Cópia de 'Sex and the City’, 'An African City' fala sobre cinco jovens em busca do amor em Acra

A criticada série feita em Gana copia o sucesso americano, mas também possibilita a quebra de vários tabus

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Por Jada F. Smith
Atualização:

Vamos esclarecer logo: An African City, a série picante para a internet feita em Gana sobre cinco jovens em busca do amor em Acra, é uma cópia descarada de Sex and the City. Também tem as onipresentes sandálias de salto com tiras, os vestidos de roubar a cena e o bando de homens que sobem e descem das camas de Nana Yaa, Makena, Zainab e Sade. As mulheres são tão livres e liberais quanto as antecessoras norte-americanas da HBO, com exceção da quinta personagem, Ngozi, que tem tudo a ver com Charlotte.

Trunfos. Esosa E, Nana Mensah, MaameYaa Boafo, Marie Humbert e Maame Adjei Foto: EMMANUEL BOBBIE/AN AFRICAN CITY LIMITED/DIVULGAÇÃO

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As mulheres se encaixam perfeitamente no padrão Carrie e/ou Miranda. Nana Yaa, a protagonista, é uma radiojornalista que propõe questões existenciais sobre namoro, encontros e desencontros, em off, ao longo dos episódios. Zainab e Makena são semelhantes a Miranda, ambas extremamente independentes, profissionais e discretas. Ngozi é a garota religiosa que trabalha em uma ONG e faz careta à menção frequente sobre a anatomia masculina. E Sade é Samantha, cujas bolsas de grife, presentes do namorado rico – e casado –, estão sempre lotadas de camisinhas. Porém, a criadora da série, Nicole Amarteifio, que saiu de Gana para morar em Nova York e voltou para casa, está também apresentando um lado ainda não visto da cultura de um continente que, geralmente, é retratado apenas por imagens de guerra, fome e miséria. Aqui não tem nada disso, afinal An African City mostra a vida de mulheres africanas bem-sucedidas. Makena estudou em Oxford e Sade em Harvard. Zainab governa um império construído sobre a manteiga de karité e o pai de Nana Yaa é o ministro da Energia do país. A série explora o que significa ser uma jovem ocidentalizada tendo que se reajustar à cultura e ao ambiente de seu continente natal.

Todas são filhas de famílias que saíram de Gana para morar no Ocidente e voltaram com a ‘síndrome do retorno salvador’.

A série recebeu críticas merecidas pela distância que mantém do lado de Gana, que não tem nem placa de rua, quanto mais motoristas particulares. Alguns dos maiores problemas das moças são reclamações comuns de gente rica, como “Sua empregada anda roubando seus sutiãs?”. Esse é o “1% ganês”, mostrando um estilo de vida com que poucos no continente se identificam. Como o original, Sex and the City.

Entretanto, a série fascina por causa da habilidade em transformar as mesmas conversas que acontecem entre outras mulheres ao redor do mundo, durante uma ou várias rodadas de coquetéis, em roteiros que criticam explicitamente as culturas do Ocidente e da África.

Em entrevista, Nicole explicou que grande parte de seu público fora do continente africano é nos EUA, seguidos de Reino Unido, França e Canadá – e embora os temas sejam universais, ela aposta que a maioria dos telespectadores seja de membros da diáspora africana.

Revelou também que muitas negras de Houston lhe agradecem por mostrar mulheres com cabelo ao natural e roupas tradicionais deslumbrantes – e se surpreendeu ao ouvir as mais velhas sugerindo que continuasse quebrando tabus. “Sem dúvida, é a geração da minha mãe que elogia e me incentiva a continuar inovando, me arriscando.”

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Segundo Nicole, An African City, cuja terceira temporada já está sendo preparada, surgiu ao final de uma relação. Magoada, assistiu à caixa inteira de DVDs de Sex and the City e passou a escrever o próprio seriado. “Tudo me pareceu muito familiar. Retratava mulheres que conheço em Acra, mas poderiam ser de Kigali, Nairóbi, Lagos ou na Monróvia”, acrescenta

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