Se o Brasil ainda engatinha na produção de séries nacionais na TV paga, ter a sua “season finale” na quarta temporada se torna uma marca invejável. Neste domingo, 18, às 21h, a HBO começa a exibir, aqui e em mais de 50 países, a quarta e última temporada da série brasileira O Negócio, sobre um grupo de garotas de programa de luxo que se tornam empreendedoras.
“Escolher o momento exato é muito difícil, mas é bom acabar a festa quando ainda está legal”, diz ao Estado Roberto Rios, produtor da série e vice-presidente de produções originais da HBO Latin America. Apesar do sucesso das temporadas anteriores, os diretores Michel Tikhomiroff e Julia Jordão também concordam com o fim. “O ciclo se fechou, dá a sensação de dever cumprido”, opina Julia.
O clima entre elenco e equipe com a estreia da última temporada é de comemoração. “A série veio num momento muito feliz”, acredita Michelle Batista, a Magali na série. “Quando a gente começou a série, ainda não se falava tanto sobre o empoderamento das mulheres.” Na série, quatro garotas de programa se tornam donas de um império de prostituição de luxo, ao aplicar técnicas de marketing ao negócio. “A grande premissa é que as meninas têm autonomia do próprio corpo e do negócio. A gente já falava sobre isso antes de movimentos como o #MeToo e o Time’s Up”, diz Julia, em referência a recentes protestos em Hollywood.
“Acho que muito da identificação do nosso público feminino vem pela força dessas personagens, a autonomia delas”, diz Rafaela Mandelli, que vive a protagonista Karin. A trama da quarta temporada vai seguir o lançamento de um polêmico livro escrito por ela, que promete expor o mundo oculto da prostituição de luxo. Com isso, as quatro vão precisar revelar a verdade para a família sobre como ganham a vida. Logo no primeiro episódio, a série brinca com a hipocrisia dos pais com a notícia. “Essa temporada traz uma dualidade entre o padrão público da sociedade atingindo o pessoal”, acredita Juliana Schalch, a Luna, que elabora uma pegadinha moral para o pai.
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“Esse é o próximo passo, é o que faltava. Elas estavam na sombra da sociedade”, explica Michel. “Todo o preconceito com a profissão desperta algo em Karin e ela tem a ideia de expor tudo.” Segundo o diretor, a grande questão das personagens é que elas escolheram ser prostitutas, não foi uma necessidade. “Quisemos tratar o tema por um prisma diferente. Elas não precisam se prostituir para sobreviver, para comprar arroz e feijão. Fazem porque querem.”
O fato de pôr as famílias em destaque não deixa de ser, também, um modo de se aprofundar nas histórias. “O bom de fazer uma série longa é ter a possibilidade de mostrar esse tipo de coisa”, diz Rafaela. “Os pais dizem muito sobre quem elas são e como elas se relacionam com os outros”, opina Michelle. “Como estamos na quarta temporada, a maneira de evoluir na história é se aprofundar nos personagens. Mas parte do negócio ainda é uma espinha dorsal bem forte”, esclarece Michel.
Para Rafaela, a longevidade da série é um ponto positivo para a atuação. “A cada temporada a gente pode parar e analisar o que estamos fazendo.”