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Séries terão efeitos com mais intuição do que técnica

Previsão é de Sven Martin, técnico de efeitos especiais de 'Game of Thrones'

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Por Matheus Mans
Atualização:

Quando criança, Sven Martin foi ao cinema assistir a Star Wars. Assim como todos na época, o pequeno estava ansioso para ver novos universos sendo criados pela mente ainda inquieta de George Lucas. Entretanto, o jovem Martin saiu do cinema deslumbrado não pelas histórias entre os robôs C3PO e R2D2 ou pela imponente armadura de Darth Vader. O que o fez suspirar, na verdade, foram os revolucionários efeitos especiais empregados pela Industrial Light & Magic no filme de 1977, criando armas feitas de luz e colocando enormes naves para voar no espaço.

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Comecei a trabalhar em Game of Thrones na 2.ª temporada, já que a Pixomondo, empresa na qual eu trabalho, ficou responsável pelos efeitos visuais de toda a temporada. Eu não tinha ideia, quando fui chamado, do que era GoT. Nem tinha lido os livros. Mas o supervisor da HBO sabia da minha paixão por criaturas fantásticas, especialmente dragões, e acreditou em mim.

Como é trabalhar em GoT?

Já estamos trabalhando na série há cinco anos. Isso não é muito convencional no setor de efeitos especiais, mas acrescenta muita qualidade na produção. Construímos uma experiência que pode ser levada de ano em ano. É a mesma equipe, fazendo com que o processo fique mais fácil. Afinal, são cerca de 30 artistas trabalhando só nos dragões da série! É preciso ter união para realizar o trabalho de um jeito simples e fácil.

Mas aposto que há muitos desafios ao trabalhar em uma série desse tamanho.

Os desafios em GoT crescem a cada ano. Do lado técnico, tive muita ajuda dos atores para criar uma conexão com as criaturas que desenvolvemos. Mas fazer a Daenerys se conectar com os dragões emocionalmente foi difícil. Não podia humanizar os dragões, mas, ainda assim, a gente tinha que transmitir emoções a partir deles. Não é fácil.

Falando na Daenerys e seus dragões: eles exercem um fascínio muito grande nos espectadores e são uma marca da série. Qual o desafio de supervisionar a criação dessas criaturas?

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O nosso objetivo principal era criá-los com um pé na realidade, exatamente da mesma forma que todo o restante da produção. Mesmo sendo uma série de fantasia, a experiência de Game of Thrones é como se estivesse assistindo a um filme medieval, com todos os figurinos, armas e locais dessa época. Não queríamos quebrar esse realismo com criaturas superdesenvolvidas, muito computadorizadas.

Tiveram que se inspirar em animais reais, então? Como foi o desenvolvido dos dragões?

Sim, são baseados em animais reais. É uma fusão entre lagartos, morcegos e pássaros. Aí, nós construímos os dragões de dentro para fora, começando com esqueleto, músculos e, finalmente, pele. De tudo isso, a animação é a parte mais difícil, pois não temos referências de dragões.

Muitos críticos dizem que o CGI e os efeitos especiais em excesso estão estragando Hollywood. As imagens geradas por computador não são diferentes do uso de câmera, luz, som ou cor e algumas histórias, como os dragões de GoT, só podem ser contadas com efeitos. A maioria das pessoas não percebe se acabou de ver um efeito especial, quando ele é bem feito. Nunca é a ferramenta que faz um filme ruim, é o artista que a usa.

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Qual o futuro dos efeitos?

A tecnologia já está em um ponto em que quase tudo é possível. Ainda temos que desenvolver a técnica de humanos criados digitalmente, mas tenho certeza que isso será resolvido em um futuro próximo. A questão, entretanto, ainda é entendermos o motivo de substituir os atores: por segurança, envelhecimento? Quanto às novidades, acho que além de imagens com resolução maior ou experiências em 360°, a tecnologia trará a capacidade de produzir efeitos em tempo real diretamente na câmera ou no monitor enquanto filmamos os atores, tornando a filmagem mais intuitiva e menos técnica.

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