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Ficção nacional ‘3%’ embarca na discussão sobre futuros distópicos

‘Minha geração falhou com a revolução’, disse Cesar Charlone, em entrevista ao Estado

Por Pedro Antunes
Atualização:

Cesar Charlone enxergou na trama de 3%, situada em uma distopia futurista brasileira, mais do que uma fantasia bem imaginada. Ao ser convidado para exercer a função de diretor-geral da primeira série original da Netflix produzida no Brasil, percebeu uma semelhança entre a trajetória do grupo de jovens que protagoniza a série e os desafios pelos quais os próprios filhos precisam passar ao ingressar na vida adulta. 

“É, de alguma forma, um rito de passagem”, ele avalia. Nessa metáfora, o que os personagens de 3% passam na tentativa de deixarem o caos onde vivem para serem selecionados a ingressar em um lugar utópico chamado Mar Alto, é o mesmo que filhos passam ao deixar de viver sob os cuidados dos pais. “Os jovens, hoje, precisam se provar. Eles competem com os outros nas vagas por vestibulares, surgem questões éticas. É o início de uma jornada por um mundo muito novo.”  Uruguaio e indicado para o Oscar pela fotografia do filme Cidade de Deus, o diretor ingressou no projeto da Netflix de criar uma ficção científica brasileira e distribuída para 190 países em 2014. Ele divide as funções de direção com Daina Giannecchini, Dani Libardi e Jotagá Crema, ao longo dos oito episódios que estarão disponíveis no serviço de TV por streaming a partir de 25 de novembro. 

Cena da série '3%' 

“Estou encantado com esse novo mundo, com essa nova forma de consumir o que é produzido para a televisão”, diz o diretor, cuja carreira inclui mais produções cinematográficas, como Ensaio Sobre a Cegueira e O Jardineiro Fiel, do que televisiva. “É o que eu chamo agora de volta do livro. Assistir à TV hoje é a experiência que temos ao ler um livro. Leio o quanto eu quero, marco onde parei e volto quando quiser. É o mesmo com a televisão.”

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ENTREVISTA: Cesar Charlone, diretor geral de 3%: 

A cultura pop tem sido inundada por futuros distópicos, cenários pós-apocalípticos e questões pessimistas quanto ao futuro da humanidade. 3% também flerta com essa temática, certo, mas não é só isso, certo? 

O que me convenceu a fazer essa série, além de ser a primeira produção sul-americana da Netflix, é o desafio pelo qual esses jovens personagens passam. Como pai de pós-adolescentes, vejo que eles passam por uma situação muito parecida na vida real também. A série fala sobre os desafios pelos quais esses jovens passam, as rivalidades, intrigas e tramas que se passam durante esse processo de seleção. 

Esse apreço pelo futuro caótico é um reflexo do tempo que estamos vivendo hoje? Acho que sim, sem dúvida. A existência de gente como o Donald Trump é um exemplo disso. Tudo isso gira em torno de um discurso da não política. É um desgaste de ideologias. A minha geração queria fazer a revolução e falhou. Essa geração mais jovem está tentando algo novo, buscando novos projetos. 

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Há um pessimismo no ar? 

Agimos por instinto. Se eu ameaçar estapear alguém, essa pessoa fechará os olhos, é instinto. E otimismo também é um instinto. Pessimismo é uma deturpação. O otimismo quer um mundo melhor.

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