobos mergulhou seus estudos nas culturas indígenas e afro-brasileiras. Seu núcleo é constituído pelo variado repertório, elaborado por Villa-Lobos nos anos 30, destinado à educação musical nas escolas e à prática do canto orfeônico. É a partir de meados dos anos 20 que Villa-Lobos inaugura um período de obra coral a capella de caráter legitimamente profano, que culminaria com a Bachiana Brasileira n.9.

Em obras como Bazzum (descrito por Villa-Lobos como "ensaio para a canção popular"), As Costureiras (na sua descrição, "uma Embolada"), José (escrita em 1944, baseada no famoso poema "E Agora José?", de Carlos Drumond de Andrade) e o ritmo cadenciado de Estrela é Lua Nova, o grupo Calíope mostra porque hoje é considerado um dos grandes grupos vocais brasileiros. EJúlio Moretzsohn (ao centro, na foto acima) revela excelência não somente na escolha acertada de repertório mas, acima de tudo, na condução competente daquilo que é mais nosso: a cultura brasileira.

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