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"Damas do Samba", menção honrosa no Festival do Rio, mostra que papel da mulher no samba vai além da figura da mulata

Desde que o samba é samba, a presença feminina tem importância fundamental para este gênero musical. Criado às escondidas, na casa da tia Ciata - uma mãe de santo que cedia espaço para as cantorias - o samba não teria sobrevivido (ou pelo menos não seria o que é hoje) sem suas musas, pastoras, tias, compositoras, passistas, madrinhas, carnavalescas, mulatas e intérpretes. No documentário "Damas do Samba", a diretora Susanna Lira presta uma homenagem a essas mulheres que movimentam e dão força ao samba. "Quis mostrar que a figura da mulher no samba não está restrita ao papel da mulata", diz. O filme foi lançado no Festival do Rio e recebeu Menção Honrosa do Júri na categoria documentário. Agora segue a trajetória dos Festivais Internacionais e, no ano que vem, será transformado em série para a TV.

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Por Adriana Plut
Atualização:

.DOC - O filme retrata mulheres que trabalham com samba em diferentes funções. Como foi a escolha das personagens?Susanna Lira - A escolha das personagens foi feita a partir de uma extensa pesquisa no tema. Eu mergulhei em livros e documentários que pudessem me dar referências, principalmente das primeiras mulheres envolvidas no samba, as famosas tias baianas. Eu também tive a consultoria da especialista Helena Theodoro, que pôde me apontar caminhos para encontrar personagens interessantes. Esse filme começou a ser feito em 2010 e entrevistamos aproximadamente 50 mulheres. E a escolha dessas personagens foi feita por esses dois caminhos, o da pesquisa, que nos apontou mulheres fundamentais no tema, como Beth Carvalho e Ivone Lara; e o acaso, que nos revelou grandes personagens durante as gravações, como a passista mirim Luany dos Santos. Numa visita à cidade do samba, por exemplo, conhecemos a Glória, chefe de barracão que todos chamavam de "cherifona" e isso foi o suficiente para despertar meu interesse por ela.

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.DOC - Por que escolheu esse recorte? Você se interessa pelo papel da mulher de maneira geral ou teve algum outro motivo?Susanna Lira - Todo meu trabalho é pautado pela luta dos direitos humanos. Mas, pela minha trajetória de vida, as mulheres ganham peso nos meus filmes. Eu tive duas mulheres muito importantes na minha criação: minha avó materna e minha mãe. Então acho que cada vez que eu filmo mulheres eu estou, no fundo, buscando parte da história da minha mãe. Essa força feminina que é capaz de mover tantas coisas, de superar dificuldades, de criar os filhos sozinha, e tudo isso sem perder a generosidade com o mundo.

.DOC - Por que escolheu mostrar rapidamente a história de cada mulher e não ir mais fundo na vida de cada uma?Susanna Lira - Com esse filme, eu quis mostrar que a figura da mulher no samba não está restrita ao papel da mulata. A ideia era realmente mostrar como essas mulheres movimentam e dão força ao samba. Então eu escolhi fazer "um passeio" pela história do ritmo e mostrar que as mulheres estão presentes em diversos setores, sejam elas famosas ou anônimas.

.DOC - Alguma das entrevistas é mais especial para você? Tem alguma que destacaria?Susanna Lira - É difícil escolher uma porque as 30 mulheres que estão no filme me doaram depoimentos preciosos. Mas eu poderia destacar, por exemplo, a Beth Carvalho. Por conta da longa internação no hospital, esperamos mais de um ano para realizar a entrevista. Quando ela finalmente teve alta, o filme já estava pronto e tivemos que voltar à ilha de edição para incluir esse material. Mesmo assim valeu a pena, porque o depoimento dela sobre a Clementina de Jesus é um dos momentos mais interessantes do documentário. Eu também destacaria a entrevista com Dona Ivone Lara, que do alto dos seus 93 anos protagoniza, na minha opinião, o momento mais emocionante do filme, cantando "Sonho Meu" à capela.

.DOC - Como o filme foi recebido no Festival do Rio? Quais os próximos passos de "Damas do Samba"?Susanna Lira - A partir de agora, o filme segue a trajetória dos Festivais Internacionais e, para o ano que vem será transformado em série para TV."Damas do Samba" foi muito bem recebido no Festival do Rio (recebeu Menção Honrosa do Júri na categoria documentário). Para a sessão de estreia, no dia 4 de outubro, convidamos todas as mulheres que aparecem no documentário, mesmo as que não deram entrevista. A Mocidade Independente de Padre Miguel e a Portela disponibilizaram ônibus para levar os componentes da escola. Essa presença de peso deixou a sessão ainda mais emocionante porque, como elas relataram depois, foi a primeira vez que tiveram a oportunidade de se ver num filme, numa sala de cinema. Nesse momento, eu tive a sensação de "dever cumprido", porque eu fiz esse filme para dar visibilidade a essas mulheres. Ver a reação positiva delas na sala do cinema foi a maior recompensa que eu poderia ter.

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