Agora como série, ‘Sob Pressão’ expõe o horror dos plantões médicos e da saúde pública

Série que adapta o longa de Andrucha Waddington começa na terça da próxima semana, dia 18, no Globoplay e, no dia 25, outra terça, na Globo

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Começa com urgência. Sob pressão. Dr. Evandro/Júlio Andrade desafia códigos de ética profissional e realiza uma cirurgia de emergência na própria mulher, que sofreu um acidente de carro. Ops! Não começa assim, não. Esse é o início da série adaptada do longa de Andrucha Waddington, que começa na terça da próxima semana, dia 18, no Globoplay e, no dia 25, outra terça, na Globo. Sob Pressão, o filme, propriamente dito, começa diferente. Dr. Evandro, sempre ele, aproveita uma pausa para um cigarro, mas chega uma ambulância, a bituca é jogada fora e começa a corrida para salvar vidas.

Cena do filme 'Sob Pressão', com Julio Andrade (à esquerda) Foto: Paprica Fotografia

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“Ninguém morre no meu plantão”, é o mantra de Dr. Evandro. Esqueça Dr. Kildare, Dr. Ben Casey e qualquer outro plantão médico celebrado em ‘enlatados’, como se dizia antigamente, da TV norte-americana. Sob Pressão, o filme, e a partir da semana que vem, a série, é uma proposta brasileira para enriquecer a ficção médica e hospital no audiovisual. A Globo prepara uma série de ações para promover sua nova série, e o começo de tudo é o filme, que passa hoje, 10, na Tela Quente. Dr. Evandro, Dra. Carolina, Dr. Décio, Samuel – o diretor do hospital. Durante nove semanas, e sempre às terças, você vai conviver com esses personagens e com os dramas que eles enfrentam.

“Não conheço nenhuma outra série médica com a pegada realista dessa que estamos fazendo aqui no Brasil”, reflete Andrucha Waddington. Diretor do filme que você vai ver hoje, ele também é o diretor-geral da série. Divide a realização dos nove episódios com Mini Kerti. Alguns, dirigiu sozinho. Outros, ela dirigiu, mas na maioria deles os dois alternaram cenas, no mesmo episódio. Na quinta-feira, 6, quando conversou com o repórter, Andrucha já tinha seis episódios prontos. Espera finalizar os três restantes antes da estreia na TV aberta, e aí volta para a montagem do terror O Juízo, que abandonou por causa da série. Andrucha viaja no cinema de gênero? “Cara, eu gosto, mas não é o mais importante para mim. Não penso ‘Vou fazer, ou estou fazendo um filme de gênero.’ O que me atrai é sempre a história. Sou, basicamente, um contador de histórias e, se isso me leva ao cinema de gênero, é para melhor servir as que estou contando.”

No caso de Sob Pressão – a série –, Andrucha diz: “Estamos fazendo um material formatado para a nossa realidade, feito a partir de muita pesquisa de campo. Jorge Furtado e todos os que escrevem o roteiro com ele (os escritores Antônio Prata, Lucas Paraizo e Márcio Alemão) foram fundo na investigação do sistema público de saúde do Rio, e também tiveram muitos encontros e debates com o médico Márcio Maranhão, consultor nas gravações e autor do livro em que se basearam filme e série”. Uma diferença fundamental é que no filme que você poderá ver hoje a ação se passa num único dia, registrando a rotina do hospital. “Na série, não apenas multiplicamos os dramas dos pacientes como aprofundamos os protagonistas. Dr. Evandro e Dra. Carolina vivem um amor inesperado. Cada um deles luta com fantasmas do próprio passado. De cara, no primeiro episódio (da série), você já descobre o fantasma de Evandro.”

Andrucha esclarece que o objetivo da série não é a denúncia da falência do sistema público de saúde. “Isso está todo mundo cansado de saber, é tema diário de reportagens em jornais e TVs, para não falar nas redes sociais. O legal da série é que faz um retrato da realidade e convida o público a participar do debate.” Lembram daquele outro cirurgião – MacGyver? “O bacana de Dr. Evandro é que tem aquela pegada. No desespero, é o cara que compra a parada e faz o milagre.” No primeiro episódio – aguarde só mais uns dias –, Dra. Caroline desdobra-se para salvar garoto que engoliu uma bala, e o irmão dele termina por confessar que a tal bala era uma embalagem de cocaína. Sem dreno, Dr. Evandro improvisa um com uma mangueira de jardim.

Do filme que você vai ver hoje para a série vão sumir algumas presenças importantes. Permanecem outras – Dr. Samuel, grande Stepan Nercessian. Andrea Beltrão deixa de ser a administradora do hospital, “e eu gosto de pensar que, como na vida, ela foi administrar outras crises, em outro hospital”, diz Andrucha. Ícaro Silva, que faz o Dr. Paulo e foi o primeiro namorado da Dra. Carolina, também não está mais no hospital. “Foi uma questão de agenda dele, mas isso nos levou a criar esse romance da Carolina com o Evandro.” E ainda é preciso elogiar Júlio Andrade? Ator ‘camaleônico’ e visceral, ele talvez seja o maior de sua geração, sem detrimento de nenhum outro. E Marjorie Estiano, que faz Carolina? “A Marjorie é maravilhosa. É intensa nas cenas mais fortes e olhe que coisa emocionante quando ela canta aquele samba.”

Casado com atriz (Fernanda Torres), genro de um mito da representação no País (Fernanda Montenegro), Andrucha tem esse profundo respeito pelo ator. Além do elenco fixo de médicos, a série traz muitos atores convidados, porque cada episódio conta de umas quatro histórias (de casos médicos) que se resolvem no próprio episódio. Andrucha está adorando o que chama de ‘thriller hospitalar’. Gravado no Hospital Nossa Senhora das Dores – um hospital de verdade que estava operando com 20% de sua capacidade e foi perfeito para abrigar a produção –, a série deve muito de sua eficácia (o primeiro episódio é impactante) à locação. É tudo muito verdadeiro. “O Jorge (Furtado) tem uma frase muito boa quando se refere aos pacientes. Diz que a gente nem precisa apresentar o personagem porque ele já vem com o drama pronto.” É esse Brasil real que Sob Pressão põe na tela.

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Ninguém morre no plantão do Dr. Evandro

Elogiado pela crítica, Sob Pressão, o filme, teve um lançamento pequeno, o que o próprio diretor Andrucha Waddington usa como justificativa para o público que teve. Foram 50 mil espectadores. Nesta segunda, 10, Sob Pressão passa na Tela Quente e o público será multiplicado para atingir alguns (quantos?) milhões de espectadores.

Na terça da próxima semana, 18, estreia na Globo Play o primeiro episódio da série também intitulada Sob Pressão (e baseada no filme). E, no dia 25, a série chegará à TV aberta.

A Globo aposta em Sob Pressão, a série, e promove uma programação especial para alavancar a atração. O dia a dia dos médicos nas emergências de hospitais brasileiros estarão em quadros do Fantástico, em reportagens do Como Será? e numa nova edição da plataforma REP – Repercutindo Ideias, que estará disponível nos perfis sociais da Globo nas redes sociais. Precedendo tudo isso, Sob Pressão, o filme, estará hoje na TV aberta. Tela Quente – quentíssima.

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Prepare-se para conhecer Dr. Evandro, Dra. Carolina, Dr. Samuel. Os dois primeiros integram a emergência do hospital de que o último é diretor. O filme mostra um dia de plantão médico. Como é viver sob pressão e na urgência de salvar vidas? Dr. Evandro, interpretado por Júlio Andrade, tem seu mantra – “Ninguém morre no meu plantão”. E por isso vive estressado, no limite. Não só ele. A polícia intervém, querendo saber por que Dr. Evandro está dando prioridade a um criminoso, em vez de operar o agente que recebeu um tiro? Quanto vale uma vida? Qual vida vale mais? A do garoto cujo pai pode pagar pela internação?

As cirurgias são as mais realistas possíveis – e talvez seja difícil acreditar que não sejam reais. Foram feitas em próteses. O realismo está no tom, no ritmo, na locação – na interpretação. Nessa corrida permanente contra a morte, a adrenalina explodindo, o sexo palpita. Vai rolar a história entre Dra. Carolina e Dr. Paulo? E o enfarte de Samuel? Júlio Andrade, Marjorie Estiano, Stepan Nercessian, Ícaro Silva. Esqueça os doutores de Hollywood. Nunca houve um plantão médico como o desse filme. Mas haverá, daqui a dias, o da série. 

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