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'Sou uma pessoa séria'

Longe das platéias, a Márcia do Zorra Total não é de contar piadas e se diz supertímida

Por Renata Gallo
Atualização:

Maria Clara Gueiros tinha tudo para ser uma estudante profissional. Era ótima aluna no colégio e continuou sendo na faculdade de Psicologia. Tanto que se tornou mestre em psicologia clínica. O próximo passo seria o doutorado. Mas daí ela foi, sem jeito, ensaiar um papel para a apresentação de seu grupo de sapateado - Maria Clara também é bailarina. E foi só abrir a boca no ensaio para todo mundo rir. É assim até hoje, só que agora ela fez do riso a sua profissão. Abandonou a Psicologia, o sapateado e dá expediente no Zorra Total como a Márcia, aquela do vuco-vuco. Sim, você conhece, não disfarce. É ofensivo o termo comediante? Sinto que há preconceito sim, mas para mim é um orgulho. Sou uma eleita, consegui um espaço na TV com esse talento. Acho que minha carreira é igual à de médico. Você estuda Medicina, mas se especializa em uma coisa. Como atriz, me especializei em ser comediante. Sabe fazer drama? Acho que sim. Dizem que todo comediante é bom ator. E sou uma pessoa séria. As pessoas falam: ?Duvido que você seja tímida?. Sou timidérrima, seríssima, sempre fui a aluna CDF, não a que contava piada. E até hoje não sou. Tenho uma coisa que é meu ofício mesmo: me bota no palco, faço o que quiserem. Viro uma palhaça sem pudor, mas tem que ter motivo, tem que ter platéia. Nunca foi a engraçadinha? Não fico dando show, solando. Nunca foi a minha e não gosto de gente assim. Mas as pessoas devem cobrar isso de você? Totalmente. As pessoas vêm rindo para mim. É muito doido. Mas, como tenho essa verve para o humor, acabo sempre comentando alguma coisa engraçada. Faço a boa moça, sabe? Tanto que as pessoas sempre falam: ?Nossa, como você é educada e gentil!? Você ficou 17 anos sem ser contratada. Acha que foi mais difícil por escolher o humor? Não. Nunca tive intenção de estourar. Sempre fui low profile, muito ligada à minha família. Tive dois filhos e eles eram primordiais para mim. Mas não almejar fazer sucesso é não querer ser bem-sucedida e não ganhar dinheiro. Na verdade, o dinheiro que ganhava, como diziam antigamente, era para meus alfinetes (risos). Sabe aquela coisa de sociedade machista? Sempre tive um marido maravilhoso, podia me dar ao luxo de fazer teatro sem ganhar nada. Mas comecei a me virar. Fazia teatro, era conhecida no Rio, e fazia tortas. Abri uma empresa, a Maroquinhas Frufru, e fazia 50 tortas por mês. E me senti bacana por correr atrás de uma coisa que me desse grana. Teve preconceito em ir para o ?Zorra? e sente que há preconceito ao programa? Nunca vou falar mal do Zorra porque foi o programa que, 17 anos depois de eu estar ralando feito uma camela, me projetou para o País. E tenho um espaço lá maravilhoso, nobre. Eu me sinto na novela das 8, entramos direto da novela. Fora que o Zorra é minha casa, meu ex-marido era redator, tenho muitos amigos lá. Mas sinto que há preconceito, sim. Apesar dos vínculos afetivos, acha o preconceito injusto? Acho porque faço o meu humor ali. O Zorra tem um estilo de humor ingênuo, explícito. Faço um humor irônico que não seria o tom do Zorra e dá certo. Então pra mim é sopa no mel, estou felicíssima.

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