Hoje a sigla bbb (em letras minúsculas, propositalmente, pelo seu mérito) ganhou outro significado: o do vale tudo. A capa da revista VEJA desta semana (talvez buscando o mesmo ibope do bbb, quem sabe?) "veicula a notícia" nos mesmos moldes que o programa de TV. Tudo muito sutil (ou nem tanto). Afirmar, como o profissional entrevistado na edição o faz, de que a TV brasileira caminha junto com a sociedade, que reflete a sociedade atual é, no mínimo, uma falácia. É exatamente o contrário. A TV norteia o comportamento de toda uma sociedade que se imbecilizou, e da qual faço parte.
Para se cozinhar uma rã não podemos jogá-la em água quente: todos sabem que ela pula para fora da panela. No entanto, colocando-a em água agradavelmente morna, com fogo contínuo, a constante e sutil elevação de temperatura passa imperceptível ao animal, que morre cozido em plena água fervente, em ebulição. Faça a experiência. É assim mesmo. E assim também é a consciência humana. Existem, sim, consciências calejadas. Em nome da tolerância e do horror à qualquer tipo de discriminação, a garganta do brasileiro virou tubulação de esgoto. "Não falo por moralismo, tampouco senti reação negativa do público por questões morais", afirma o ex-dirigente na entrevista. Sem dúvida, uma frase "politicamente correta". Mas a reação nacional mostrou, como nos casos de corrupção política que vivenciamos, que existe, sim, moralidade. Depende de mim. De você.
Foi com o programa Concertos para a Juventude que senti a forte mordida da música dentro de mim. Foi aí que recebi o empurrão para escolher minha profissão. Estou falando aqui da minha vida, não de teorias, onde aTV brasileira ainda exercia a cidadania. Agradeço o antigo programa da Rede Globo que me ensinou a admirar o genuíno BBB. Sou hoje um homem mais feliz por ser um profissional realizado e, de coração, espero estar fazendo neste momento, com este depoimento, uma contribuição à vida cultural de meu país.