O que encontramos foram galpões abarrotados de traduções para o espanhol de quase todos os best-sellers que se vê numa Fnac, além de clássicos, livros de autores brasileiros e muita autoajuda - todos grosseiramente "editados", se é que o termo cabe, no cenário mais gritante de pirataria de livros que já vi. Nunca tinha lido nada a respeito, mas a mais recente Granta inglesa traz uma reportagem do escritor peruano Daniel Alarcón (autor do bom Rádio Cidade Perdida) sobre o tema.
A íntegra está disponível só na revista em papel, mas, há alguns dias, o site do Guardian publicou um slideshow sobre a história acompanhado por pequenos textos de Alarcón, que dão boa medida da situação. Ele conta, por exemplo, que encontrou exemplares em espanhol de O Vendedor Está Só, do Paulo Coelho, antes mesmo de o livro ganhar tradução. Mas o mais curioso é o trecho em que ele fala como se sentiu ao ver um de seus próprios livros numa dessas banquinhas:
Até ver essa foto, eu nunca tinha visto uma edição pirateada de meu primeiro livro de contos, Guerra a la Luz de las Velas - o que sempre me causou uma espécie de desapontamento. A maior parte dos escritores peruanos têm uma relação complicada com o conceito de pirataria - ela é, de alguma maneira, equivalente a chegar às listas de best-seller. Você ao mesmo tempo espera e teme ser pirateado. É certamente lisonjeiro ver o trabalho em tão boa companhia, ladeado por Mario Vargas Llosa, Juan José Millás, Gabriel García Márquez, Truman Capote e José Saramago - e os obrigatórios volumes de Sudoku e autoajuda, naturalmente.