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A garota de programa ‘Lúcia McCartney’ ganha nova versão em minissérie

Minissérie dirigida por José Henrique Fonseca vai ao ar a partir de 21 de novembro no canal GNT

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Há mais de 40 anos, Rubem Fonseca escreveu o roteiro de Lúcia McCartney, que Davi Neves realizou em 1971, a partir de seu conto homônimo, publicado dois anos antes. “Dessa vez, o roteiro é meu, com Gustavo Bragança, que já foi parceiro em Mandrake e em Romance Policial – Espinosa. O Rubem só leu, e gostou”, diz o diretor José Rubem Fonseca, filho do escritor, é bom lembrar. Lúcia está voltando, e com nova cara, em novo formato. Há 45 anos, a loira Adriana Prieto, que já fora protagonista de Davi Neves em Memória de Helena, foi a prostituta que se envolve com o cliente mais velho. Agora, quem faz o papel é a morena Antônia Morais, e ela mudou muito desde Linda Demais. Antônia está ali, o repórter já vai falar com ela (leia abaixo).

Todas essas conversas ocorrem no set de Lúcia McCartney, a nova minissérie do GNT. A convite da produção, o repórter visitou a locação, uma noturna na Rua Almirante Alexandrino, no Cosme Velho. O local fica no alto do morro. De lá se descortina uma vista espetacular do Rio de Janeiro. Mas essa vista não é o que interessa ao diretor nem à sua equipe. Talvez só o repórter esteja ligado nela. Aliás, Zé Henrique não dirige sozinho e, no local, olhar atento para os detalhes, está a codiretora Izabel Jaguaribe. O set abriga a festa de dez anos da gravadora do personagem de Du Moscovis, justamente o cliente por quem se apaixona a garota de programa.

Antônia Morais e Eduardo Moscovis protagonizam 'Lúcia McCartney' Foto: Juliana Coutinho/Divulgação

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José Henrique já havia lido o conto de seu pai, de ‘Rubem’, como fala. “É um conto muito importante para a literatura brasileira. Quebrou uma série de paradigmas.” Ao reler o conto, já pensando na adaptação, ele fez uma descoberta – “Não me lembrava, especificamente, da riqueza da escrita. Rubem trabalha muito com elipses e eu fui viajando nelas, pensando que seria muito cinematográfico transformar em imagem e som essa narrativa inquietante. Lúcia McCartney está nascendo com o objetivo de ser fiel ao espírito do conto.”

A minissérie vai ao ar a partir de 21 de novembro. Serão oito capítulos, durante duas semanas, de terça a sexta. O conto é breve. Para alimentar sua ficção, Zé e Gustavo Bragança tomaram liberdades, acrescentaram coisas. O conceito, no entanto, era fidelidade. E nesse momento, nessa noturna no alto do morro, o repórter tem a impressão de ter viajado no carro de ‘Doc’, o cientista maluco interpretado por Christopher Lloyd em De Volta para o Futuro, indo parar em algum lugar do passado. Com Lúcia, os anos 1960/70 estão de volta. Não apenas a trilha é de época, no set, como os dezenas de figurantes vestem figurino de época. As mulheres usam aqueles vestidos tubinho, minissaia, os cabelos muito armados. Os homens destacam-se pelas cores extravagantes.

As cenas filmadas são relativamente simples. Du Moscovis encontra no bar um desafeto que lhe mostra o revólver. Pode vir encrenca, mas o diálogo vai no rumo contrário, no sentido de desarmar os ânimos. O plano é repetido muitas vezes, até que o diretor e o fotógrafo Rodrigo Monte se deem por satisfeitos. Muda o plano, a luz, e agora é Lúcia quem chega à festa e conversa com o amante. É possível seguir a cena pelo monitor. Atores bons são outra coisa. Antônia e Du não dizem grande coisa. Falam com os olhos convidativos, de ambas as partes.

Entre uma filmagem e outra, a figurinista Marina Franco circula entre os figurantes, pedindo a um que levante a calça que está caída, a outra que acerte o laço no cabelo. O repórter comenta com ela o colorido exuberante – “A moda masculina libertou-se naquela época. Antes, os homens usavam aquelas cores neutras, tudo muito discreto. De repente, um terno colorido, um paletó amarelo, uma calça vermelha passaram a ser ‘in’. As cores não feriam a virilidade. Foi uma revolução comportamental como a do sexo, e a da pílula e da minissaia que marcaram toda a década de 1960.” E o fato de ela estar no set? “Gosto de acompanhar a filmagem. Nem sempre estou presente. A equipe inclui assistentes, estagiária, camareira. Mas num dia como esse, de muitos figurantes, é preciso.”

Du Moscovis já virou uma espécie de ‘Sr. GNT’. Estrela Questão de Família, que terá nova temporada, já apresentou a versão masculina do Saia Justa. “Eu já tinha trabalho que chegue, mas quando o Zé (Henrique) me propôs o papel não resisti.” Sobre a escolha de Antônia, diz o Zé – “Testei um monte de atrizes, mas nenhuma se comparou ao teste da Antônia, que foi impressionante. E ela queria fazer, não parava de me ligar.”

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‘Os amigos acham que estou exausta; estou é adorando'

Linda de morrer. Antônia Morais já havia contracenado com a mãe, Glória Pires, mas foi na comédia com esse título – muito bem-sucedida na bilheteria – que se fez notar no cinema. Vale recorrer ao título anterior para dar conta da transformação de Antônia, que o repórter encontrara no set da filmagem. Agora, em Lúcia McCartney, ela é outra – mais focada, exuberante, bela.

O diretor José Henrique Fonseca e a atriz Antônia Morais de 'Lúcia McCartney' Foto: Juliana Coutinho/Divulgação

Que conselho sua mãe lhe deu, agora que você está fazendo sua primeira protagonista? Tenho de confessar que não contei nada para ela nem para ninguém da família, nem para o meu namorado. Fiz o teste já me sentindo especial, pelo interesse que o Zé (o diretor José Henrique Fonseca) estava demonstrando por mim, e por meu trabalho. Me deram uma cena, preparei. Só depois fui ler o conto. E, também, só depois de escolhida contei a todo mundo. Ficaram superfelizes. É o meu jeito. Gosto de me concentrar, de fazer as coisas sozinha. Eu sempre preciso de um tempo comigo.

Não apenas é sua primeira protagonista, como é um papel intenso. Você viu o filme de Davi Neves com Adriana Prieto? Não vi, até porque o Zé não queria que eu me influenciasse. Queria que eu criasse a minha Lúcia. E ela é intensa, sim. No conto, Lúcia não tem outra vida que não a que está no conto, e ele é bem breve. Resolvi que ela tinha de ter uma vida. Criei um diário com o que seria a vida dela. Me ajudou muito, mas fiz pra mim. Não mostrei a ninguém. Nem pro Zé.

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Você me desculpe dizer, mas tem essa cara de boa menina. E a Lúcia é prostituta. Imagino que tenha cenas fortes. Como você as encarou? Com naturalidade. Desde o início, quando fui fazer o teste, sabia que haveria essas cenas. Mas eu sou uma artista, não posso me criar esse tipo de problema. Se é preciso para a construção da personagem, se tem justificativa dramática e está no contexto, tudo o mais fica no segundo plano. Claro que sempre tem um constrangimento. O Du (o ator Eduardo Moscovis) diz que cenas de sexo são muito chatas. A gente ali, todo mundo olhando. Mas foram supertranquilas.

Quem é a Lúcia para você? Para mim, ela é uma garota que tem um sonho. Temos em comum essa coisa dos Beatles, ela ser ligadona em Paul McCartney. Ela sonha ser cantora, quer gravar um disco. A vida a leva para outros caminhos. Inclusive, eu canto na minissérie.

Justamente, a sua carreira musical. Como anda? Tenho trabalhado muito. Os amigos me dizem – ‘Você deve estar exausta.’ Estou é adorando. Mas, ao mesmo tempo, estou louca para terminar isso aqui porque mergulhar na Lúcia me deu uma série de ideias que quero transformar em música. Vou parar um pouco, me isolar, como gosto de fazer, e botar para fora todas essas ideias, toda essa poesia acumulada

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