Betty concreta

Aproveitando o embalo dos irmãos Campos... Só eu não sabia que o Haroldo era fã da Betty Boop? Que coisa. Achei tão bacana essa fotografia do Eder Chiodetto que puxei a descrição dela pra abertura do texto publicado no Caderno 2 de ontem sobre a Ocupação Haroldo de Campos - H Laxia. Na versão impressa, acabou entrando outra imagem (aqui, vai ao pé do texto), que dialogava mais com o título. .

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Por Redação
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 Foto: Estadão

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Haroldo de Campos e sua galáxia de ideias

Raquel Cozer - O Estado de S.Paulo

Haroldo de Campos está sentado à escrivaninha, atrás de uma pilha de livros e à frente de um pôster de Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick. Em meio a estantes abarrotadas e a retratos de escritores pelas paredes, um enorme display de Betty Boop dá a dimensão de como era amplo o universo de referências do poeta, morto em 2003. Haroldo, o mais barroco dos concretistas, era fascinado pela personagem.

A fotografia feita em 1999 por Eder Chiodetto na "bibliocasa" do poeta (apelido dado ao lugar onde morava, em Perdizes) recebe quem for ao Itaú Cultural a partir desta quinta, quando tem início no térreo do prédio a Ocupação Haroldo de Campos - H Laxia. E caberá ao visitante decidir de que forma verá a foto, disponibilizada num enorme painel interativo em que fragmentos de três imagens relacionadas ao poeta se intercalam.

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A foto também ajuda a entender a proposta da exposição, que segue até dia 10 de abril: apresentar aspectos menos conhecidos da memória pessoal e intelectual do criador, assim como de seu processo de criação. Trabalho que exigiu esforços de uma curadoria a oito mãos, por Livio Tragtenberg, Frederico Barbosa, Marcelo Tápia e Gênese Andrade, e que pela primeira vez se estende à vizinha Casa das Rosas, onde está abrigada boa parte do acervo do poeta.

Aberta para convidados dois dias depois do aniversário de 80 anos do irmão de Haroldo, Augusto de Campos, a exposição não terá, no entanto, participação deste. Convidado, Augusto informou que não poderia comparecer e enviou um poema não inédito, o profilograma Haroldo, a ser incluído em publicação sobre a exposição prevista para o final de março.

Sobre a quase coincidência de datas entre a homenagem a Haroldo e o aniversário de Augusto, Claydiney Ferreira, gerente do núcleo Diálogos do Itaú Cultural, diz que foi uma "circunstância". "Quando iniciamos o projeto de ocupações, em 2009, escolhemos artistas referenciais em suas áreas, e Haroldo estava entre eles, até porque já tínhamos essa parceria com a Casa das Rosas, que abriga o acervo dele", conta.

A data acabou marcada quando o compositor Livio Tragtenberg, amigo de longa data de Haroldo, apresentou ao Itaú Cultural um projeto dos tempos em que os dois eram vizinhos, em São Paulo. Trata-se de uma instalação audiovisual, a H Laxia, na forma de um túnel em caracol, de 11 metros de extensão, no qual o público é apresentado à obra experimental Galáxias, de Haroldo, por meio de trechos de áudios e vídeos. Ao fim do percurso, o visitante chega a uma cabine de áudio na qual, se quiser, pode gravar um trecho do poema, a ser somado depois aos áudios já existentes.

Paideuma. À cabine segue-se uma pequena sala que mostra a relação de Haroldo com os autores que o influenciaram. Compõem esse recorte do chamado paideuma do poeta os escritores Homero, James Joyce, Dante Alighieri, Ezra Pound, Max Bense, Umberto Eco, Roman Jakobson, Walter Benjamin, Octavio Paz, João Cabral e Murilo Mendes. O espaço inclui as obras que Haroldo usou na tradução de cada autor e ainda recortes de jornais, livros com marginálias (anotações nas beiradas) e dedicatórias e outros documentos que o poeta reuniu ao longo de 60 anos, doados pela viúva, Carmen de Arruda Campos, à casa das Rosas em 2003. Muitos desses documentos são apresentados ao público pela primeira vez.

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Na Casa das Rosas, a poucos metros do Itaú Cultural, o poema Servidão de Passagem, de 1962, estará reproduzido em pequenos totens no espaço externo, enquanto no interior salas se dividem entre a produção mais antiga e mais recente de Haroldo. "Queremos mostrar a multiplicidade da produção dele, já que a maior parte das pessoas só conhece a fase concreta", diz o curador Frederico Barbosa, diretor da Casa das Rosas.

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 Foto: Estadão
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