Discovery faz 20 anos no País com foco 'ao vivo'

Grupo busca dinâmica de TV aberta e lança nova plataforma

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Por Cristina Padiglione
Atualização:

TV fechada disposta a adotar dinâmica de TV aberta, que segmenta seu público entre 11 canais distintos e ao mesmo tempo abraça a massa formada por eles, a companhia Discovery está completando 20 anos de Brasil. Colhe, e não é de agora, os frutos de quem investiu nesse terreno mesmo antes de ele mostrar qualquer valor de mercado, quando nem em sonho se falava em "nova classe C", público que hoje só traz alegrias ao segmento de TV por assinatura. Em entrevista ao Estado na sede do grupo em São Paulo, na última semana, o vice-presidente executivo do grupo no Brasil, Fernando Medin, antecipou em primeira mão que a marca lançará, entre este ano e o início do próximo, sua própria plataforma de TV everywhere, que leva ao assinante toda a sua programação via streaming (web), onde quer que ele esteja. Peppa, a atual recordista de audiência do Discovery Kids, por exemplo, poderá ser "carregada" para fora de casa, dependendo apenas de um sinal de banda larga. Líder no segmento pré-escolar, com vaga certa no topo das emissoras mais vistas no Brasil, o Discovery Kids é o canal pago mais distribuído da TV por assinatura brasileira - dos quase 18,5 milhões de assinantes, alcança mais de 16 milhões. Foi lá que nasceu o Peixonauta, cuja produção antecede as leis de fomento de audiovisual e a Lei da TV paga, que deu novo impulso ao ramo. "A gente, de alguma forma, desbravou o mercado de animação, com a TV PinGuim, ainda em 2006. Fomos os primeiros a fazer animação aqui", orgulha-se Medin. Aliás, em 12 de outubro, Dia da Criança, o canal lança uma nova animação brasileira da mesma TV PinGuim, produtora do Peixonauta. É o Show da Luna, série com 26 episódios em que uma menina brinca de cientista e desvenda enigmas de seu dia-a-dia. "Ela é instigada pela curiosidade, e não me canso de falar que esse é o fator que move todos os nossos canais: a curiosidade." O ingrediente pauta não só do Kids, mas também o próprio Discovery (não mais chamado de “Channel"), o Discovery Home & Health, sucesso entre as mulheres, Animal Planet, o canal família, o TLC, de estilo de vida, ID (Investigação Discovery), Discovery Turbo - alvo de grande aposta no momento -, Discovery Science, Discovery Civilization, TLC HD e Discovery HD Theater. Argentino naturalizado brasileiro, Medin entende do cardápio que comanda. Antes de desembarcar aqui, em 2006, quando o grupo passou a investir mais no Brasil, foi vice-presidente jurídico da marca para toda a América Latina. Sabe que o gosto do brasileiro se aproxima muito mais do gosto argentino do que do mexicano, mais parecido com o do colombiano. Mas, se há um elemento que tem emplacado bem na preferência nacional, conta, é o de cenas com predadores.

"Hoje tem uma coisa com animais predadores, programação de predação, que não é consistente em outros lugares do mundo, mas é o momento específico daqui. Isso é novo. O resto das temáticas factuais é bastante consistente, universal. Tem temáticas que que viajam muito bem e esse é o grande segredo do Discovery: permitir-se produzir com uma qualidade que tem um custo muito alto porque a atratividade vai estar em vários países do mundo." Entretanto, nem sempre o que atrai os EUA vai bem no resto do mundo, avisa. Daí os investimentos em produção local, sem perder o foco global. Só para este ano, a estimativa de investimento do grupo na produção de conteúdo chega a US$ 1,5 bilhão. “O Discovery quer ser dono do conteúdo que exibe, não quer alugar conteúdo." Dessa proposta faz parte a produção da versão nacional da série Desafio em Dose Dupla, com o militar Leite e o indianista Léo. De estilos e naturezas paradoxais, os dois têm de se entender para enfrentar as agruras de lugares inóspitos, como selvas e desertos. Como o formato é internacional, não recebe verba de incentivo da Ancine nem contabiliza horas para as cotas nacionais exigidas por lei, mesmo sendo produzido por uma empresa brasileira, a Mixer. Sucesso em sua 1ª edição, o programa terá uma segunda safra no ar a partir de agosto. O Brasil também tem uma preferência por programas que abordem empreendedorismo, cita Medin, ao falar sobre o crescimento do TLC em 233% só no primeiro trimestre deste ano. "Brasileiro gosta muito se ser seu próprio patrão". Outro alvo que agrada aqui é engenharia, área que norteou a recente série sobre a construção dos estádios da Copa no Brasil. Com DNA forte no campo factual, a matriz dos canais Discovery continua a apostar em documentários ou docudramas em formato muito particular, quase uma identidade da marca. Casos como o naufrágio do Costa Concórdia na Itália, em 2012, continuam mobilizando as atenções do grupo ao redor do mundo, mas o investimento nesse terreno agora pede mais que isso e chega ao que Medin nos apresenta como a tendência do "watching with the world". Ou, no bom verbo local, a TV ao vivo, aquela que se mobiliza por acontecimentos que todos querem acompanhar ao mesmo tempo. "A Copa do Mundo é um evento desse gênero", explica. Não que a Discovery tenha pretensões no terreno esportivo, mas quando alguém se dispuser a saltar do topo do Everest, o canal quer estar lá, ao vivo. Custa caro, demanda logística gigantesca, diz o VP, mas vale a pena. A regra vale para episódios como o do acrobata americano Nik Wallenda, que atravessou o Grand Canyon em 2013 na corda bamba, com transmissão ao vivo exclusiva do Discovery. Ainda neste ano, o canal pretende repetir a operação quando Nik fizer a planejada travessia entre dois arranha-céus de Chicago. A transmissão valerá para mais de 220 países. Atualmente, o canal chega à soma, nada modesta, de 441 milhões de domicílios no mundo todo.

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