Herói miolo-mole 'The Tick' ganha mais uma chance na TV

Série de TV ‘The Tick’ revive personagem cult dos quadrinhos e de animação dos anos 1990 e estreia na sexta, 25

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Por Pedro Antunes
Atualização:

É proporcionalmente invertido: tão grande é o corpanzil de The Tick, menor é o seu cérebro. Há algo na inocência do personagem criado pelo cartunista Ben Edlund, ainda em 1986, que o mantém divertido até hoje, pouco mais de 30 anos depois. Sua graça se mantém no espírito heroico quase descabido, nas suas ações impensadas e no estrago que ele deixa para trás, sem sequer perceber, em sua esvaziada busca contra o crime. 

Cena da série The Tick, da Amazon Prime Video Foto: DAVID GIESBRECHT

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The Tick, nome que pode ser traduzido como O Carrapato, teve outras chances na TV. As HQs foram adaptadas, primeiramente, como animação da Fox que foi ao ar nos Estados Unidos entre 1994 a 1997. A liberdade estética da produção fez bem à insanidade das narrativas de Edlund. Visionário, ele praticamente previu o que os heróis se tornariam para a cultura pop décadas depois – hoje, os filmes dos encapuzados são os maiores blockbusters de Hollywood e não dão sinais de enfraquecimento. 

A adaptação live action (com atores reais) tentada pela emissora em 2000 não fez tanto sucesso, contudo. Com Patrick Warburton na pele do carrapato azulado, a produção só teve 9 de seus episódios exibidos. O ator chegou a acusar, na ocasião, a falta de empenho da Fox em divulgar aquela versão de The Tick porque a Fox não tinha controle total da série, como era o caso de 24 Horas entre outras produções. 

Pois a Amazon Prime Video, concorrente direta da Netflix no crescente mercado de televisão sob demanda, também conhecido como streaming, decidiu dar mais uma chance para o azulão. Um novo The Tick, renovado e com mais camadas a serem exploradas, chega à plataforma nesta sexta-feira, 25. 

Desta vez, o uniforme azulado é usado por Peter Serafinowicz (conhecido pelo seu papel no filme Guardiões da Galáxia). O foco não é nele – e esse pode ser o acerto ou o erro da série ao longo da temporada. O seu sidekick, o jovem medroso Arthur, é a grande estrela – ao menos nos episódios liberados para que o Estado pudesse realizar essa reportagem. 

Cena da série animadaThe Tick, que foi ao ar nos anos 1990 Foto: Fox

O que é interessante, afinal, The Tick é unilateral. Não há profundidade em um sujeito que não guarda absoluta memória dos tempos antes de vestir o uniforme azul, é indestrutível e possui uma força descomunal. Talvez somente sua ingenuidade garanta algumas risadas, mas nada passa disso. 

Arthur (conhecido nas outras produções por usar um uniforme de coelho), por sua vez, é muito mais vulnerável. Interpretado por Griffin Newman (da série da HBO Vinyl), o personagem é o foco inicial porque sua vida é afetada diretamente pela presença de um poderoso vilão chamado Terror, vivido por um quase irreconhecível Jackie Earle Haley (de Watchmen). O pai de Arthur morre com a aterrissagem da espaçonave de Terror e faz com que o jovem cresça com a ideia fixa de capturar o personagem de Earle Haley. O ator de Watchmen é o inimigo a ser derrotado na primeira temporada. “Acho interessante sermos colocados na história do The Tick a partir do ponto de vista do Arthur”, avalia Earle Haley. “Toda a ideia dos flashbacks nos leva a entender o passado dessa sociedade já acostumada com a presença de heróis e vilões.”

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Com rodagem em filmes de heróis – seu Rorschach no longa dirigido por Zack Snyder é memorável – ele vê o timing certo para a chegada de The Tick às telas. “É a hora para que a gente possa brincar com esses estereótipos que já estão bastante estabelecidos”, ele diz. 

Há um paralelo interessante aqui: Watchman e The Tick são contemporâneos, as duas HQs foram lançadas em 1986. Ambas questionavam a cultura dos heróis na sociedade da época. A história Alan Moore e Dave Gibbons desafiava o papel dos encapuzados e a importância deles – poderiam eles matar milhares para salvar a vida de milhões e dizerem se tratar de um ato de heroísmo? The Tick, por sua vez, é o herói absoluto na essência. Movido pela eterna luta entre o bem e o mal, ele deixa o caos por onde passa. Num mundo no qual atos heroicos são tão banais, ele é só mais um. E, em ambos os casos, a sociedade estaria melhor sem eles. 

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